O globo, n. 31090, 20/09/2018. País, p. 6

 

Na economia, Haddad fala em nome ‘pragmático’

Sérgio Roxo

Cássia Almeida

20/09/2018

 

 

Em alta nas pesquisas, candidato diz que prefere um perfil ‘não sectário’ na Fazenda; citado como um eventual ministro, economista Marcos Lisboa afirma gostar de petista, embora tenha ‘claras divergências’

Um dia após o Ibope mostrar uma subida de 11 pontos percentuais nas suas intenções de voto, o candidato do PT à Presidência da República, Fernando Haddad, disse que busca uma pessoa de perfil “pragmático”, mas sem ser “sectário” para ocupar o Ministério da Fazenda em seu eventual governo:

— Pragmático no sentido de buscar solução para os problemas do povo. Às vezes, os economistas são muito sectários e acham que são donos da verdade.

Com a consolidação do cenário de polarização com Jair Bolsonaro (PSL) revelada pelo Ibope, Haddad deve antecipar a estratégia de um discurso mais moderado, previsto inicialmente para ser adotado no segundo turno.

Os primeiros sinais começam a aparecer. Entre as ações previstas neste novo momento da campanha petista, estão a sinalização ao mercado de que, uma vez no poder, o partido não adotará a política fiscal do governo Dilma Rousseff, que levou o país à crise econômica.

Questionado sobre o perfil para ocupar o posto, o petista respondeu:

— O meu — disse, explicando em seguida que o expresidente Lula, antes de ser preso e quando se apresentava como pré-candidato, o havia convidado para comandar a Fazenda em seu eventual governo.

“AUTOCONTROLE”

Ex-secretário de Política Econômica do primeiro governo petista, entre 2003 e 2005, o economista Marcos Lisboa, presidente do Insper, afirmou ontem ao GLOBO que considerou “divertidas” as especulações sobre o suposto convite de Haddad para o Ministério da Fazenda se o PT vencer. Lisboa elogiou a gestão econômica do governo Temer e afirmou que o Ministério do Planejamento vem fazendo um bom trabalho, que as estatais foram saneadas e há transparência nas contas do governo:

— Achei muito divertidas as especulações sobre o Ministério da Fazenda. Gosto do Fernando, já trabalhamos juntos, mas já divergimos imensamente em público e eu tenho claras divergências em relação ao programa do PT.

O nome de Marcos Lisboa seria um aceno do PT para se aproximar do mercado, já que o economista defende ajuste fiscal, fim de privilégios e a reforma da Previdência.

Na segunda-feira, durante sabatina promovida pelo SBT-Uol-Folha, Haddad já mandou um recado ao dizer que o economista Marcio Pochmann foi apenas um colaborador do programa de governo do PT, “como outros 300 participaram”. Pochmann é visto pelo mercado como um economista sem compromisso com as reformas.

Pela primeira vez na campanha presidencial, Haddad rebateu um ataque do adversário Ciro Gomes, do PDT. Antes de iniciar uma caminhada ontem em Guarulhos, região metropolitana de São Paulo, o petista foi questionado sobre a declaração do pedetista de que o Brasil não podia ter um presidente fraco. Ele respondeu que, para ficar no cargo, é preciso “autocontrole”:

— O Ciro é meu amigo, pertencemos ao mesmo campo, mas às vezes temos conceitos diferentes. Força de um presidente para mim se dá por firmeza e autocontrole. Tem que ter essas Ex-secretário de Política Econômica do governo

duas qualidades para presidir o pais. Firmeza de proposito e muito autocontrole para evitar provocação. Sou uma pessoa firme e controlada.

Haddad também comemorou o resultado da pesquisa do Ibope.

— Isso era esperado. Não esperava que fosse tão rápido como foi — comentou o candidato do PT.

______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

'Nem a pau', diz Ciro sobre decidir agora apoio ao PT

Fernanda Krakovics

Luís Lima

Catarina Alencastro

20/09/2018

 

 

Para candidato do PDT, Haddad está se precipitando, por inexperiência ou arrogância, ao dizer que a aliança política ocorrerá

Depois de cair para terceiro lugar na pesquisa Ibope divulgada na noite anterior e ver Fernando Haddad (PT) abrir oito pontos de vantagem sobre ele, o candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes, afirmou, em sabatina promovida pela rádio “CBN” e pelo portal “G1” ontem, que é prematuro discutir eventual apoio ao petista no segundo turno.

Haddad havia dito ter certeza de que o pedetista se juntará a ele, porque os dois são do mesmo campo.

—Nem a pau, Juvenal. Ele (Haddad) está se precipitando, como uma demonstração de inexperiência ou de arrogância. Já se acha vitorioso no segundo turno. E sabemos que ele é o candidato marcado para perder —disse o candidato do PDT.

À tarde, Ciro divulgou um vídeo, nas redes sociais, para tentar evitar que o desânimo tome conta de sua campanha. Ele tentou minimizar o resultado do levantamento afirmando que, em 2014, a 13 dias da eleição, as pesquisas indicavam um segundo turno entre Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva, então no PSB. A disputa acabou sendo entre a petista e Aécio Neves (PSDB).

Para Ciro, a eleição ainda está em aberto.

— Vai ganhar aquele que tiver a militância mais aguerrida, mais entusiasmada, mais convencida das propostas — diz, em gravação a apoiadores.

Em evento com centrais sindicais em São Paulo, ontem, Cirou comentou a estabilidade de seu desempenho no Ibope, em 11%, enquanto Haddad saltou para 19%:

—Não podemos ceder nosso voto, que define o destino da nossa família e nação, aos institutos de pesquisa.

MANGABEIRA DEFENDE

O pedetista tenta se apresentar como o candidato do diálogo, uma opção para romper a polarização entre Jair Bolsonaro (PSL) e Haddad. O deputado lidera a pesquisa Ibope com 28%.

No bunker do presidenciável, a ordem é manter a programação inalterada, apresentando o programa de governo de Ciro, que tem como carro-chefe a promessa de tirar 63 milhões de brasileiros do SPC. E, ao mesmo tempo, tentar desconstruir Haddad e Bolsonaro.

—Não é nada que não possa ser revertido. Não vamos mudar nossa linha. É cedo ainda para dizer qualquer coisa sobre o resultado das urnas. Não estamos trabalhando com essa possibilidade de não irmos para o 2º turno. A gente entende que há fragilidades dos dois lados: no programa do PT e na falta de programa de Bolsonaro —diz Nelson Marconi, um dos coordenadores do programa de Ciro.

Um dos principais conselheiros do candidato, Mangabeira Unger avalia que o pedetista só precisa mostrar que é o mais preparado:

— Ciro está inteiramente engajado. Ele ganha de todos no 2º turno, mas, dada a fragmentação das candidaturas, tem tido dificuldade de traduzir essa vantagem no primeiro turno. O programa não é só um amontoado de propostas técnicas, é uma direção para o país.

______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Alckmin: petista já está no 2º turno; Bolsonaro não

Silvia Amorim

20/09/2018

 

 

Candidato do PSDB tenta reforçar a estratégia eleitoral de afirmar que só ele pode derrotar Fernando Haddad

O candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, disse ontem que seu adversário Fernando Haddad (PT) está garantido no segundo turno. No caso de Jair Bolsonaro (PSL), líder nas pesquisas, ele afirmou que a mesma avaliação não se aplicaria:

— Nós precisamos escolher quem vai com o PT para vencer o PT no segundo turno. Esse é o fato. O PT já está no segundo turno — disse o candidato em entrevista feita pela revista “Veja” ontem em São Paulo.

Haddad cresceu 11 pontos em uma semana, segundo dados da pesquisa Ibope divulgada ontem, e isolou-se no segundo lugar na disputa com 19%.

Ao responder se Bolsonaro, que tem 28% das intenções de voto no Ibope, também não teria participação assegurada numa próxima fase, Alckmin foi direto: —O Bolsonaro não. O candidato do PSDB argumentou que o deputado do PSL deverá cair nas pesquisas porque seus eleitores não declaram voto por convicção mas por uma circunstância política:

— Bolsonaro está no teto e tenderá a cair. Uma parte do voto no Bolsonaro não é dele. É um voto anti-PT que está lá só porque há uma percepção de que ele pode evitar o PT. Só que eu enxergo de maneira contrária. Ele é o passaporte para a volta do PT. Tudo que o PT quer é disputar o segundo turno com Bolsonaro.

O tucano manteve a carga contra o adversário:

— Você tem do outro lado um salto no escuro, uma coisa inimaginável. Alguém que passou 28 anos na Câmara votando sempre pelo corporativismo —criticou o presidenciável do PSDB.