Correio braziliense, n. 20200, 10/09/2018. Política, p. 3

 

Atentado a Bolsonaro domina debate na TV

Paulo Silva Pinto

10/09/2018

 

 

São Paulo — O atentado a Jair Bolsonaro, candidato do PSL à Presidência, dominou parte de um debate ontem à noite com seis postulantes ao cargo. Foi primeiro confronto após o capitão reformado levar uma facada na quinta-feira, em Juiz de Fora (MG). A decisão inicial era deixar um púlpito vazio para ele, que já havia dito que não estaria presente antes da quinta-feira. Mas, com o ataque, isso foi suspenso “por respeito”, anunciou a apresentadora Ana Lydia Flândoli. O debate foi promovido pela TV Gazeta, jornal O Estado de S.Paulo e rádio Jovem Pan. Participaram Marina Silva (Rede), Geraldo Alckmin (PSDB), Henrique Meirelles (MDB), Guilherme Boulos (PSol), Álvaro Dias (Podemos) e Ciro Gomes (PDT).

Meirelles foi para cima de Alckmin na primeira pergunta, mencionando que seu programa de tevê trouxe duras críticas a Bolsonaro antes do ataque. O ex-governador paulista disse que a crítica do programa foi exatamente à pregação do ódio.E defendeu “a conciliação do país”.

Meirelles atacou Alckmin em outros momentos no debate, em claro esforço de polarização na disputa pelos votos de centro.

Logo ao chegar, em entrevista, Boulos minimizou o fato de o agressor de Bolsonaro ter sido filiado ao PSol. “Isso não tem nada a ver. Quem estabelece essa relação é quem quer disseminar o ódio”, disse. Durante o debate, ele afirmou que “não se pode confundir polarização política com violência”.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), preso em Curitiba, também foi assunto dos candidatos. Alckmin rejeitou a comparação entre as investigações sobre corrupção que envolvem seu partido e o PT. “Não tenho só ficha limpa. Tenho vida limpa.” Ele criticou Marina Silva por ter demorado a deixar o PT após o Mensalão, em 2006.

Propostas

A campanha de Alckmin retirou as peças que faziam menção direta a Bolsonaro, mas não abandonou a estratégia de desconstruí- lo. O próximo alvo será a falta de propostas do candidato do PSL.

Nas considerações finais dos candidatos, Bolsonaro voltou a ser mencionado direta ou indiretamente. “Entrei na política para oferecer a outra face. Para a do ódio, o amor”, disse Marina Silva. “Vi a violência perto desde a adolescência”, comentou. Ela mencionou também, como Boulos, o assassinato da vereadora Marielle Franco e os tiros sofridos pela caravana de Lula há meses como exemplos de violência política.

Ciro Gomes disse esperar que Bolsonaro “volte logo, são, à campanha”, ressalvando que não concorda em nada com ele. Do lado de fora, Bolsonaro também estava presente. Apoiadores do candidato do PSL fizeram uma manifestação de apoio a ele na avenida Paulista, em frente à TV Gazeta. Eles içaram um boneco inflável, que havia sido usado na sexta-feira em frente ao Hospital Albert Einstein, onde ele está internado.

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Quadro médico em evolução

10/09/2018

 

 

Boletim médico divulgado no início da noite de ontem pelo Hospital Albert Einstein informou que o quadro de saúde do candidato do PSL à Presidência da República, deputado Jair Bolsonaro, continuava em evolução, e a expectativa era que, “nos próximos dias”, sua função intestinal se normalize “e o paciente passe a ingerir alimentos por via oral”. O boletim acrescentou que a circulação do intestino para o fígado de Bolsonaro está preservada. “A paralisia intestinal decorrente do grande trauma mostra sinais de que está em regressão.”

Vítima de um ataque a faca na última quinta-feira, quando fazia campanha em Juiz de Fora (MG), Bolsonaro continua na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), sem previsão de alta. Atendido inicialmente na Santa Casa da cidade, o presidenciável foi transferido na sexta-feira para São Paulo. “Persistem os cuidados de fisioterapia, incluindo caminhadas e exercícios diários, sem apresentar dor”, disse o boletim.

Os médicos de Bolsonaro afirmaram que, nos exames laboratoriais, “ainda existe uma leve anemia, em decorrência do sangramento inicial, secundário ao trauma”. O candidato perdeu 2 litros de sangue após ser atacado.  Pela manhã, o Hospital Albert Einstein divulgou um primeiro boletim, com a informação de que Bolsonaro havia apresentado “nítida melhora clínica”.

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Segundo suspeito nega participação no ataque

10/09/2018

 

 

Um dos suspeitos do atentado contra o candidato à presidência da República pelo PSL, Jair Bolsonaro, negou a participação no atentado. De um leito no Hospital e Maternidade Therezinha de Jesus, em Juiz de Fora, recém-operado e com quatro pinos e uma placa no braço após deslocar a clavícula, Hugo Ricardo Bernardo, de 27 anos, afirmou não conhecer Adélio Bispo de Oliveira, que confessou o ataque da última quinta-feira.

Hugo foi preso após militantes do candidato à Presidência apontarem-no como um dos manifestantes que incitavam ataques a Bolsonaro. Lutador de muay thai, o pizzaiolo foi hospitalizado após entrar em confusão com apoiadores de Bolsonaro durante a passeata. Em uma das brigas nas quais Hugo se envolveu, foi registrada em vídeo pela reportagem.

De camisa vermelha, ele discute com simpatizantes do deputado próximo onde Bolsonaro chegaria de carro para começar a passeata. Ele pede para “tirarem a mão dele”.

Quando os simpatizantes começam a gritar a usual palavra “mito, mito”, ele canta “lixo, lixo”, no meio de eleitores de Bolsonaro.

Briga

À reportagem, Hugo disse que se envolveu na briga depois que viu pessoas que se diziam seguranças de Bolsonaro, vestidas de preto e uma fita amarela, agredindo uma mulher com a camisa do PT. “Eu vi os caras fazendo essa covardia, batendo muito nessa garota, e disse que era para eles virem para cima de mim.

Quando começou a confusão, os policiais chegaram e vieram para cima de mim.

”Hugo chegou a ser algemado e levado para depor, mas foi liberado na madrugada do dia 7. Ele foi intimado a depor novamente à Polícia Federal assim que tiver alta hospitalar. “Não conheço esse cara (Adélio) e nem pessoas que o conheçam. Só vi pela televisão a imagem dele, porque também estou sem celular. Acho que quem faz isso com um candidato a presidente (esfaqueamento) só pode ser louco, ter problemas de cabeça.” De acordo com fontes próximas à investigação, ainda não há indícios que liguem Hugo ao crime contra Bolsonaro. Contudo, ele segue sendo considerado suspeito.