Título: Bolsas da UE rompem clima de pessimismo
Autor: Franco, Carlos
Fonte: Correio Braziliense, 23/05/2012, Economia, p. 12

Dinheiro para bancos gregos e possível emissão de bônus para resgate de dívidas dos países da Zona do Euro aliviam os mercados

As principais bolsas europeias interromperam ontem o persistente movimento de queda desde o início do mês, registrando a primeira alta. A reversão foi marcada pelo anúncio de uma injeção de 18 bilhões de euros nos bancos gregos pelo Fundo Helênico de Estabilidade Financeira (HFSF, na sigla em inglês). A medida aliviou a pressão sobre a Grécia, assim como a expectativa de que a Zona do Euro promova políticas de estímulo ao crescimento. Com isso, o FTSEurofirst, índice que reúne as principais ações europeias, subiu 1,9%. Operadores dizem que investidores estão voltando a ações cíclicas antes de uma reunião informal entre líderes da União Europeia (UE), prevista para hoje.

O HFSF já havia informado que iria transferir 18 bilhões de euros para os maiores bancos do país como parte de um pacote de assistência financeira concedido pela União Europeia e o Fundo Monetário Internacional (FMI). O dinheiro é uma parte da parcela do total de 25 bilhões de euros que foi separado para recapitalização do setor bancário grego, que está tecnicamente insolvente desde a reestruturação da dívida soberana, em março, que forçou os bancos a reduzir pela metade o valor dos bônus do governo que possuem. Com o movimento positivo das bolsas europeias, a expectativa dos operadores é que o socorro aos bancos seja aprovado hoje e o repasse ocorra ainda esta semana.

A reunião deverá discutir também maneiras de fortalecer a economia da Europa, como títulos especiais para financiar a infraestrutura, complementando a decisão também anunciada ontem de 230 milhões de euros destinados a um programa-piloto visto pelos analistas como o primeiro passo na direção de uma emissão de bônus comuns da Zona do Euro.

O primeiro-ministro italiano, Mario Monti, reforçou a ideia. Ele disse que a disciplina fiscal por si só é insustentável sem crescimento econômico. "A Europa terá de levar em conta a resolução dos líderes do G-8 (no último fim de semana) de que é imperativo impulsionar o crescimento e o emprego, ainda que se comprometendo com a responsabilidade orçamentária", afirmou Monti a uma emissora de TV. Segundo Monti, os líderes também afirmaram seu "interesse na permanência da Grécia na Zona do Euro", o que sinaliza seu apoio à medidas de urgência.

Cenário que levou a bolsa de Londres a fechar em alta de 1,86%, movimento acompanhado pelos das bolsas de Frankfurt (1,65%), Paris (1,88%), Milão (3,41%) e Madri (2,1%).

EUA A bolsa norte-americana se descolou das europeias ontem, com o índice Dow Jones registrando baixa de 1,67% e o Nasdaq, em que as ações do Facebook amargaram nova queda, agora de 18,42% desde o festivo lançamento na sexta-feira, apontaram retração de 8,13%. O rebaixamento da dívida japonesa pela agência de classificação de risco Fitch pesou no humor dos investidores, assim como as pesquisas apontando a vitória da esquerda nas eleições gregas, que parece não ser mais motivo de preocupação para os próprios europeus, dado o desejo da população de se manter na Zona do Euro.

» Fragilidade mundial Os Estados Unidos e o Japão estão liderando uma frágil recuperação econômica entre os países desenvolvidos que ainda pode sair do curso se a Zona do Euro não conseguir conter a crise de crescimento, afirmou ontem a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Em seu panorama econômico, a OCDE prevê que o crescimento econômico vai desacelerar para 3,4% neste ano ante 3,6% em 2011, até que em 2013 acelerará para 4,2%. O crescimento nos 34 membros da organização, em geral os mais ricos do mundo, vai desacelerar neste ano para 1,6%, ante 1,8% em 2011, e então alcançará 2,2% por cento em 2013 em decorrência do agravamento da crise, especialmente na Europa.