Título: Martins, Victor
Autor:
Fonte: Correio Braziliense, 24/05/2012, Economia, p. 14

O Brasil não ficou de fora da rodada de prejuízos deflagrada pela situação europeia e a Bolsa de Valores de São Paulo (BMF&Bovespa) amargou seu segundo dia consecutivo de queda, fechando em baixa de 0,76%, aos 54.619 pontos. A cotação do dólar comparado ao real, por outro lado, se descolou do mercado externo e fechou em alta de 1,99%, a R$ 2,039.

O movimento de alta, porém, foi puxado por mais uma intervenção do Banco Central (BC), que operou no mercado futuro com o objetivo de conter uma escalada da moeda. Diferente de terça-feira, ontem a medida funcionou. A autoridade monetária se viu obrigada a intervir porque os dólares se tornaram escassos no mercado. Para Carlos Hamilton Araújo, diretor de Política Econômica do BC, foi preciso entrar no mercado porque a instituição identificou que ele não “funcionava adequadamente em termos de liquidez e volatilidade”.

Pedágio A crise na Europa e os pedágios impostos pelo governo para o capital estrangeiro no Brasil, além de um dólar em alta, têm causado uma saída expressiva de dólares, os economistas ainda evitam usar a palavra fuga, mas acreditam que a situação pode caminhar para isso. A diferença entre todos os recursos que entraram e saíram do país deixaram um saldo negativo de US$ 1,5 bilhão em maio até o dia 18. Apenas pela via financeira, a saída foi de US$ 5,1 bilhões. O estrago só não foi maior no fluxo cambial devido os exportadores, que trouxeram US$ 3,6 bilhões para o país no período.

“Ainda não é um dado alarmante para se falar em fuga, mas precisa de monitoramento porque pode sinalizar uma saída mais consistente de recursos”, avaliou Sidnei Nehme, economista da NGO Corretora. “Agora seria irrecuperável tirar o IOF das captações estrangeiras, o estrago foi feito”, observou. Segundo ele, o clima de insegurança criou uma tendência a “preservação de liquidez”, ou seja, quem tem dinheiro em caixa não vai aplicar, deve esperar a situação se desenrolar para tomar decisões.

Nesse contexto, ainda de acordo com Nehme, os investidores estão migrando para ativos considerados seguros, como os títulos do tesouro norte-americano e alguns asiáticos. “Isso faz com que os fluxos para o Brasil diminuam, não só por causa das medidas de IOF, mas principalmente pelo cenário externo”, disse. André Perfeito, economista-chefe da corretora Gradual Investimento tem visão semelhante à de Nehme. “Além da apreciação do dólar, a taxa de juros de títulos de 10 anos do governo norte-americano está na mínima histórica mostrando mais uma vez o grau de aversão ao risco”, pontuou.