O globo, n. 31088, 18/09/2018. País, p. 10

 

‘QUEM FALA EM REAJUSTE ESTÁ LOUCO OU MENTE’

Indio Costa

Roberto Maltchik

Waleska Borges

18/09/2018

 

 

Na disputa pelo governo do Rio, deputado federal elegeu a segurança pública como o principal pilar de sua campanha. Ele tenta se descolar do governo Cabral, que integrou: “Nunca roubei ou deixei roubar”

Segurança é a resposta na ponta da língua do candidato Indio da Costa para a maior parte dos questionamentos sobre o que faria caso fosse eleito. Ex-secretário de Marcelo Crivella, no Rio, e de Cabral, no estado, hoje se apresenta como crítico do MDB. “Nunca fiz parte desse grupo político”. Na corrida ao Palácio Guanabara, promete revisar incentivos fiscais, renegociar o plano de recuperação e cortar desperdícios para investir em segurança. “As pessoas estão em pânico no Rio de Janeiro”. Indio reconhece que não há espaço para pensar em reajuste para o servidor e diz que falar sobre o assunto agora é, no mínimo, “irresponsável”. Indio foi relator da Lei da Ficha Limpa, vereador do Rio três vezes e, como deputado federal, está no segundo mandato. Em 2010, foi vice na chapa de José Serra (PSDB) para a Presidência.

ROBERTO MALTCHIK E WALESKA BORGES

O senhor costuma falar que fará nomeações por competência e mérito, mas nomeou, quando secretário de Urbanismo da prefeitura, seu sócio em uma empresa de estacionamento. Com salário de R$ 12 mil. Não há uma contradição?

Vocês estão equivocados. Ele é absolutamente competente. Ele foi gerente do Banerj, ele é aposentado, uma pessoa da minha confiança e muito bem qualificada. No meu governo, quem vai escolher os cargos de assessoria são os secretários. Eu não vou ficar indicando o assessor dos secretários. Então eu pego um secretário com muita experiência na área fiscal e digo a ele: é você quem vai cuidar disso aqui. Eu não vou dizer na equipe dele quem é que vai estar.

O senhor também usou o helicóptero da prefeitura para fazer atividades fora da cidade. Acabou utilizando uma dessas viagens para dar entrevista de pré-campanha.

Não tinha nem custo para prefeitura. Não era um helicóptero alugado para prefeitura. A cada pouso na Lagoa, a prefeitura tem direito em utilizar o helicóptero e tem um banco enorme de horas lá. Eu utilizei o helicóptero não foi só para essa atividade nesse dia. Foi para outros locais também. Fui muito de carro, muito de trem, muito de Metrô. Enfim, eu rodei muito o estado.

O ex-secretário de Obras Hudson Braga mencionou, em delação, que o senhor teria recebidodinheiro ilícito.

Olha só, hoje estou dando entrevista aqui, e ele está tendo que dar entrevista na Polícia Federal e no Ministério Público. O Hudson está preso. Eu sou adversário do MDB. Não há nenhum sentido na delação do Hudson. No fundo eles estão querendo me travar para não ganhar.

É mais um elemento que o coloca próximo ao grupo político que governou o estado, do qual osenhor fez parte como secretário.

Eu nunca fiz parte desse grupo político, vamos deixar claro. Eu trabalhei durante um período, pelo PSD, o partido participou dos governos, mas eu nunca participei desses grupos. Nunca fiz obra para o Cabral roubar. Eu não ajudei a pagar as joias da mulher dele. É completamente diferente.

Seu partido apoia o Alckmin para presidente, mas o senhor já declarou que está indeciso e disse que Bolsonaro é um candidato interessante. De onde vem esse interesse?

Entre o que diz o Bolsonaro e o que ele vai poder fazer, tem um filtro chamado Congresso. Eu não creio que o Congresso vá aprovar uma lei para armar a sociedade. Por outro lado, o Bolsonaro consegue, de maneira muito clara, defender algumas posições com as quais eu concordo: desburocratizar, mudar leis para destravar o país. O Alckmin, acho que é um candidato mais preparado, com muito mais experiência, mas ele se aliou ao centrão.

O senhor não estaria querendo se aproveitar do momento bom de Bolsonaro nas pesquisas para ser beneficiado por isso?

Não. E falo isso com muita tranquilidade porque eu disse isso ao Alckmin. Eu disse para ele que, na minha opinião, o centrão não é a solução para o Brasil e disse isso lá atrás. Já tem alguns meses.

Como pretende recuperar o estado da crise financeira?

Primeiro, não roubando. Segundo, não deixando roubar. Depois, não desperdiçando. E, como a segurança pública que vai destravar o estado, então tem que investir no setor. A partir da segurança, eu consigo entrar nas outras áreas. A espinha central do governo está toda na segurança. Não adianta falar de bilhete único, e o cara ser assaltado dentro do ônibus. No hospital, agora, tem uma multidão na fila por conta não apenas da doença comum, mas também pela doença gerada pela falta de segurança pública. Um estresse absoluto. As pessoas estão em pânico no Rio de Janeiro.

Atuar na segurança precisa de investimento. Mas o estado não tem recursos para investir.

São R$ 10,3 bilhões por ano de evasão de divisa de incentivos fiscais. Tem que rever os incentivos e, mais uma vez, ter liberdade para isso. Como é que você vai rever os incentivos? Em um, não pode mexer porque é do amigo do (Jorge) Picciani. No outro, é amigo do Paulo Melo. O terceiro é amigo do Cabral. O outro é ligado ao Eduardo Cunha. Então é delicado. Vou acabar com tudo isso e não quero saber de quem é amigo, acabou.

Mas para rever parte desses benefícios o senhor vai depender da Alerj e dos aliados de quem osenhor acaba de citar e criticar?

Não, necessariamente. Depende. Tem casos e casos. A Assembleia, em geral, ainda mais em começo de governo, vem junto com o governante que é eleito. É ele que coordena e conduz a política do estado. A Assembleia pode até vetar, mas acho pouco provável que o eleito pela população, com esse discurso, que a Assembleia vá contra. O meu presidente da Assembleia será alguém isento desse jogo.

Mas o senhor pode escolher o presidente da Assembleia?

Você tem a interferência. É natural. É claro que a Assembleia terá a liberdade.

Na segurança, o morador da favela é o que mais sofre. Qual seu plano para esta parcela dapopulação?

A primeira coisa é garantir a segurança pública. Sem segurança você não vai destravar o estado. Vamos falar em educação, hospital dentro da comunidade. Se quiser colocar tudo na comunidade e continuar violento, você não vai resolver o problema. A proposta é organizar o estado para que a base do funcionamento dos serviços seja a segurança pública.

O senhor aposta em recuperação de receitas. Isso leva tempo. Tem como pensar em reajuste de salário para professores, por exemplo?

Olha, quem falar que vai dar aumento para servidor ou é louco ou mente. Inclusive, o plano de recuperação fiscal não permite que ninguém dê aumento para nenhum servidor nesse momento. Achei que foi uma loucura o que a Assembleia fez (aprovou aumento) em relação ao Judiciário e Ministério Público. E, se eu for governador, eu primeiro terei capacidade de pagamento para depois reajustar e aumentar.

Quanto ao plano de recuperação fiscal, você pretende deixá-lo como está hoje ou modificá-lo?

Esse plano de recuperação foi para atender o governador, que era amigo do presidente da República. Ele não foi para salvar o Rio de Janeiro, não foi para resolver o problema de quem tá morrendo por bala perdida.

 

Se tivesse que escolher: Paes, Romário e Garotinho no segundo turno?

Pela primeira vez na minha vida, se isso acontecer, vou anular meu voto, porque nenhum dos três têm condições nenhuma de governar o estado. Um refém da máfia do MDB; o outro não entende nada do setor público; e tem um outro que já foi governador e não deixou um legado que gostaria de ver novamente.

Se um dos três vencer, o senhor participaria do governo?

Volto para vida privada imediatamente.