O globo, n. 31042, 03/08/2018. Economia, p. 20

 

Indústria tem alívio temporário em junho

Marcello Corrêa

03/08/2018

 

 

 Recorte capturado

Setor registra alta de 13,1%, compensando tombo de 11% em maio, reflexo da greve dos caminhoneiros. Analistas, no entanto, alertam que recuperação é lenta e que cenário eleitoral pode afetar resultado no 2º semestre. Projeções são de queda para julho

Os impactos diretos da greve dos caminhoneiros são coisa do passado para a maior parte da indústria brasileira, mas o alívio deve ser temporário. Segundo dados divulgados ontem pelo IBGE, a produção no setor registrou alta de 13,1% em junho, compensando o tombo de 11% em maio, reflexo da paralisação. Analistas, contudo, alertam que, apesar do resultado positivo — o crescimento foi o maior da série histórica, iniciada em 2002 —, o ritmo ainda é de recuperação lenta, com as incertezas de período eleitoral no radar. Para julho, as projeções já são de queda.

Na média, a indústria fechou o mês com ritmo de produção 0,7% acima do nível pré-greve. Dos 26 segmentos que compõem a pesquisa, 22 tiveram alta frente a maio. Além disso, 15 deles voltaram ao patamar de abril, antes da paralisação. Em relação a junho do ano passado, houve alta de 3,5%.

O principal destaque de junho foi a alta de 47,1% da fabricação de automóveis, recuperando o tombo de 30,1% em maio. O desempenho é o melhor desde janeiro de 2009, quando o segmento se recuperou das perdas durante a crise financeira global e disparou 54,9%. Além da normalização do abastecimento de peças com o fim da paralisação, os juros menores ajudam a explicar o resultado.

A indústria de bebidas também foi bem, com avanço de 33,6%. O destaque negativo ficou por conta da queda de 10,7% no segmento de equipamentos de transporte.

PERDA DE FÔLEGO

Considerando as chamadas grandes categorias econômicas, todas tiveram números recordes, inclusive a de bens de capital, importante indicador de investimentos.

André Macedo, gerente da coordenação de Indústria do IBGE, responsável pela pesquisa, destaca, no entanto, que o setor ainda está 13,7% abaixo do pico de produção, alcançadoemmaiode2011.Naavaliação de Rodrigo Nishida, economista da LCA Consultores, o efeito direto da greve nos níveis de produção pode ter sido superado, mas o impacto sobre a confiança não.

— Não é um sinal de que a partir de agora a indústria vai deslanchar. O efeito líquido da greve dos caminhoneiros ainda é negativo, tivemos uma perda de confiança que deve impactar nos próximos meses — destaca Nishida, que projeta crescimento de 3% para a indústria neste ano.

Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), observa que há uma perda de fôlego quando analisados dados de longo prazo. No segundo trimestre, em relação a igual período de 2017, a produção cresceu só 1,7%, umadesaceleraçãoemrelação aos índices anteriores: no primeiro trimestre, a alta havia sido de 3%. O ritmo preocupa, diz Cagnin, porque a economia deve passar por turbulências no segundo semestre:

— Teremos um evento eleitoral, que pode vir acompanhado de volatilidade do câmbio e impacto sobre a confiança. Teria sido importante um dinamismo mais forte.

Para julho, já há projeções de queda. O Itaú Unibanco prevê recuo de 1,5%, enquanto a LCA projeta retração de 1,3%, na comparação com junho.

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BR Distribuidora tem lucro de R$ 263 milhões

03/08/2018

 

 
Apesar da greve dos caminhoneiros, a BR Distribuidora registrou lucro líquido de R$ 263 milhões no segundo trimestre, um aumento de 275,7% na comparação com igual período de 2017, e de 0,5% em relação aos três primeiros meses do ano. A paralisação teve efeito sobre o volume de venda dos combustíveis, que caiu 4,2% no trimestre, levando-se em conta o resultado de abril, maio e junho do ano passado. No acumulado do primeiro semestre, a queda nas vendas foi de 3,2% na comparação anual. Apesar dessa retração nas vendas, o resultado do segundo trimestre foi significativo devido, principalmente, ao recebimento de R$ 304 milhões referentes às duas primeiras parcelas das dívidas das distribuidoras da Eletrobras e também aos bons resultados das vendas no setor de aviação.