Título: Governo revê PIB para 4%
Autor: Hessel, Rosana; Bonfanti, Cristiane
Fonte: Correio Braziliense, 23/05/2012, Economia, p. 11

Agravamento da turbulência na Europa reduz possibilidades de crescimento e ministro reforça discurso em prol da redução dos juros

A equipe econômica da presidente Dilma Rousseff reconheceu ontem que a economia brasileira crescerá menos que os 4,5% previstos pelo governo no início do ano. Durante audiência pública no Senado Federal, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, apresentou dados que estimam um avanço ligeiramente mais modesto, de 4% neste ano, para o Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas produzidas no país).

No discurso, Mantega não explicitou a nova previsão, enfatizando apenas a taxa que será superior aos 2,7% registrados no ano passado. “É verdade que já tínhamos desacelerado mais em 2011 e temos as condições para ter um crescimento maior em 2012”, disse. O índice, embora seja mais otimista do que os 3,09% estimados pelo mercado financeiro, coloca o Brasil atrás de outros países emergentes, como a Argentina, que deverá crescer 4,2%, conforme a exposição feita aos senadores. A África do Sul deverá avançar 2,7%; a Índia, 6,9%; e a China, 7,5%.

Mantega considerou que o agravamento da crise internacional demonstra que a estratégia de austeridade fiscal na Europa não está dando certo por não ter sido acompanhada por medidas de estímulo à economia. O ministro procurou minimizar o impacto da turbulência europeia na economia brasileira citando estudos do Fundo Monetário Internacional (FMI) que preveem, caso a situação se agrave, uma perda de um ponto percentual na variação do PIB. Para a Rússia e o Canadá, a perda seria de um a dois pontos e, para o Reino Unido, de dois a três pontos. “Mesmo se a Grécia sair do Euro, haverá um mês de turbulência, mas vamos nos recuperar porque a nossa região é a mais defendida no caso de um cataclisma”, disse.

Selic O ministro também reforçou o discurso para que o Banco Central dê continuidade à redução da taxa básica de juros (Selic), hoje em 9% ao ano, na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para a semana que vem. “Estamos com redução da taxa desde agosto. Ela vem barateando o custo de capital no país, mas não é a ideal”, afirmou.

De acordo com o ministro, as novas regras da poupança, anunciadas no último dia 3, contribuem para a redução da Selic. “Não podemos ter obstáculo para que as taxas continuem caindo”, afirmou. Para depósitos e contas abertas desde o dia 4, a rentabilidade da mais tradicional modalidade de investimento do país ficará em 70% da Selic mais a variação da Taxa Referencial (TR). Mas a nova regra só vale caso os juros atinjam o patamar de 8,5% ao ano, ou abaixo disso, o que deve ocorrer na semana que vem.

Para os depósitos feitos até o dia 3, permanecem as velhas regras, de remuneração fixa de 0,5% ao mês, o que perfaz 6,17% ao ano, mais a variação da TR, atualmente em 0,02%. O investimento também é isento de Imposto de Renda. As medidas foram necessárias porque, à medida que a taxa de juros é reduzida, o rendimento das aplicações de renda fixa também cai. A preocupação do governo é que haja uma fuga de recursos de investimentos nos títulos do governo, que financiam a dívida pública para a caderneta.

O relator da medida provisória da poupança, deputado Henrique Fontana (PT-RS), pretende entregar o relatório na próxima terça-feira na comissão mista. “Vamos votar o mais rápido possível”, disse ele, acrescentando que recebeu 21 emendas. Ele sinalizou a necessidade de o governo reduzir os gastos de custeio administrativos em prol de mais investimentos e de programas sociais. O ministro destacou que os investimentos estão crescendo. “Em 2002, a taxa de investimento sobre o PIB era de 16%, passando para 19,5% em 2010. Houve uma queda para 18% no ano passado, mas hoje estamos em 20%”, completou, destacando que todos os indicadores econômicos e sociais melhoraram significativamente desde 2007. Ele assegurou que o país tem condições de atingir a meta de 24% até 2014.

Câmbio Mantega afirmou ainda que o Brasil está em um cenário favorável, com queda da inflação e dos preços das commodities e, portanto, é conveniente para o país trabalhar com uma taxa de câmbio mais elevada. “De janeiro até agora tivemos 20% de desvalorização do real frente ao dólar. Ganhamos 20% de competitividade. O novo patamar do câmbio faz bem fundamentalmente para a indústria. Como todo remédio, tem efeito colateral, mas não dá para deixar de tomar o remédio”, comentou.

"Mesmo se a Grécia sair do Euro, haverá um mês de turbulência, mas vamos nos recuperar porque a nossa região é a mais defendida no caso de um cataclisma"

"O novo patamar do câmbio faz bem fundamentalmente para a indústria. Como todo remédio, tem efeito colateral, mas não dá para deixar de tomar o remédio"

Guido Mantega, ministro da Fazenda