O globo, n. 31090, 20/09/2018. Economia, p. 21

 

BC alerta para risco de inflação maior e alta de juro

Gabriela Valente

João Sorima Neto

Gabriel Martins

20/09/2018

 

 

Ao manter Selic em 6,5%, Copom reitera necessidade de reformas econômicas e cita deterioração do cenário externo para os emergentes. Analistas já falam em possível aumento da taxa básica depois das eleições

Pela quarta vez consecutiva, o Banco Central (BC) manteve ontem os juros básicos da economia (Selic) em 6,5% ao ano. Mas, desta vez, alertou que a taxa pode não ficar em seu menor patamar histórico por mais muito tempo. O Comitê de Política Monetária (Copom) afirmou que o cenário externo piorou e que combaterá os efeitos da alta do dólar. E, em meio à campanha eleitoral, salientou que aumentou o risco de a inflação voltar a subir se o Brasil interromper as reformas necessárias. Por enquanto, ainda é possível manter os juros baixos. Analistas, no entanto, não descartam uma elevação dos juros depois das eleições.

“O Copom reitera que a conjuntura econômica ainda prescreve política monetária estimulativa, ou seja, com taxas de juros abaixo da taxa estrutural. Esse estímulo começará a ser removido gradualmente caso o cenário prospectivo para a inflação no horizonte relevante para a política monetária e/ ou seu balanço de riscos apresentem piora”, afirmou o Copom no comunicado divulgado depois da reunião.

O Comitê apontou alguns riscos. Entre eles, o elevado nível de ociosidade da economia, que pode resultar em recuperação mais lenta, e a não continuidade de “reformas e ajustes necessários”, que poderiam elevar a inflação. Há ainda a possível deterioração do cenário externo para as economias emergentes, com elevação dos juros nos Estados Unidos e guerra comercial.Segundo o Copom, “esses últimos riscos se elevaram”.

No comunicado, o BC informa que, se a Taxa Selic permanecer no atual patamar ao longo do ano que vem, a inflação chegaria a 4,5% em 2019 —a meta é de 4,25%.

Alberto Ramos, do Goldman Sachs, viu no comunicado um tom mais rigoroso, reforçando a perspectiva de elevação dos juros ainda este ano.

— O comunicado acende a luz amarela. O cenário externo piorou. A pauta vencedora da eleição pode contribuir para o balanço de riscos da inflação — diz o economista da Mongeral Aegon Investimento, Júlio César Barros.

RECUPERAÇÃO AINDA FRACA

Para Eduardo Velho, economista-chefe da GO Associados, o BC deu sinais de que pode aumentar os juros já depois das eleições presidenciais. A próxima reunião será nos dias 30 e 31 de outubro, logo após o segundo turno. Tudo dependerá do comportamento do dólar e das propostas econômicas do próximo governo.

— Está claro que o BC está colocando a variável eleitoral como risco de subir. Terá de tomar uma decisão logo após as eleições —diz Velho.

A inflação medida pelo IPCA está hoje em 4,19%,dentro da meta para este ano, de 4,5%. As projeções do Copom apontam índice de 4,1% em 2018 e 4% em 2019. No comunicado, o Comitê ressaltou que a recente alta do dólar ainda não tem efeito nos preços, mas que atuará para combater qualquer impacto na inflação. No momento, não haveria necessidade de atuar porque a recuperação econômica ainda é fraca e tem sido mais gradual do que se esperava.

A economia brasileira começa a dar sinais de recuperação, o que pode pressionar os preços no futuro. Mas não agora, porque as empresas têm maquinário parado. Como a produção diminuiu por causa da crise, há como aumentar o trabalho sem fazer novos investimentos e elevar os preços. Isso é bom para a inflação.

BOLSA DE SP CAI 0,19%

O dólar comercial, que vem registrando altas sucessivas ao sabor das pesquisas de intenção de voto, teve um dia de trégua ontem, e a moeda americana recuou 0,38%, a R$ 4,12. A boa notícia veio da China: apesar do acirramento da guerra comercial com os EUA, o premier Li Keqiang disse que Pequim não vai desvalorizar o yuan para tornar seus produtos mais competitivos. Isso gerou a expectativa de que o país adotará medidas para proteger sua economia e deu impulso às moedas de emergentes.

Já a Bolsa brasileira operou em alta boa parte do dia, seguindo os mercados internacionais, mas fechou em queda de 0,19%, aos 78.168 pontos. Pesou a expectativa com a divulgação de uma nova pesquisa eleitoral, hoje.