Título: Fuga de dólares bate recorde
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 25/05/2012, Economia, p. 11

Os investidores estrangeiros estão abandonando a Bolsa de Valores de São Paulo (BMF&Bovespa). Com receio de que o cenário internacional se agrave e os problemas na Europa respinguem no Brasil, reduziram expressivamente suas apostas e têm migrado para portos considerados mais seguros, a exemplo dos títulos do tesouro norte-americano. Esse início de fuga tem derrubado ainda o Ibovespa, o principal indicador da casa, que amarga perdas de 12,55% no mês e, apenas ontem, 1,02% de queda. Esse movimento também tem contribuído para uma ligeira corrosão das contas externas, que registraram o pior abril da história, um rombo de US$ 5,4 bilhões.

Segundo dados do Banco Central, em maio, apenas até o dia 22, os estrangeiros tiraram do país US$ 1,746 bilhão — o pior desempenho para o mercado acionário desde novembro de 2008, auge da crise desencadeada pela quebra do Banco Lehman Brothers, quando essa saída havia ficado em US$ 1,756 bilhão. O ritmo de Investimento Estrangeiro Direto (IED), um capital que é direcionado para o setor produtivo, também se reduziu a despeito de ainda vir a contento dos economistas. A expectativa do BC é que entre abril e maio esses recursos diminuam 34,7%, de US$ 4,6 bilhões para US$ 3 bilhões.

Para o chefe adjunto do Departamento Econômico do Banco Central, Fernando Rocha, ainda não há problema nas contas externas. "Esse recuo no IED está em linha com nossas projeções e tem coberto o deficit externo", afirmou. Questionado sobre a saída dos estrangeiros do mercado, Rocha se esquivou e disse apenas que o segmento é mais volátil. Jankiel Santos, economista-chefe do Espirito Santo Investment Bank, avalia que os investidores têm fugido das ações para ficar com dinheiro em caixa. Segundo ele, esses estrangeiros reduziram suas apostas, mas não acabaram com elas. "O mercado tem uma perspectiva para a bolsa que não é a mais frutífera e lá fora ainda há um sentimento grande de aversão ao risco", ponderou.

Recuperação Inês Filipa, economista-chefe da corretora Icap Brasil, observa que diante do cenário de crise na Europa e da lenta recuperação da economia global, é "natural" uma saída do mercado acionário. "A gente tem uma conjuntura que não é só doméstica, que é internacional, então é natural que tenha essa saída de recursos para ativos mais seguros", argumentou. Na visão dela, o derretimento do Ibovespa está próximo do fim: a faixa entre 53 mil pontos e 56 mil seria o piso do indicador. Ele só desce ainda mais, na avaliação dela e de outros especialistas, caso ocorra um problema mais grave, como a saída da Grécia da Zona do Euro ou a quebra de algum banco — uma situação que tem chances crescentes de se concretizar, principalmente a volta dos gregos para sua moeda antiga, o dracma.

A bolsa brasileira, este ano, só não sofreu mais do que a da Espanha, que encolheu 23,72% até o pregão de ontem.

Os mercados, porém, estão "desiludidos com o Brasil", segundo relatório do Barclays divulgado ontem. Os motivos incluem forte intervenção governamental em diversos setores, como petróleo e bancos, além do câmbio, e a lenta recuperação econômica do país.

Se a economia voltar a crescer no segundo semestre, no entanto, "os mercados podem renovar seu interesse em ativos brasileiros (se o contexto global permitir), embora provavelmente com um pouco menos de intensidade que no passado", na visão do Barclays. O relatório reforça artigo da revista inglesa The Economist de que o Brasil enfrenta nova avaliação de como sairá da crise atual, que tem paralisado a Europa.