Título: CPI recebe explicações de Gurgel
Autor: Abreu, Diego; Vasconcellos, João
Fonte: Correio Braziliense, 24/05/2012, Política, p. 3
O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, enviou ontem ao Congresso um ofício no qual responde as cinco perguntas formuladas pela CPI do Cachoeira. As declarações chegaram ao Congresso às 20h de ontem, no último dia do prazo que os parlamentares concederam para que Gurgel se manifestasse. O presidente da CPI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), assegurou que o documento será lido, hoje pela manhã, durante sessão da CPI.
Inicialmente, a CPI cogitou convocá-lo para que prestasse esclarecimentos sobre o fato de não ter pedido a abertura de inquérito contra o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) em 2009, quando recebeu as informações da Operação Vegas. No entanto, diante das negativas de Gurgel, que destacou estar impedido legalmente de comparecer à comissão por ser o titular da investigação, a CPI optou por interrogar o procurador-geral por escrito.
Gurgel afirmou ontem que não citou em suas respostas o fato relatado pela subprocuradora-geral Claudia Sampaio de que teria partido da Polícia Federal a sugestão de suspender as investigações da Operação Vegas. “Não havia nenhuma pergunta que focasse esse aspecto. Por isso, esse aspecto não é mencionado”, disse em entrevista. Ele, porém, assumiu a responsabilidade pela decisão de não investigar Demóstenes em 2009. O procurador-geral alerta no documento que, naquela ocasião, os fatos “não adentravam a seara penal, situando-se, ainda, no campo ético”.
As respostas foram enviadas em 24 tópicos distribuídos em sete páginas. De acordo com Gurgel, as diligências solicitadas no inquérito que tramita no Supremo Tribunal Federal não têm relação com a Operação Vegas, mas apenas com as investigações da Monte Carlo. Para ele, a estratégia da PGR de não abrir o inquérito há três anos se mostrou bem-sucedida. “Se assim não tivesse agido a Procuradoria-Geral da República, não se teria desvendado o grande esquema criminoso protagonizado por Carlos Cachoeira, compreendendo não somente a exploração de jogos de azar, mas também fraudes em licitação, corrupção de servidores, lavagem de dinheiro, entre outros delitos de acentuada gravidade”, frisou no ofício.
MP contra ida de procuradores
Integrantes do Ministério Público Federal articulam uma maneira de evitar que os procuradores da República Lea Batista de Oliveira e Daniel Rezende Salgado tenham que prestar depoimento à CPI do Cachoeira. Há um consenso no órgão de que a tentativa de levar os dois à comissão é uma manobra para desgastar o MP e resgatar os questionamentos sobre a atuação do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, no caso. A estratégia de procuradores próximos a Lea e Daniel, que já conseguiram adiar os depoimentos para depois de 31 de maio — quando haverá a audiência de instrução da operação Monte Carlo — é trabalhar nos bastidores para convencer parlamentares que integram a CPI da “inutilidade” dos depoimentos. O argumento utilizado é de que os dois procuradores não investigaram as relações de Carlinhos Cachoeira com políticos e empresas públicas e privadas, mas apenas o esquema de jogos ilegais montado pelo bicheiro em Goiás. ( Júnia Gama )
Três depoimentos hoje
A CPI do Cachoeira vai ouvir hoje os depoimentos de três integrantes da organização criminosa chefiada pelo bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Foram convocados Idalberto Matias de Araújo, o Dadá, braço direito do contraventor e um dos principais espiões do grupo; Jairo Martins de Souza, também araponga; e o ex-vereador de Goiânia Wladmir Garcez. A expectativa é de que Dadá e Jairo sigam o mesmo caminho de Cachoeira e aleguem a garantia constitucional de permanecer em silêncio. Garcez deve ser o único a se pronunciar. Ele já teria escrito um texto para ler antes do depoimento.
Um grupo de senadores pretende, antes do início dos depoimentos, tentar convencer o presidente da comissão, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), a votar os requerimentos que pedem a quebra dos sigilos fiscal, bancário e telefônico da Delta Construções em todo o Brasil e a convocação do ex-presidente da empreiteira Fernando Cavendish.
A missão será difícil. O senador Vital do Rêgo afirmou ontem que é muito complicado transformar as oitivas numa sessão administrativa, mas declarou que tudo dependia de um acordo entre os integrantes da CPI. “Se tiver um acordo, tudo pode acontecer. Esperamos que os depoentes colaborem com a comissão.” Ontem, a 1ª Vara de Fazenda Pública do DF manteve a desclassificação da empresa da licitação realizada, em 2007, para o serviço de limpeza pública da capital federal. (JV)