O globo, n. 31089, 19/09/2018. País, p. 4

 

BOLSONARO É LÍDER, HADDAD SOBE 11 PONTOS

Marco Grillo

19/09/2018

 

 

Deputado do PSL chega a 28%, e candidato petista avança de 8% para 19%; Rejeição de Bolsonaro parou de cair no Ibope e oscilou um ponto para cima: 42%

A quarta pesquisa Ibope após o início oficial da campanha mostra, pela primeira vez, um cenário eleitoral mais consolidado. O candidato do PSL, Jair Bolsonaro, continua isolado na frente, agora com 28% das intenções de voto —a terceira oscilação positiva de dois pontos percentuais na margem de erro. A novidade é o descolamento de Fernando Haddad (PT) do bloco que, até então, brigava pela outra vaga no segundo turno: o ex-prefeito de São Paulo subiu 11 pontos percentuais em uma semana e chegou a 19%, deixando os adversários para trás.

Haddad foi oficializado como candidato do PT na semana passada, em substituição ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso em Curitiba. Desde então, a sigla tem insistidona mensagem dequ eH ad dadéo candidato de Lula, seja em eventos de campanha ou na propaganda em rádio e TV.

O crescimento de Haddad foi maior justamente no eleitorado mais fiel a Lula: o candidato saltou de 13% para 31% no Nordeste; de 10% para 27% entre os eleitores de famílias com renda mensal de até um salário mínimo; e de 6% para 24% entre quem cursou até a 4ª série do ensino fundamental.

Já o candidato do PDT, Ciro Gomes, permaneceu com os 11% do levantamento anterior. Ele está empatado, no limite da margem de erro, com Geraldo Alckmin( PSD B ), que tem 7%, uma oscilação negativa de dois pontos em comparação como resultado da semana passada. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.

Depois de crescer três pontos entre o fim de agosto e o início de setembro, Ciro permaneceu estável conforme a campanha petista se direcionou a Haddad, que se transformou no herdeiro dos votos de Lula. Já Alckmin não conseguiu fazer com que o volume de tempo na TV, bastante superior ao dos adversários, revertesse votos aseu favor. Acampanh atucana, após um período de trégua em função do atentado à faca contra Bolsonaro, voltou nesta semana a atacá-lo, na tentativa de atrair os votos antipetistas.

 

MARINA EM QUEDA LIVRE

O Ibope também mostrou a continuidade da trajetória de queda de Marina Silva (Rede). Em uma semana, ela passou de 9% para 6%, o que configura uma situação de empate técnico com Alckmin. Mas, se antes a candidata da Rede ainda estava embolada com os concorrentes na briga pelo segundo turno, a nova pesquisa mostra que, agora, ela está um nível abaixo: empatada tecnicamente, no limite da margem de erro, com Henrique Meirelles (MDB), Alvaro Dias (Podemos) e João Amoêdo (Novo), que têm 2%, cada.

Cabo Daciolo (Patriota) marcou 1%, enquanto Eymael (DC), Guilherme Boulos (PSOL), Vera Lúcia (PSTU) e João Goulart Filho (PPL) não pontuaram. Brancos e nulos somaram 14%, queda de cinco pontos em relação à sondagem anterior. O número de indecisos se manteve em 7%.

Em relação à rejeição — quando eleitores escolhem em quem não votarão de “jeito nenhum” —, a pesquisa mostrou que a trajetória de queda do índice de Bolsonaro foi interrompida. Depois de o candidato levar uma facada em Juiz de Fora (MG), a rejeição a ele havia caído de 44% para 41%. No levantamento divulgado ontem, o número foi de 42%, uma oscilação positiva na margem de erro. A maior exposição de Haddad e a associação de seu nome ao de Lula elevaram a rejeição do candidato petista em seis pontos percentuais: era de 23% há uma semana, agora é de 29%.

Na simulação de segundo turno, o desempenho de Haddad frente a Bolsonaro apresentou uma ligeira melhora. Na semana passada, Bolsonaro aparecia com 40%, contra 36% de Haddad. Agora, os dois candidatos registram 40%. Nesse cenário, brancos e nulos eram 19% e passaram a ser 15%; o índice de indecisos permaneceu em 5%.

A pesquisa foi contratada pela TV Globo e pelo jornal “O Estado de S. Paulo”.

______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Primeiro turno se converte em plebiscito

Paulo Celso Pereira

19/09/2018

 

 

Se havia alguma dúvida, não há mais. A eleição presidencial deste ano se transformou na metonímia da divisão social que se espalhou pelo país desde o pleito de 2014. O antipetismo mergulhou de cabeça na candidatura de Jair Bolsonaro, enquanto os herdeiros do lulismo aderem com velocidade impressionante à orientação do líder maior do PT. Só na última semana, Haddad cresceu 11 pontos percentuais de acordo com o Ibope, uma média de 1,5 ponto ao dia.

A polarização é gritante e crescente. Há um mês, antes de o PT lançar oficialmente Haddad, 24% dos eleitores se dividiam entre o petista e Bolsonaro (20% para o excapitão, 4% para o ex-prefeito de São Paulo). Hoje, 47% do eleitorado está entre eles. E não há sinais de que o ritmo de crescimento de ambos esteja no fim.

A eleição de 2018 tem tudo para ser dizimadora das premissas que pautavam as análises eleitorais há décadas. Nos últimos 30 anos, havia um consenso de que, para ganhar as eleições presidenciais, era necessário que os candidatos caminhassem em direção ao “centro”. Bolsonaro incentivou o quanto pôde o radicalismo —e acabou sendo vítima dele. O PT fez o mesmo em seu campo, desafiando ininterruptamente as instituições. Em vez de terem sido reduzidos a um gueto, ambos expandiram a polarização pela sociedade.

Os candidatos que apostaram que o país iria, como sempre fez, buscar nomes ponderados se aproximam da irrelevância. Geraldo Alckmin, detentor de metade do tempo de TV e integrante do partido que por 20 anos rivalizou com o PT a disputa do Planalto, viu sua distância para Bolsonaro saltar de 13 para 21 pontos percentuais em duas semanas. Antes considerada decisiva, a possível migração dos votos dos outros candidatos de centro-direita —Alvaro Dias, João Amoêdo e Henrique Meirelles, com 2% cada —para sua candidatura tornou-se agora irrelevante.

Talvez o maior retrato do momento que vivemos esteja no derretimento de Marina Silva. Nos últimos oito anos, a ex-senadora foi a principal voz em defesa de uma “terceira via”, contra a polarização então representada por PT e PSDB. Depois de sair de duas eleições presidenciais com apoio de cerca de 20% do eleitorado, a senadora tinha ontem 6% das intenções de voto. Ciro Gomes, que também lutou por espaço nesse campo alternativo, manteve seu patamar na pesquisa, mas é difícil crer que conseguirá fazer algo para interromper a trajetória de Bolsonaro e de Haddad.

É alarmante notar que, embora o processo esteja em curso, a tendência é que a maioria dos brasileiros saia desapontada, vença quem vencer. Segundo o Ibope, tanto Bolsonaro quanto Haddad têm hoje 50% mais rejeição do que intenção de votos.