O globo, n. 31040, 01/08/2018. Economia, p. 20
País já tem 65,6 milhões fora do mercado de trabalho
Marcello Corrêa
01/08/2018
Número de brasileiros que nem têm emprego nem procuram vaga bate recorde. Movimento explica queda do desemprego a 12,4%
A fila do desemprego ficou mais vazia, porque mais brasileiros saíram dela antes de encontra ruma oportunidade. Segundo dados divulgados ontem pelo IBGE, o grupo de trabalhadores fora do mercado —ou seja, os que não estão empregados nem em busca de vaga—subiu 1,2% no segundo trimestre, em relação aos três meses anteriores, para 65,6 milhões, o maior patamar da série histórica, iniciada em 2012. Esse movimento ajuda a explicar aquedada taxa de desemprego, que recuo upara 12,4%, abaixo das projeções do mercado. Os dados fazem parte da Pnad Contínua Mensal divulgada ontem.
A taxa dedes empregoéa proporção entre o número de pessoas que procuram emprego e não conseguem —ou seja, os desempregados — eo total de trabalhadores. Por isso, o indicador diminui quando há menos desempregados no país, seja porque conseguiram vagas, seja porque simplesmente saíram da fila.
Os dados do segundo trimestre são resultado de uma mistura desses dois fatores, já que a geração de vagas, principalmente associadas à informalidade, também ajudou a aliviar o desemprego. Mas a baixa procura pesou mais, segundo especialistas.
No período, o número de desempregados recuou em 723 mil pessoas, para 13 milhões. Mas o número de vagas subiu menos, em 657 mil. Ao mesmo tempo, 774 mil trabalhadores engordaram o grupo fora do mercado. A conclusão dessa equação é: nem todos os que deixaram a fila do desemprego conseguiram vaga, e parte deles deixou o mercado de trabalho.
— São menos pessoas procurando emprego. Isso tem sido o principal fator da queda da taxa de desemprego — resume o economista Tiago Cabral, do Ibre/FGV.
Esse grupo que não trabalha nem procura vaga é heterogêneo: inclui jovens que preferem estudar, aposentados, mas também os chamados desalentados, aqueles que desistiram de buscar uma oportunidade porque acham que não vão encontrar. O IBGE só divulgará os detalhes desse levantamento daqui a duas semanas, mas analistas já veem sinais de alta.
EMPREGO FORMAL RECUA
Luiz Fernando Castelli, economista da GO Associados, destaca que alonga duração da crise pode ser fator determinante para explicar os que ficam pelo caminho:
—A parentem ente, é um sinal de desalento. Quando acrise começou, em 2015, muita gente que não estava no mercado passou a procurar emprego. Agora, aquelas que não conseguiram estão desistindo.
Mary Silva, de 29 anos, está nessa busca há dois anos, mas não desistiu. Com experiência como auxiliar de controle de qualidade em uma grande empresa de confecção, ela tentava ontem uma vaga em uma feira de emprego, que atraiu centenas de pessoas no Rio. O longo tempo fora do mercado, no entanto, atrapalha na hora das seleções.
— Muitas vezes as vagas exigem qualificações que se tornam inacessíveis para quem está desempregado. Há também uma resistência amulheres com filho, principalmente se são muito pequenos—conta Mary, que tem um filho de 5 anos.
De acordo com analistas, a tendência é que o cenário melhore nos próximos meses, masa qualidade das vagas gerada sé uma preocupação. No segundo trimestre, a maioria das oportunidades criadas foi sem carteira assinada: o contingente detra balhadores nessa condição aumentou em 276 mil frente ao primeiro trimestre, para 10,9 milhões. No setor público, houveu ma alta trimestral de 392 mil vagas, influenciada porre contratações nas prefeituras, comuns nessa época do ano. Ao mesmo tempo, o grupo de empregados formais recuou em 79 mil, para 32,8 milhões, o menor patamar da série histórica.
Parte desse efeito está relacionado ao ritmo lento da economia, já que contratar um trabalhador com carteira assinada representa um investimento. Analistas até esperavam alguma recuperação das vagas formais nessa época do ano, mas a piora do cenário causado pela greve dos caminhoneiros foi um freio nas estimativas.
— Nossa expectativa era que melhorasse mais no segundo trimestre, que acabou sendo impactado por esse evento que não estava no calendário —afirmou Thais Zara, economista-chefe da Rosenberg Associados, que projeta taxa de desemprego em 10,7% até o fim do ano.
Para Thiago Xavier, da Tendências Consultoria, o desemprego chegará ao fim do ano em 11,5%:
—Fatores aumentaram a incerteza no cenário, prejudicando consumo, investimento e geração de vagas.
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Quatro em cada dez trabalhadores são informais
Marcelo Corrêa
01/08/2018
País tem 37 milhões em atividades por conta própria e sem carteira
A taxa de desemprego recuou para 12,4% em junho, informou o IBGE. Mas o movimento deveu-se ao aumento da informalidade e a um novo recorde negativo: chegou a 65,6 milhões o número de brasileiros que nem estão empregados nem buscam uma vaga, maior patamar desde 2012. Opercentual de trabalhadores ligados à informalidade aumentou no segundo trimestre, na comparação com igual período do ano passado. Segundo análise do IBGE, 37,060 milhões de brasileiros estavam em atividades como trabalho por conta própria e emprego sem carteira.
O contingente representa 40,6% do total de pessoas na ativa. Há um ano, a fatia era um pouco menor, de 40,1%. O percentual já chegou a ser de 38,8% em 2015, início dessa série histórica.
O levantamento do IBGE considerou as seguintes atividades: empregado sem carteira no setor privado; trabalhador doméstico sem carteira; empregador sem CNPJ; trabalhador por conta própria sem CNPJ; e trabalhador familiar auxiliar.
O maior grupo é o de trabalhadores por conta própria sem CNPJ, que chegou a 18,6 milhões de pessoas. O número representa 80% do total de trabalhadores nessa condição, que é de 23 milhões. Entre os empregadores, a situação é inversa: do total de 4,3 milhões, 79% têm CNPJ.
Ter ou não CNPJ influencia diretamente nos ganhos nessas atividades. Trabalhadores por conta própria com registro tiveram rendimento médio de R$ 3.060, 142% (mais que o dobro) do que o recebido pelos sem CNPJ: R$ 1.264.
No caso dos empregadores, a renda dos que têm CNPJ é de R$ 5.901, 89% superior à dos que não têm o cadastro.
DESAFIO À PREVIDÊNCIA
Para Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, o indicador mostra a fragilidade do mercado de trabalho. O técnico destacou ainda que acompanhar o número é importante porque inclui formas de contrato ilegais, como o emprego sem carteira no setor privado. Além disso, indica um desafio para a Previdência.
— O prejuízo é muito grave. Essa pessoa não está contribuindo para a Previdência, Num momento, ela vai precisar, porque está em crise, e, aí, quem vai pagar essa conta? —observou Azeredo.
A reversão desse cenário depende da economia.
— É consequência da crise. A pessoa precisa de alguma renda para viver. Conforme a economia se recuperar, o nível de informalidade deve diminuir — frisa Luiz Castelli, da GO Associados.