Correio braziliense, n. 20193, 03/09/2018. Política, p. 2

 

Todos contra o PT

Rodolfo Costa e Denise Rothenburg

03/09/2018

 

 

ELEIÇÕES 2018 » Após propaganda eleitoral enaltecer o ex-presidente Lula como candidato, adversários vão para cima da legenda. Novo entra com ação no TSE e cobra suspensão imediata da peça publicitária. Mas petistas repetem a fórmula

Os adversários do PT não perderam tempo e foram para cima da legenda após a propaganda veiculada no horário eleitoral. O PSDB classificou como “enganação” a decisão petista em manter a transmissão da peça publicitária que enaltece o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como candidato. O Novo foi além e entrou ontem com uma ação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) cobrando a imediata suspensão da publicidade. O presidenciável Ciro Gomes, do PDT, que disputa votos na esquerda com o petista, fez críticas, pediu “responsabilidade” e associou Fernando Haddad, vice de Lula, à ex-presidente Dilma Rousseff.

A postura de ataque ao PT é parte da estratégia dos partidos na tentativa de deslanchar nas pesquisas. Geraldo Alckmin, do PSDB, e João Amoêdo, do Novo, tentam crescer na centro-direita. Para isso, o confronto com os petistas é inevitável. Jair Bolsonaro, do PSL, construiu uma narrativa na esteira “anti-PT” e, hoje, lidera as pesquisas nos cenários sem Lula. Tucanos e a “onda laranja” sabem que o impulsionamento na corrida eleitoral passa por abocanhar parte do eleitorado não cativo de Bolsonaro e de outros indecisos identificados com a direita política.

Em campanha em São Bernardo do Campo (SP), berço político do PT, Alckmin classificou a propaganda petista como uma tentativa de “esconder” o “real candidato”. No julgamento de sexta-feira, o TSE julgou Lula inelegível e definiu que ele não pode fazer campanha. Por isso, os tucanos entendem que a propaganda petista deveria apresentar Haddad como presidenciável. “O que o PT está fazendo é uma coisa absurda, porque é uma enganação para a população. Eles sabem que o Lula não vai ser candidato e o que estão fazendo é tentar, artificialmente, vitimizar alguém que foi condenado e, de outro lado, esconder o candidato”, criticou.

A propaganda do PT informa o eleitor de que a Organização das Nações Unidas (ONU) entende que Lula pode ser candidato. Ao longo de toda a publicidade, Haddad e Lula enaltecem a candidatura do ex-presidente. Na ação movida pelo Novo, a legenda enumera que Haddad fala de Lula durante 31 dos 143 segundos. A defesa da legenda ainda ressalta que a imagem de Lula é veiculada durante 43 segundos e há 20 referências diretas a ele na peça publicitária.

O tempo destinado a Haddad na propaganda é, na avaliação do Novo, desproporcional para alguém que deveria figurar como o real candidato. “Quem assiste à propaganda nem sequer sai com a informação de que ele é o candidato a vice-presidente”, assinalou a advogada Marilda de Paula Silveira. Para ela, há um “evidente desvio da utilização” da publicidade, que infringe dois artigos da legislação eleitoral. Por esse motivo, a defesa sustenta a suspensão da veiculação com fixação de multa em caso de descumprimento. “E a perda de tempo equivalente ao dobro do usado na prática do ilícito (todo o tempo de propaganda), no período do horário gratuito subsequente, dobrada a cada reincidência.”

Laboratório

O raciocínio não é muito diferente da centro-esquerda liderada pelo PDT. Atrás nas pesquisas, Ciro sabe que disputa parte do eleitorado da esquerda com os petistas. Para isso, também foi ao ataque e mirou Haddad, possível substituto de Lula na disputa. Em campanha em Jundiaí (SP), Ciro o classificou como mais uma “experiência” do “laboratório” petista. “A gente precisa ter um pouquinho de responsabilidade para saber que o Brasil não é um laboratório. O Brasil não aguenta mais experiências. A Dilma, afinal de contas, começou esse desastre que nós estamos vivenciado no país”, declarou.

A candidata da Rede, Marina Silva, adotou um tom mais comedido. Potencial herdeira de votos de Lula, ela acredita que tudo ainda será “adequado”. “Há uma decisão que já foi tomada e provavelmente tudo isso será adequado de acordo com as notificações judiciais. A Justiça está fazendo seu trabalho. Eu não tenho nenhuma ansiedade tóxica em relação ao processo político”, destacou, em campanha no Centro de Tradições Nordestinas (CTN), zona norte de São Paulo. Procurados, Bolsonaro e Alvaro Dias, candidato do Podemos, não se posicionaram.

Apesar da decisão do TSE, o PT continua associando Lula como o principal candidato das eleições. Ontem, o partido veiculou um vídeo de 30 segundos em que apresenta eleitores se afirmando como “Lula”. Haddad reforça o coro. “Não adianta impedir que Lula ande o país, pois somos milhões de Lula”, declarou. Em Maceió, o vice-candidato petista ressaltou que qualquer mudança na campanha será discutida somente após uma reunião que ele terá hoje com o ex-presidente, na Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba.

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Fase ainda é de transição

03/09/2018

 

 

Os rivais políticos do PT podem até espernear e mover ações por entenderem que há irregularidade na propaganda veiculada na rádio e na TV, mas as reclamações não devem ter muito efeito. É o que dizem interlocutores de ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Internamente, os magistrados consideram a fase como de “transição”, uma vez que a sessão de julgamento da candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva terminou na madrugada de sábado. Oficialmente, a Corte esclarece que as propagandas enviadas pelos partidos na sexta-feira só podem ser transmitidas até hoje.

A partir de amanhã, a situação terá de mudar de figura. Os ministros alertam que o PT terá que parar de fazer a campanha de Lula. Enquanto apoiador, ele só poderá aparecer em 25% do horário eleitoral do partido. O PT, entretanto, planeja insistir no nome do ex-presidente até onde der, e sequer marcou a reunião da comissão executiva que confirmará o nome de Fernando Haddad como candidato e colocará Manuela D´Ávila na vaga de vice, afirmou o líder do PT na Câmara, Paulo Pimenta (RS).

“Não vamos mexer nisso enquanto não estiverem esgotados todos os recursos no Supremo Tribunal Federal (STF). Temos todas as condições de garantir uma liminar”, disse. O PT sabe que, na Suprema Corte, os ministros que compõem o TSE, Rosa Weber, Edson Fachin e Luís Roberto Barroso, não poderão relatar esses pedidos da defesa de Lula. Tampouco a presidente, ministra Cármen Lúcia, por questões regimentais. Logo, restam o decano Celso de Mello, Marco Aurélio Mello, Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski, Dias Toffoli, Luiz Fux e Alexandre de Moraes.

Com isso, um recurso de Lula ao STF seria distribuído, em tese, entre sete dos 11 ministros da Suprema Corte. A avaliação do PT é a de que as maiores chances de vitória seriam se o recurso caísse com Marco Aurélio ou Lewandowski. (DR e RC)