O globo, n. 31088, 18/09/2018. Rio, p. 12

 

Crivella: novo pedido de impeachment na Câmara

Selma Schmidt

18/09/2018

 

 

Oposição entrará hoje com petição alegando ação eleitoral do prefeito, que teria se reunido com funcionários da Comlurb para pedir votos

Enquanto a oposição se articula para ingressar hoje na Mesa Diretora da Câmara de Vereadores com um novo pedido de abertura de processo de impeachment contra o prefeito Marcelo Crivella, a base governista prepara um contra-ataque. Na Casa, circula a informação de que será apresentado até quinta-feira um projeto alterando a Lei Orgânica, de modo a tornar indireta a eleição para prefeito, se o cargo ficar vago, já que Crivella tem maioria na Casa. Na eleição, indireta votam apenas os vereadores. Atualmente, o pleito só é indiretos e a vacância ocorrer nos 12 últimos meses de mandato.

Outra iniciativa estudada pelos governistas é fazer retornar ao Legislativo o vereador Doutor João Ricardo (MDB), que está à frente da Secretaria estadual de Direitos Humanos. Com isso, o vereador Átila Alexandre Nunes (MDB), que também faz oposição a Crivella, retornaria para a suplência. Cada voto é importante nesse momento.

Já a oposição quer garantir que nenhum vereador fique impossibilitado de votar sobre a abertura de processo de impeachment. Para isso, está agindo para que o requerimento seja assinado por alguém de fora. É que o vereador que apresenta o pedido fica impedido de votar.

Será a segunda vez em que o Legislativo decidirá se abre a investigação que poderá resultar no afastamento de Crivella. Agora, a gota d’água para o pedido é um encontro do prefeito com funcionários da Comlurb, na noite da última quinta-feira, na quadra da escola de samba Estácio de Sá, na qual foi acusado de pedir votos para candidatos de seu partido, o PRB.

—O prefeito desrespeitou a decisão da Justiça de que se abstivesse de participar de reuniões políticas — diz o vereador Paulo Pinheiro (PSOL), referindo-se ao fato de que, em julho, o juiz Rafael Cruz proibiu o prefeito de “utilizar a máquina pública municipal para a defesa de interesses pessoais ou de seu grupo religioso”. Para Pinheiro, também contribui para a discussão o fato de o prefeito ter virado réu no processo que apura a reunião, no Palácio da Cidade, revelada pelo GLOBO, em que ele ofereceu facilidades a pastores, entre outras coisas, para agilizar o atendimento de fiéis em unidades de saúde do município.

Rosa Fernandes (MDB), um dos 16 vereadores que votaram a favor do primeiro pedido de impeachment de Crivella (29 votaram “não”), diz que o novo pedido é consequência “da reincidência do prefeito ao utilizar a máquina pública”:

—Ele já é réu por improbidade administrativa, pela reunião com líderes evangélicos. Agora, novamente insiste em prática irregular.

O Ministério Público estadual já anunciou que vai apurar se houve abuso de poder ou improbidade administrativa de Crivella ao se encontrar com funcionários da Comlurb. Em nota, a Secretaria da Casa Civil disse que lamenta que parte dos vereadores de oposição tentem usar o impeachment “como gincana do jogo político, com o objetivo de desestabilizar o governo em período eleitoral”. Garante ainda que não há tentativa de alterar a Lei Orgânica nem de pedir a volta de João Ricardo à Câmara. Quanto ao evento com servidores da Comlurb, a Casa Civil diz que as perguntas devem ser direcionadas aos organizadores.