O globo, n. 31099, 29/09/2018. Economia, p. 27

 

Desemprego recua, mas ainda há 12,7 milhões à procura de vaga

Gabriel Martins

29/09/2018

 

 

 Recorte capturado

Redução da taxa para 12,1% no trimestre encerrado no mês passado foi motivada principalmente pelo aumento da subocupação e do trabalho por conta própria

O desemprego recuou para 12,1% no trimestre encerrado em agosto, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua divulgados ontem pelo IBGE. No trimestre encerrado em maio, a taxa estava em 12,7%. Atualmente, o Brasil tem 12,7 milhões de pessoas à procura de vaga, frente aos 13,2 milhões do trimestre anterior. A redução foi motivada, principalmente, pelo aumento da subocupação —pessoas que trabalham menos horas do que gostariam (subocupados) —e do trabalho por conta própria. Para especialistas, este quadro é reflexo da precarização do mercado de trabalho.

—Aquedado desemprego não ocorreu porque houve uma fuga para o grupo de desalento( pessoas que desistiram de procurar). Houve de fato um aumento da ocupação, entretanto, este crescimento foi acompanhado de subocupação e do trabalho por conta própria — comentou Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE. O desalento se manteve estável na comparação entre os trimestres, mas ainda está em patamar recorde, com 4,8 milhões de pessoas. Apenas no último ano, 555 mil brasileiros deixaram de buscar emprego. O contingente de trabalhadores subocupados registrou aumento de 5,3% em agosto, na comparação como trimestre encerrado em maio: saiu de 6,37 milhões para 6,71 milhões. Em relação ao mesmo período de 2017, o aumento foi ainda maior: 8,9%, ou mais 548 mil pessoas trabalhando menos de 40 horas semanais.

VOLTA PELA INFORMALIDADE

No caso dos trabalhadores por conta própria, o crescimento foi de 1,5% na comparação com maio. Eram 22,9 milhões em maio e, em agosto, passaram a 23,3 milhões. —Com dificuldade para encontrar melhores vagas, os trabalhadores começam a aceitar postos que pagam menos e que têm carga horária reduzida — explica Thiago Xavier, economista da Tendências Consultoria.—Essa dificuldade também faz com que as pessoas busquem atividades para gerar renda por conta própria. Bruno Ottoni, pesquisador do Ibre/FGV e do IDados, destaca que a volta de trabalhadores para o mercado de trabalho tem sido feita pela porta da informalidade.

— A tônica do mercado de trabalho, desde o início de sua recuperação, em meados de 2017, tem sido puxada pela informalidade. Acredito que, caso a economia continue dando sinais de melhora, é possível que no fim do ano vejamos uma melhora nos postos com carteira assinada. Em relação ao futuro do mercado de trabalho, o economista da Tendências acredita que o foco deixará de ser a indecisão política e passará a ser a agenda do novo governo. — Com o fim da eleição, o que influenciará será a agenda

do novo presidente e aviabilidade de diálogo como Congresso para aprovaras medidas defendidas—diz Xavier. — O desafio será criar vagas para quem está à procura e para aqueles que já perderam as esperanças de se recolocar. No total, falta trabalho para 27,5 milhões de pessoas. Este número inclui desempregados, desalentados, subocupados e aqueles que estão na força de trabalho potencial (pessoas que poderiam trabalhar, masque não têm como assumi rumava ganes te momento, por que estão, por exemplo, com problemas de saúde ou cuidando de um parente).

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Dívida pública sobe para R$ 5,2 trilhões e chega a 77,3% do PIB

Gabriela Valente

29/09/2018

 

 

Déficit nas contas de União, estados e municípios aumenta em agosto para R$ 16,9 bilhões

Mesmo com o pagamento de mais de R$ 70 bilhões do BNDES aos cofres do Tesouro Nacional, a dívida pública cresceu em agosto. O endividamento bru todo país aumentou 0,7% e chegou a R$5,2 trilhões, um recorde histórico. Isso representa 77,3% do PIB, ou seja, de tudo o que o Brasil produz em um ano. A alta do dólar influenciou e fez com que os juros explodissem. Como o governo não conseguiu poupar nenhum centavo para pagar nem mesmo os juros das parcelas do mês passado, teve de emitir mais dívida para honrar os compromissos. Essa ciranda tem aumentado sistematicamente o endividamento. A expectativa dos analistas é que o país não conseguirá sair do vermelho nos próximos quatro anos, e a dívida chegará a 80% do PIB.

A alta de mais de 10% da moeda americana fez com que os juros da dívida pública aumentassem 133% e chegassem a R$60 bilhões no mês passado. É o maior gasto para agosto na História. Além de uma conta de juros mais alta, o país não conseguiu poupar nada para amortizar a dívida. Pelo contrário. União, estados, municípios aumentaram o déficit das contas públicas. Ele passou de R$ 9,5 bilhões, em agosto do ano passado, para R$ 16,9 bilhões no mesmo mês deste ano.

VULNERABILIDADE

Alberto Ramos, economista chefe do Goldman Sachs para América Latina, diz que, na melhor das hipóteses, o Brasil só voltará agastar menos do que arrecada em 2022. Ele aposta que a dívida pública continuará ase deteriorar. Excederá 80% do PIB antes de se estabilizar: —Isso deixa o quadro fiscal e a economia em geral vulneráveis achoques domésticos e externos adversos. No cálculo dos analistas, depois de conseguir equilibrar as contas, o Brasil precisará começara economizar de 3% a 3,5% do PIB todo sosanos. Esse seria o nível de superávit primário que colocaria a dívida pública bruta em trajetória de declínio. Só assim, o país conseguiria ter dinheiro para, por exemplo, conseguir incentivara economia em momentos de crise.