O globo, n. 31043, 04/08/2018. Economia, p. 17

 

MAIOR EM 7 ANOS

Ramona Ordoñez

Bruno Rosa

04/08/2018

 

 

 Recorte capturado

Petrobras lucra R$ 10 bi com alta do petróleo

No trimestre em que a Petrobras enfrentou a greve dos caminhoneiros, mudou de presidente, coma saída de Pedro Parente, e sofreu compressões do governo para alterar sua política de preços, a estatal registrou o maior lucro líquido em sete anos, de R$ 10,1 bilhões entre abril e junho. O bom resultado foi puxado pelo aumento no preço do petróleo no mercado internacional e pelar edução doendi vidamento da companhia.

No semestre, o lucro acumulado foi de R$ 17 bilhões, alta de 257% ante janeiro a junho de 2017, que também representa o melhor desempenho desde 2011.

Além da alta do petróleo — o Brent passou de US$ 50 no fim do primeiro semestre do ano passado para US$ 74 —, a companhia reduziu despesas e viu seu endividamento líquido recuar 13% em relação ao patamar do fim do ano passado, para US $73,66 bilhões. Também ajudou arenegociação de dívidas da Eletrobr ascoma companhia.

O presidente da estatal, Ivan Monteiro, atribuiu o resultado à disciplina financeira:

— O resultado em si mostra uma trajetória consistente de recuperação. Podem esperar uma gestão com muita disciplina em relação a custos. Tem sido explorada a melhoria de produtividade da companhia, de modo a se tornar mais eficiente. De modo geral, a companhia se beneficia do aumento do preço do petróleo por ser uma grande produtora, mas isso não adianta se não estiver preparada para se beneficiar. E a forma para isso é reduzir custos.

MAIOR PROVISÃO

Com os resultados, a Petrobras decidiu pagar R$ 652 milhões aos acionistas em juros sobre capital próprio, o equivalente a R$ 0,05 por ação, no próximo dia 23.

Apesar da recuperação, os desafios ainda são grandes para a empresa. A expectativa é que ela consiga receber mais US$ 2 bilhões este ano com a venda de ativos. Segundo Monteiro, embora o Supremo Tribunal Federal (STF) tenha impedido a busca de parceiros na área de refino, a companhia vai manter a meta de levantar esteanoUS$ 21bilhõescom venda de ativos.

A empresa ainda aumentou em 7% o volume de provisões relativas a processos judiciais, para R$ 206,548 bilhões. No caso das ações movidas pelo Sindipetro em algunsestados, comoRio, Espírito Santo e São Paulo, as provisões passaram de R$ 14,9 bilhões no fim do ano passado, paraR$ 21,6bilhões em junho. Na última quinta, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, negou o pedido de um funcionário da Petrobras para rever a decisão que liberou a empresa de pagar R$ 17 bilhões num processo que reivindica mudança no cálculo da base salarial.

A receita de vendas somou R$ 158,8 bilhões no primeiro semestre deste ano, 17% maior que os R$ 135,3 bilhões no primeiro semestre do ano passado. Já os investimentos caíram 8% no semestre, para R$ 21,2 bilhões. Para este ano, a meta é que os investimentos somem US$ 15 bilhões, patamar menor que os US$ 17 bilhões anunciados pela estatal noinício de2018.

As vendas gerais da Petrobras caíram 7% no semestre, para 3,1 milhões de barris por dia, em relação ao mesmo período do ano passado. A produção total da companhia caiu 4% no semestre, para 2,6 milhões de barris por dia.

Solange Guedes, diretora de Exploração, destacou os resultados operacionais da companhia. Ela informou que a produção vai chegara 2,7 milhões de barris de óleo equivalente no quarto trimestre deste ano.

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Fatura de meio bilhão a receber

04/08/2018

 

 

A Petrobras tem uma fatura a receber da Agência Nacional do Petróleo (ANP) de R$ 590 milhões referente ao subsídio ao diesel. A medida foi a solução do governo para pôr fim à greve dos caminhoneiros, em maio. Nos resultados da companhia, o montante consta como “contas a receber”. — Entendemos a demora para receber os recursos. É um volume muito grande de documentos. Só da Petrobras são 20 mil notas fiscais — disse Rafael Grisolia, diretor financeiro da estatal. A paralisação afetou o lucro bruto de distribuição, que recuou 13%, para R$ 1,373 bilhão, em relação ao primeiro trimestre. Segundo a empresa, foi resultado “da redução das margens de comercialização em função, principalmente, das perdas de estoques apuradas pelo decréscimo no preço do diesel, decorrente da greve dos caminhoneiros”. Amentou o aproveitamento das refinarias, chamado fator de uso, passando de 71% em janeiro a 81% em junho.

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Após polêmica, estatal terá de informar parada de plataforma

Martha Beck

Manoel Ventura

04/08/2018

 

 

Moreira pediu que manutenção fosse suspensa, mas não foi atendido

A paralisação programada numa plataforma da Petrobras expôs uma queda de braço no governo. De um lado, o Ministério de Minas e Energia, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e a Agência Nacional de Energia Elétrica( Aneel)seun iram durante reunião do Conselho de Monitoramento do Setor Elétrico(CMSE) para criticar aPetrobras, alegandoquenão foram diretamente informados sobre a paralisação da plataforma de Mexilhão, na Bacia de Santos.

A parada gera custo estimado em R$ 300 milhões, pois obriga o país a importar gás. Do outro lado, ficaram a estatal e o Operador Nacional do Sistema (ONS), que justificaram a estratégia da empresa. O pagamento da fatura ainda é discutido no governo. Uma possibilidade é que a despesa com importação seja repassada às contas de luz.

Segundo a área econômica, durante a reunião, os representantes da EPE e da Aneel afirmaram que ficaram sabendo da paralisação da plataforma de Mexilhão por meio da imprensa. Já a Petrobras e o ONS argumentaram que a empresa faz paralisações programadas com antecedência. Após o encontro do CMSE, ficou acertado que a Petrobras passará a informar formalmente qualquer paralisação de plataformas ou gasodutos.

Integrantes da área econômica afirmam que, por trás da briga em torno da paralisação, estaria um movimento do ministro de Minas e Energia, Moreira Franco, para enfraquecer o presidente da Petrobras, Ivan Monteiro, que só assumiu a empresa graças a um esforço direto do ministro da Fazenda, Eduardo Guardia. Moreira pediu publicamente — sem sucesso — que a Petrobras adiasse aparada.

Procurado, o Ministério de Minas e Energia informou que, na reunião, o CMSE “reiterou a importância do aviso com antecedência de eventuais paradas semelhantes à de Mexilhão para evitar impactos no setor elétrico”. ONS e EPE disseram que a resposta caberia ao ministério. A Aneel não comentou. A Petrobras informou que as ações tomadas estão dentro das regras contratuais e garantem o abastecimento de gás natural no Brasil e disseque o cronograma deparadas foi discutido junto ao ONS, deforma antecipada, buscando o mínimo impacto possível ao setor.