O globo, n. 31042, 03/08/2018. País, p. 6

 

Com 1%, Meirelles é o nome do MDB e do governo

Letícia Fernandes

Karla Gamba

03/08/2018

 

 

Aprovado na convenção, ex-ministro terá de superar a impopularidade sua e da gestão Temer para convencer o eleitorado a manter no poder o partido, que não tinha candidato próprio desde Orestes Quércia, em 1994; parceiro de chapa está indefinido

Com 85% dos votos,o MDB oficializou ontem a candidatura à Presidência do ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles. O partido não lançava um nome próprio ao Palácio do Planalto há 24 anos, quando Orestes Quércia representou a legenda nas urnas em 1994. A convenção teve 419 votantes. Em busca de votos na legenda para viabilizar sua candidatura, Meirelles fez um giro pelos estados nos últimos meses para se reunir com dirigentes estaduais do MDB. O resultado foi uma votação de 357 votos a favor, 56 contrários e seis em branco.

A formalização da candidatura de Meirelles acabou ajudando, indiretamente, o presidenciável tucano Geraldo Alckmin. Apoiado por um consórcio de partidos que integram a base aliada do governo do presidente Michel Temer, o tucano fatalmente seria identificado como o herdeiro do governo mais impopular da história. Agora, o governo terá em Meirelles o seu candidato oficial, aliviando o desgaste sobre Alckmin, que seguirá com os partidos do centrão.

O ex-ministro da Fazenda terá o desafio de defender o governo Temer e ainda tentar convencer os eleitores a manter o MDB no comando do país. Além de conquistar o aval do partido, Meirelles anunciou ontem uma aliança com o PHS, que tem quatro deputados federais e oito segundos de tempo de TV no horário eleitoral. O PHS vinha negociando com o pré-candidato do PSDB, Geraldo Alckmin. Agora, ajudará a encorpar a campanha de Meirelles, que tem quase dois minutos de espaço na propaganda eleitoral.

A convenção de ontem terminou sem o anúncio do parceiro de chapa de Meirelles. A definição sobre o vice ficou para os próximos dias. O partido tenta encontrar uma mulher para compor a chapa por acreditar que um nome feminino agregaria força a Meirelles, que tem 1% das intenções de voto nas pesquisas.

Em seu discurso, Meirelles disse que tentará ser o “elo de reconstrução do espírito de confiança” no país. Ele fez críticas a adversários na disputa, se referindo indiretamente a Jair Bolsonaro (PSL) e a Ciro Gomes (PDT), candidatos que considera “extremistas”.

— Precisamos vencer as amarras da desconfiança que são alimentadas pelos candidatos extremistas. Ao invés de propor união, muitos criam barreiras que só aumentam a divisão dos brasileiros. Eu penso muito diferente, quero usar nossas diferenças para crescer, para incluir —disse Meirelles.

O candidato acrescentou que o país não precisa de um “messias” ou de um “salvador da pátria”:

— O Brasil precisa de um messias, que veste-se com uniforme de salvador da pátria? Não! E nem de um líder destemperado tratando o país como se fosse seu latifúndio.

TEMER EXALTA EX-MINISTRO

Após a confirmação do nome de Meirelles, o presidente Michel Temer afirmou que o ex-ministro da Fazenda tinha sido a figura principal de sua gestão e que ele faria um governo “extraordinário”:

— Se, em dois anos, conseguimos realizar tudo que fizemos, tendo você à frente da economia, imagina o que o Meirelles fará em quatro anos ou talvez em oito anos. Fará uma coisa extraordinária —disse Temer.

Sem citar nomes, Temer se referiu a outras candidaturas como “pigmeus políticos”.

— Eu vejo os candidatos, um ou outro, nem vou citar nomes, pobres coitados, uns pigmeus políticos. Nós não somos pigmeus, o MDB é partido de gigantes —afirmou.

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'Alguém quer ser vice?', brinca Jucá

Letícia Fernandes

Jailton de Carvalho

03/08/2018

 

 

Presidente nacional do PMDB, o senador Romero Jucá (RR) caminhava pelo amplo auditório onde acontecia a convenção do partido, em Brasília, fazendo brincadeiras com jornalistas, aliados e, principalmente, aliadas:

—Alguém quer ser vice do Meirelles? — perguntava, em tom de brincadeira.

A cúpula de campanha emedebista está focada em encontrar uma mulher do partido para ser vice de Meirelles. No afã de encontrar uma figura feminina para compor a chapa, o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, chegou a sondar uma vereadora do partido em Porto Alegre. Comandante Nádia, no entanto, declinou do convite.

Em meio à indefinição sobre o vice, um cacique do MDB ironizou, dizendo que o senador alagoano Renan Calheiros, um dos maiores críticos ao lançamento da candidatura de Meirelles, definida por ele como “ridícula”, poderia agregar votos ao ex-ministro da Fazenda:

— Que tal o Renan para vice? Ele agrega votos no Nordeste e é uma pessoa ponderada —afirmou, debochando do temperamento explosivo de Calheiros.

O tom de brincadeira chegou até na equipe mais próxima ao candidato do MDB.

O coordenador político da campanha, o ex-ministro João Henrique Sousa, admitiu que a legenda buscava um nome feminino:

—Se for filiada ao MDB e usar saias, estamos aceitando.

O próprio candidato admitiu que aceitaria de bom grado uma vice mulher, já que elas representam mais da metade do eleitorado. Meirelles afirmou, porém, que ter uma vi ce não é a única possibilidade em estudo.

Evidentemente que as mulheres são a maioria do eleitorado, mas não há essa definição desconversou.

Apesar de a convenção ter ocorrido sob clima de festa, a postura de Renan Calheiros antes do evento causou desconforto. O senador prometeu discursar contra o ex-ministro e chegou a dizer que o MDB, ao apoiar o nome de Meirelles, daria um “tiro no pé”.

A resistência a Meirelles era maior entre os convencionais do Nordeste, onde o governo Temer amarga os piores índices de desaprovação.