O Estado de São Paulo, n. 45590, 13/08/2018. Política, p. A4
Candidaturas de militares dobram em quatro anos
Felipe Frazão e Tânia Monteiro
13/08/2018
Eleições 2018 Perfil dos concorrentes / Forças Armadas. ‘Estado’ identificou 25 postulantes a cargos no Executivo, alta de 92% em relação a 2014; rejeição a políticos tradicionais e violência explicam trajetória
Incentivados pela reprovação a políticos de carreira, militares ampliaram a participação na disputa por cargos do Poder Executivo neste ano. O número de candidatos originários das Forças Armadas, da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros quase dobrou em relação ao pleito de 2014. O Estado identificou pelo menos 25 militares, da ativa ou da reserva, que vão concorrer a presidente, vice-presidente, governador ou vice-governador, ante 13 nomes na eleição passada, um aumento de 92%. Se comparado com 2010, quando sete militares disputaram esses cargos majoritários, a alta chega a 257%.
Quando considerado todo o universo de candidatos ao Executivo, os militares representam 7% dos nomes já anunciados pelos partidos. Na eleição passada, a proporção era de 3% do total de profissões registradas ao fim do pleito, conforme dados da Justiça Eleitoral. Os números podem sofrer variações porque o prazo para os candidatos requisitarem o registro vai até a próxima quinta-feira. O perfil dos candidatos vai de apoiadores de Jair Bolsonaro (PSL) até militar filiado a partidos de esquerda .
Com mais de 64 mil assassinatos registrados no ano passado e confrontos frequentes entre facções criminosas internacionalizadas, a violência tornou-se uma das pautas mais sensíveis do debate eleitoral.
“Os militares estão sendo alçados a se candidatar como consequência do momento nacional, um País enfrentando tantas mazelas e dificuldades. Pesquisas de opinião junto à sociedade brasileira mostram que, entre as demais instituições, as Forças Armadas têm maior índice de confiabilidade. E a sociedade está em busca disso”, afirma o comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, que promoveu rodadas de conversas com os principais concorrentes à Presidência da República. Essa visão é endossada pelo ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência, general Sérgio Etchegoyen.
Para o cientista político Hilton Cesario Fernandes, da FESPSP, com a crise na área da segurança pública, os casos de corrupção e o descrédito nos nomes tradicionais da política “era de se esperar que militares fossem o ‘perfil da vez’ para muitos eleitores”. “E esta é uma tendência que não tem dado sinais de mudança para os próximos anos”, afirmou ele.
Divisão. Dos 25 nomes, seis são do Exército, a maior das três Forças e a mais influente politicamente. Não há candidatos da Marinha ou da Aeronáutica. Os demais são policiais (17) e bombeiros militares (2). A reportagem não incluiu na contagem candidatos a cargos no Legislativo nem carreiras vinculadas à segurança pública, mas de caráter civil, como guardas municipais, delegados e policiais civis ou federais que também vão disputar cargos majoritários.
Três militares concorrem ao Palácio do Planalto, como candidato a presidente ou vice: Bolsonaro, que é capitão da reserva do Exército, e seu candidato a vice, o general da reserva do Exército Hamilton Mourão (PRTB), além do deputado Cabo Daciolo (Patriota), ex-bombeiro.
Os outros 22 nomes disputam cargos de governador ou vice. No Rio, por exemplo, o PRTB lançou uma chapa pura formada por dois policiais militares. Em São Paulo, três mulheres da Polícia Militar foram convidadas para compor chapas como candidatas a vice-governadora do Estado.
PARA ENTENDER
Categoria tem regra diferente
As regras para filiação de candidatos militares são diferentes dos civis. Militares da ativa com mais de 10 anos de serviço e que não tenham cargo no alto comando da corporação só podem se filiar após serem escolhidos em convenção partidária. Segundo a Justiça Eleitoral, somente a partir da convenção é que o militar é considerado filiado à sigla. A partir daí, deve comunicar à autoridade a qual é subordinado para passar à condição de agregado (momentaneamente inativo). Se for eleito, vai para a inatividade. Se tiver menos de 10 anos de serviço, após escolhido em convenção, é transferido para a inatividade em definitivo. Em ambas as situações, o militar não precisa respeitar a regra geral de seis meses de filiação antes do pleito.
CANDIDATOS NOS ESTADOS
ACRE
CANDIDATO AO GOVERNO
Ulysses Araujo (PSL)
Coronel da PM
CANDIDATO A VICE
Major Wherles Rocha (PSDB)
•Vice na chapa do PP
Major da PM reformado
AMAPÁ
CANDIDATO A VICE
Jozean Torres (PSL)
•Vice na chapa do PSL
Sargento da PM
CEARÁ
CANDIDATO AO GOVERNO
General Theophilo (PSDB)
General reformado do Exército
DISTRITO FEDERAL
CANDIDATOS AO GOVERNO
Alberto Fraga (DEM)
Coronel reformado da PM
Paulo Chagas (PRP)
General da reserva do Exército
MARANHÃO
CANDIDATO A VICE
Roberto Filho (PSL)
•Vice na chapa do PSL
Tenente coronel da PM
PARÁ
CANDIDATO AO GOVERNO
Márcio Miranda (DEM)
Capitão reformado da PM
CANDIDATO A VICE
Sergio Malucelli (PMN)
•Vice na chapa do PP
Coronel reformado da PM
PIAUÍ
CANDIDATO A VICE
Carlos Pinho (PROS)
• Vice na chapa do PSL
Coronel reformado da PM
RIO
CANDIDATO AO GOVERNO
André Monteiro (PRTB)
Subtenente da PM
CANDIDATOS A VICE
Jonas Licurgo (PRTB)
• Vice na chapa do PRTB
Sargento da PM reformado
Marcelo Delaroli (PR)
•Vice na chapa do Podemos
Cabo da PM reformado
RONDÔNIA
CANDIDATOS A GOVERNO ]
Marcos Rocha (PSL)
Coronel reformado da PM
Charlon da Rocha (PRTB)
Tenente-coronel reformado da PM
SANTA CATARINA
CANDIDATO AO GOVERNO
Carlos Moisés da Silva (PSL)
Oficial da reserva do Corpo de Bombeiros
SÃO PAULO
CANDIDATO AO GOVERNO
Adriano Costa e Silva (DC)
Major do Exército
CANDIDATAS A VICE
Fátima Pérola Negra (DC)
•Vice na chapa do DC
Cabo da PM
Eliane Nikoluk (PR)
•Vice na chapa do PSB
Coronel da PM
Carla Basson (MDB)
•Vice na chapa do MDB
SERGIPE
CANDIDATO AO GOVERNO
Márcio Souza (PSOL)
Cabo da PM
CANDIDATO A VICE
Jorge Husek (DEM)
•Vice na chapa do DEM
Coronel da reserva do Exército