Correio braziliense, n. 20196, 06/09/2018. Política, p. 4

 

Inquérito da PF aponta para Temer

06/09/2018

 

 

LAVA-JATO » Relatório final das investigações vê indícios de que o presidente teria cometido crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro

No relatório final do inquérito sobre repasses de R$ 10 milhões do grupo  Odebrecht para integrantes do MDB, a Polícia Federal concluiu pela existência de indícios de que o presidente Michel Temer cometeu crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

O documento foi encaminhado ontem ao Supremo Tribunal Federal (STF), e também indica a prática dos mesmos crimes pelos ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Minas e Energia). Outro citado é candidato ao governo de São Paulo pelo MDB, Paulo Skaf. No caso dele, a PF aponta indício de prática de caixa 2.

O caso está relacionado com o jantar no Palácio do Jaburu, em 2014, que foi detalhado nos acordos de delação de executivos da Odebrecht. Então vice-presidente, Temer teria participado do encontro em que o valor do repasse ao MDB teria sido solicitado.

No caso do presidente, a PF mapeou a entrega de R$ 1,4 milhão para João Baptista Lima Filho, o coronel Lima, amigo do emedebista. Para sustentar a tese, a PF ouviu o doleiro Álvaro Novis, responsável pelas entregas, e anexou ao relatório do inquérito uma conversa em que o próprio Lima aparece em ligação para a empresa de Novis em dias de entrega dos valores.

“Pelo teor da conversa, resta inconteste que, ao ser informado sobre a chegada da encomenda, João Baptista Lima Filho informou que estava distante do local, solicitando que o horário fosse remarcado para as 15h, informação que acabou se refletindo nos diálogos mantidos via Skype”, diz trecho do relatório.

A ligação para a empresa do doleiro foi às 10h25 de 19 de março de 2014. Às 11h35, Lima ligou para um celular em nome de Temer e, às 11h37, o amigo do presidente recebeu outra ligação da empresa do doleiro responsável pelas entregas. Logo após esta conversa, às 11h51, Lima voltou a ligar para Temer, com quem conversou por cerca de 5 minutos.

Além na entrega do dinheiro no dia 19, a PF mapeou outras duas, realizadas em 20 e 21 de março daquele ano. Sobre Skaf, o relatório da PF aponta que o candidato recebeu R$ 5.169.160 em 2014 por meio do publicitário Duda Mendonça como forma de custear gastos de campanha eleitoral não declarados.

O Palácio do Planalto afirmou que a conclusão do inquérito da PF  “é um atentado à lógica e à cronologia dos fatos”. “A investigação se mostra a mais absoluta perseguição ao presidente”, diz a nota.

O ministro Eliseu Padilha disse que não comentaria o assunto. Moreira Franco informou que não solicitou valores à Odebrecht e que “as conclusões da autoridade policial se baseiam em investigação marcada pela inconsistência”. Paulo Skaf afirmou que todas as doações feitas para sua campanha estão registradas na Justiça Eleitoral.

___________________________________________________________________________________________________________________________________________

Denúncia no Paraná

06/09/2018

 

 

A força-tarefa Lava-Jato do Ministério Público Federal (MPF) do Paraná denunciou ontem 11 investigados por corrupção (ativa e passiva) e lavagem de dinheiro — entre os quais Deonilson Roldo, ex-chefe de gabinete do ex-governador Beto Richa (PSDB), candidato ao Senado, e o empresário Jorge Theodócio Atherino, apontado como ‘operador’ de propinas do tucano. O juiz Sérgio Moro recebeu a denúncia e abriu ação penal contra os todos os denunciados.

Segundo o MPF, as provas que embasam a acusação “revelaram o pagamento de propinas pela empreiteira Odebrecht para obter favores ilegais relacionados à Parceria Público Privada (PPP) para exploração e duplicação da PR-323, entre os municípios de Francisco Alves e Maringá, durante o ano de 2014, cujo valor era de R$ 7,2 bilhões”. Além de Atherino e Roldo, são acusados doleiros e executivos ligados à Odebrecht.

“A defesa do ex-governador entende que as alegações do Ministério Público Federal não apresentam qualquer sustentação. O ex-governador sempre pautou suas ações baseado nos princípios legais. A obra de duplicação da rodovia PR-323 nunca aconteceu. Também nenhum recurso público, de origem federal ou estadual, foi aportado na licitação. Não houve também qualquer direcionamento em licitação”, afirmou, em nota, a assessoria de Richa.

“A Odebrecht continua cooperando com as autoridades e está focada no exercício de suas atividades e na conquista de novos projetos”, declarou a empreiteira.