O globo, n. 31041, 02/08/2018. País, p. 4
ISOLAMENTO E REAÇÃO
Catarina Alencastro
Sérgio Roxo
02/08/2018
PT afasta PSB de Ciro, que contra- ataca
— A burocracia do PT não está pensando no país. Virou religião. Agora o companheiro ( João Pedro) Stédile ( líder do MST) chamou seis companheiros para fazer greve de fome. Tem romaria. Na minha opinião, isso é caudilhismo do mais barato possível.
Apesar de dizer que considera “injusta” a sentença que condenou Lula, Ciro afirmou que “( Antonio) Palocci é réu confesso e comandou a economia por oito anos”.
O presidenciável do PDT disse ainda não saber o que fez para merecer essa “hostilidade” do PT:
— ApoieioLulatodososdias, sem faltar nenhum, ao longo de 16 anos.
MARÍLIA PROMETE RESISTIR
Ciro reconheceu que a perda do PSB é um “revés”, mas disse que não foi comunicado oficialmente da decisão.
Sozinho, o pedetista terá que se virar dentro de seu próprio partido e se contentar com pouco mais de 40 segundos de tempo de TV.
O ponto de convergência entre petistas e socialistas foi o acordo firmado em Pernambuco, estado que vem sendo governado pelo PSB há 12 anos, e abriga o diretório mais influente da sigla.
O atual governador, Paulo Câmara ( PSB), estava com a reeleição ameaçada pela candidatura de Marília Arraes, neta de Miguel Arraes, um dos fundadores do PSB. Marília, vereadora pelo PT, estava tecnicamente empatada com Câmara nas pesquisas.
Mas, sob a justificativa de que a “prioridade absoluta” do partido é a candidatura do ex- presidente Lula ao Planalto, a direção do PT aprovou ontem, por 17 votos a 8, a retirada da candidatura de Marília e o apoio ao PSB. Em troca, o PT pediu a não candidatura do ex- prefeito de Belo Horizonte Márcio Lacerda ao governo de Minas Gerais. Ele era uma pedra no caminho da reeleição do petista Fernando Pimentel.
O acerto costurado pelas cúpulas do PSB e do PT gerou desgastes para os dois lados. Confirmada a decisão da cúpula petista, a neta de Miguel Arraes prometeu lutar até as “últimas instâncias” para reverter a situação. Um grupo de oito dirigentes apresentou recurso para que o diretório nacional volte atrás.
— É uma candidatura da base do PT, que hoje tem o apoio massivo da sociedade de Pernambuco. Não temos o direito de recuar e colocar a esperança das pessoas em uma mesa como moeda de troca a preço de banana — afirmou Marília Arraes.
LACERDA “INDIGNADO”
Do outro lado, o presidente do PSB, Carlos Siqueira, viajou a Belo Horizonte para comunicar a Márcio Lacerda o acerto. Pela negociação, Lacerda teria de ser candidato ao Senado. Ele reagiu ao acordo. “Na tarde de hoje fui surpreendido pelo meu partido, o PSB, que, através do seu presidente, Carlos Siqueira, (...) veio a Belo Horizonte comunicar que a direção nacional do partido tomou a decisão política de alinhamento com o PT em Minas Gerais. Recebi esta comunicação com indignação, perplexidade, revolta e desprezo”, escreveu o mineiro, em nota .
Nas últimas semanas, o PDT vinha trabalhando para garantiraparceriadoPSB. Os dois partidos já estão coligados em dez estados, e o PDT sinalizou que poderia ceder em prol do PSB em outros dois. Nesse cenário de conflagração, o PSB deve oficializar sua posição de neutralidade na convenção de domingo.
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A máquina hegêmonica móis mais um aliado
Paulo Celso Pereira
02/08/2018
Foi por 450 mil votos que Lula B tirou Leonel Brizola do segundo turno da eleição presidencial de 1989 e deu início a hegemonia do PT no comando da esquerda brasileira. Desde então, o partido não hesitou em atropelar qualquer nome que tentasse ameaçar seu poder.
A dinâmica externa replica a atuação interna de Lula. Foi para não permitir que alguém lhe fizesse sombra que o ex-presidente optou por lançar Dilma Rousseff —recém—chegada ao PT e sem qualquer expressão eleitoral para sucedê-lo em 2010.
Um dos maiores símbolos do partido, Marina Silva decidiu abandonar a legenda que ajudou a organizar para disputar seus eleitores. Quando tornou—se competitiva, ao se aliar com o PSB em 2014, acabou trucidada pela campanha de Dilma.
Hoje, com Lula preso e a rejeição nas alturas, o desafio do PT é ainda maior. Sem ter como garantir a unidade da esquerda em torno de um candidato indefinido, restou fazer o necessário para impedir que Ciro Gomes —ironicamente um dos mais fieis escudeiros de Lula na crise do mensalão possa se apresentar na TV como alternativa.
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Manuela é lançada pelo PCdoB, mas se diz aberta a negociações
Bruno Góes
02/08/2018
Manuela D’Avila foi oficializada ontem candidata do PCdoB à Presidência da República, mas deixou claro que vai tentar, até onde for possível, uma unidade das forças de esquerda. PT, PCdoB, PSB e PDT não chegaram, até agora, a qualquer entendimento para uma candidatura única ao Planalto.
— A unidade da esquerda deve ser defendida até o último dia que seja possível — disse Manuela, em discurso aos militantes, que a aclamaram candidata por unanimidade.
A presidenciável sinalizou que está aberta a negociações até domingo, quando termina o prazo para a realização de convenções. Perguntada se aceitaria compor apenas com o PT, sendo candidata a vice, preferiu dizer que gostaria de ser porta- voz de uma aliança mais ampla.
No próximo sábado, os petistas vão lançar o nome de Luiz Inácio Lula da Silva ao Planalto — o ex- presidente já foi condenado em segunda instância por corrupção passiva e lavagem de dinheiro e está preso em Curitiba
— Nós nunca defendemos isso ( aliança só com o PT). Sempre defendemos que a unidade fosse a maior possível para esse campo político. Portanto, nós não nos colocamos como óbice. Eu ficaria feliz se ( a unidade) fosse de três ou quatro ( partidos). Eu poderia até mesmo não participar da chapa — afirmou.
Durante seu discurso, Manuela defendeu Lula algumas vezes. Afirmou que o expresidente está preso “porque lidera as pesquisas” e que “o maior líder do país está encarcerado injustamente”.
Manuela acrescentou que o impeachment de Dilma Rousseffteveumcaráter“fortemente misógino”, e que sua candidatura é a mais “feminista” no campo da esquerda.