Correio braziliense, n. 20198, 08/09/2018. Política, p. 4

 

Risco de um atentado era alto

Alessandra Azevedo, Leonardo Cavalcanti e Rodolfo Costa

08/09/2018

 

 

O ataque sofrido pelo presidenciável Jair Bolsonaro, do PSL, na quinta-feira, foi lamentado pela Polícia Federal, mas não encarado como uma completa surpresa. Ele é um dos cinco candidatos que tinham solicitado proteção pessoal à PF e o que tinha conseguido o maior número de agentes. Dos 80 policiais designados para a segurança dos postulantes ao Planalto na campanha deste ano, 21 estavam com o capitão reformado do Exército, o que sinaliza uma avaliação de que ele corria mais riscos do que outros, disse ontem o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann.


Depois do atentado, a pedido do presidente Michel Temer, o contingente total a serviço dos candidatos deve aumentar para 144 policiais. Segundo a corporação, o reforço já está sendo feito, e os agentes, recrutados. Atualmente, 59 policiais federais fazem a segurança dos candidatos Geraldo Alckmin (PSDB), Ciro Gomes (PDT), Alvaro Dias (Podemos) e Marina Silva (Rede). Os agentes designados para essa atividade fazem parte do Serviço de Segurança de Dignitários (SSD), o mesmo usado para chefes de Estado que vêm ao Brasil.

A concessão de agentes para a segurança de presidenciáveis é feita com base em análises dos riscos que cada postulante encara. Segundo a PF, a avaliação leva em conta uma série de fatores, como as atividades principais da campanha de cada um e os locais aos quais costumam ir. Varia também de acordo com o reduto eleitoral e se ele viaja mais ou menos.

No total, levando em conta as escalas, foram designados, inicialmente, pelo menos seis agentes para cada presidenciável. O número exato não é divulgado pela PF por uma questão de segurança. No caso de Bolsonaro, o total foi de 21, já considerada a variação de acordo com os turnos. “Eles já foram recrutados imaginando que nem todos estarão disponíveis o tempo todo, devido à escala”, explicou um agente da PF.

Cada caso, um caso
Segundo a corporação, o contingente de policiais escalados para cada ocasião varia conforme o tipo de evento e do local, por exemplo. Se for um jantar em um shopping, vai menos. Se for para uma passeata no centro da cidade ou na praia, vai mais. Em eventos públicos, Bolsonaro costuma ser acompanhado por pelo menos sete policiais.

Geralmente, a segurança da PF usa a chamada “posição de diamante”, cercando o candidato a partir de pontos específicos. Um dos policiais fica responsável pela área de inteligência, observando o movimento. Além disso, antes de todos os eventos, a polícia faz uma visita ao local. Os candidatos sempre são avisados de que, ao sair com multidão, a PF não garante a segurança. “É um risco deles”, explicou um agente.

O lugar em que Bolsonaro foi atacado, aberto e com grande proximidade de pessoas, está na lista dos mais prováveis de resultar em algum tipo de agressão — alerta feito ao presidenciável. Por isso, foram 13 policiais com ele na ocasião, número considerado adequado pelo Ministério da Segurança Pública. Além deles, 50 policiais militares trabalhavam para garantir a integridade do capitão do Exército no local.

“Candidato é um bicho difícil, porque ele procura ter contato. Quem lida com segurança sabe que isso faz parte do jogo. O problema é quando você vai para uma situação de risco reiterada sobre a qual a segurança diz: ‘Olha, não dá para fazer segurança nessas condições’. Foi chamada a atenção dele (Bolsonaro) e de outros candidatos”, explicou Jungmann, após o desfile de 7 de Setembro, em Brasília.

“Candidato é um bicho difícil, porque ele procura ter contato. Quem lida com segurança sabe que isso faz parte do jogo”
Raul Jungmann, ministro da Segurança Pública

_________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Reunião com chefes de campanha

08/09/2018

 

 

A Polícia Federal agendou para hoje, às 16h, uma reunião com representantes de campanhas para discutir a segurança dos candidatos à Presidência da República. O objetivo do encontro, convocado pelo diretor-geral da PF, Rogério Galloro, é reavaliar o “grau de risco” de cada campanha e alinhar os procedimentos a serem implementados para garantir a segurança até o fim das eleições.

Antes disso, haverá uma reunião interna com os policiais que chefiam as equipes de segurança dos candidatos. Enquanto o primeiro encontro tem por objetivo reavaliar a situação e definir a estratégia da segurança a ser realizada pela PF daqui para a frente, o segundo objetiva “sensibilizar” as campanhas sobre a importância de seguir as regras estipuladas pela corporação.

As assessorias de imprensa confirmaram a presença dos grupos de Marina Silva, Alvaro Dias e Ciro Gomes no encontro — o de Geraldo Alckmin não respondeu, e o de Bolsonaro não atendeu as ligações. Indagada se pedirá incremento no efetivo de policiais, a campanha de Ciro Gomes disse que “a questão está sendo avaliada e serão observadas as medidas adotadas pela Polícia Federal”.

Um policial federal disse que a reunião com os representantes das campanhas é muito importante porque a relação entre os agentes da PF e os candidatos nunca é de subordinação. Como exemplo, cita essa fonte, a corporação não pode obrigar o presidenciável a evitar eventos espontâneos — como ser carregado nos braços da multidão, mudar trajeto em cima da hora ou quebrar algum protocolo de segurança. Nesse cenário e com o novo grau de risco após o atentado a Jair Bolsonaro, a PF quer conscientizar as campanhas sobre a importância de os postulantes ao Planalto seguirem os protocolos estabelecidos.

Candidatos que ainda não contam com segurança da PF podem fazer a solicitação. Uma fonte na corporação disse que, até o fim da tarde de ontem, nenhuma outra campanha havia feito o pedido. O grupo de Guilherme Boulos (PSol) informou que está em avaliação a possibilidade de fazê-lo. A assessoria afirmou também que não recebeu convite para a reunião de hoje em Brasília. Por sua vez, a campanha do PT alegou estratégia de segurança para não dar informações sobre o tema.

5
Número de presidenciáveis que têm segurança da PF: Ciro Gomes, Marina Silva, Geraldo Alckmin, Alvaro Dias e Jair Bolsonaro