Correio braziliense, n. 20197, 07/09/2018. Política, p. 5

 

Apelos por celeridade na investigação do atentado

Gabriela Vinhal e Murilo Fagundes

07/09/2018

 

 

ELEIÇÕES 2018 » Presidenciáveis e autoridades dizem que crime contra Bolsonaro é uma afronta à democracia e cobram rapidez na apuração do caso

A facada desferida no candidato do PSL ao Planalto, Jair Bolsonaro, entra para a história como o primeiro caso de ataque a um presidenciável durante campanha eleitoral desde a redemocratização. O episódio repercutiu nacional e internacionalmente. O assunto dominou as redes sociais.

O presidente Michel Temer criticou o clima de intolerância que domina o país. “Isso revela algo que nós devemos nos conscientizar, porque é intolerável justamente a intolerância que tem havido na sociedade brasileira”, apontou.

Candidatos à Presidência também lamentaram o atentado e pediram celeridade nas investigações. O candidato a vice-presidente pelo PT, Fernando Haddad, postou: “Repudio totalmente qualquer ato de violência e desejo pronto restabelecimento a Jair Bolsonaro”.

Postulante à Presidência pelo PDT, Ciro Gomes se solidarizou com Bolsonaro e pediu que as autoridades identificassem e punissem os responsáveis pelo ataque. O candidato, que tinha agenda confirmada em Natal, cancelou os compromissos devido ao atentado. “Desejo que ele se recupere, possa superar este momento e prontamente volte ao debate brasileiro”, escreveu.

Marina Silva, da Rede, que protagonizou um embate com Bolsonaro num dos debates presidenciais, atribuiu o ocorrido a um “atentado à democracia”. “Neste momento difícil que atravessa o Brasil, é preciso zelar com rigor pela defesa da vida humana e pela defesa da vida democrática e institucional do nosso país”, afirmou.

O tucano Geraldo Alckmin publicou, em sua conta do Twitter, que “a política se faz com diálogo e convencimento, jamais com ódio”. Henrique Meirelles, do MDB, também lamentou a violência contra o candidato: “O Brasil precisa encontrar o equilíbrio e o caminho da paz. Temos que ter serenidade para apaziguar a divisão entre os brasileiros”.

Candidato pelo Novo, João Amoêdo considerou “inaceitável” o que ocorreu com Bolsonaro. “Independentemente de divergências políticas, não é possível aceitar nenhum ato de violência. O Brasil lutou muito para voltar à democracia e para ter eleições limpas e livres. A violência não pode colocar essas conquistas em risco”, completou.

Em um vídeo, o presidenciável Alvaro Dias (Podemos) disse que deseja a Bolsonaro um pronto restabelecimento e que “repudia a violência, como repudia também o estímulo à violência”. Candidato pelo PSol, Guilherme Boulos declarou que “a violência não se justifica e não pode tomar o lugar do debate político. Repudiamos toda e qualquer ação de ódio e cobramos investigação sobre o fato”.

Sem plano B

Ao Correio, a advogada Janaína Paschoal, que foi cotada para ser vice do capitão do Exército após três pessoas recusarem o cargo, afirmou que o ataque a Bolsonaro foi “uma perda para todos os brasileiros”. “Que dia pesado! O que ele (Bolsonaro) representa é a coragem de enfrentar o que precisa ser enfrentado”, disse, emocionada. Questionada sobre a possibilidade de assumir uma vaga na chapa do PSL, caso o presidenciável fique inviabilizado de concorrer em outubro, ela declarou que está “fora de questão”.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou que “há tempos menciona e critica o ódio que se difunde na sociedade. A facada em Bolsonaro fere a democracia. É inaceitável humana e politicamente”. A presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Cármen Lúcia, também se manifestou: “Deve ser renegada qualquer forma de violência ou de desrespeito aos direitos, pelo que há que se apurar com celeridade, segurança e com apresentação de resultados o que efetivamente se passou, o responsável e qual a medida jurídica a ser imediatamente adotada”, justificou.

Frases

“É intolerável em um Estado democrático de direito que não haja a possibilidade de uma campanha tranquila, uma campanha em que as pessoas vão e apresentem seus projetos”

Michel Temer, presidente da República

 

“Política se faz com diálogo e convencimento, jamais com ódio. Qualquer ato de violência é deplorável. Esperamos que o candidato se recupere rapidamente”

Geraldo Alcmin (PSDB), presidenciável

 

“A violência contra o candidato Jair Bolsonaro é inadmissível e configura um duplo atentado: contra sua integridade física e contra a democracia”

Marina Silva (Rede), presidenciável

 

“Repudio a violência como linguagem política, solidarizo-me com meu opositor e exijo que as autoridades identifiquem e punam os responsáveis por essa barbárie”

Ciro Gomes (PDT), presidenciável

 

“O Brasil precisa encontrar o equilíbrio e o caminho da paz. Temos de ter serenidade para apaziguar a divisão entre os brasileiros”

Henrique Meirelles (MDB), presidenciável

 

“Eu repudio todo e qualquer ato de violência. Por isso, a violência nunca deve ser estimulada. Eu não estimulo”

Alvaro Dias (Podemos), presidenciável

 

“O Tribunal Superior Eleitoral repudia toda e qualquer manifestação de violência, seja contra eleitores, seja contra candidatos ou em virtude do pleito”

Rosa Weber, presidente do TSE

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Em 1954, tiros e morte

07/09/2018

 

 

O último episódio de violência que comprometeu a integridade física de um postulante à Presidência ocorreu em 1954. À época, o jornalista Carlos Lacerda, voz mais ativa da oposição a Getúlio Vargas, sofreu uma tentativa de homicídio na rua onde morava, em Copacabana, no Rio de Janeiro.

O atentado ocorreu em 5 de agosto, na Rua Tonelero. Lacerda estava acompanhado do major da Aeronáutica Rubens Vaz, que fazia parte do grupo de seguranças voluntários que protegiam o político. O major morreu, e Lacerda recebeu um tiro de raspão no pé. Após investigação, a polícia prendeu os suspeitos. Eles confessaram que o ataque foi a pedido de Gregório Fortunato, chefe da guarda pessoal de Vargas. A pressão foi tão grande que, no dia 24 do mesmo mês, o presidente se matou.

Outro caso de ataque no meio político ocorreu ainda na Primeira República, no século XIX, com o primeiro presidente civil, Prudente de Morais. Ele também foi vítima de uma tentativa de assassinato no porto da capital fluminense, que, à época, era capital do país. O presidente estava recebendo os documentos que atestavam o combate à revolta de Canudos, no interior da Bahia. Só não morreu porque o ministro da Guerra da época, marechal Machado Bittencourt, se colocou na frente do presidente, levou três facadas e não resistiu.