Título: Colapso não é fatalidade
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Fonte: Correio Braziliense, 22/05/2012, Opinião, p. 14

O diagnóstico não surpreende. Mas, exposto com a concisão de que os números são capazes, acende luzes vermelhas. Levantamento feito no âmbito do Plano Diretor de Transporte Urbano e Mobilidade do Distrito Federal e Entorno (PDTU) fixa data para o colapso. Segundo o estudo, sem as providências indispensáveis para aumentar o acesso ao transporte público, a capital da República vai parar em 2020.

Brasilienses obrigados a enfrentar o trânsito diariamente na direção do próprio carro consideraram a previsão otimista. Com base no caos atual, acreditam não serem necessários oito anos para inviabilizar o direito constitucional de ir e vir pelas ruas e avenidas do DF. O colapso é hoje. Nas horas de pico, quilômetros de carros se movimentam lentamente depois de constantes paradas. Considerando que a frota — 1,318 milhão de veículos — aumenta à média de 8% ao ano, o cálculo assusta. Nada menos de 91.500 veículos novos somam-se anualmente aos existentes. São cerca de 7.600 por mês e 254 por dia. O ritmo de crescimento é tal que ninguém precisa de bola de cristal para prever o cenário futuro. Sente-se a tragédia no dia a dia.

Não só. Percebe-se que a ampliação das pistas, a construção de viadutos, a abertura de vias de acesso constituem alívio rápido. Em poucos meses o remédio deixa de surtir efeito. A situação volta ao estágio inicial. Mais um pouco, piora. Estacionamentos não ficam atrás. Novas garagens e vagas não significam conforto ou passo em direção à civilidade. A demanda é geometricamente maior que a oferta.

Vale lembrar, porém, que colapso não é fatalidade. É obra humana marcada pela falta de planejamento. Impõe-se fazer o que deixou de ser feito. O quadro exige providências urgentes. Entre elas, promover a integração operacional e tarifária no sistema de transporte coletivo, reduzir os intervalos entre as viagens, melhorar a acessibilidade para o usuário, corrigir a superposição de linhas, modernizar a frota. Sobretudo, ampliar o transporte sobre trilhos. Cada vez mais popular, o ciclismo precisa de atenção especial. Urbes que oferecem transporte de qualidade para a população, como Londres e Berlim, preveem espaço para bicicletas em metrôs e ônibus. Assim, o cidadão pode fazer um trecho do percurso num meio e o restante em outro. É importante que o transporte público seja a alternativa para o passageiro. Sem isso, virá o colapso — não como fatalidade, mas como colheita do descaso. É o preço de políticas que miram a próxima eleição e se esquecem da próxima geração.