Correio braziliense, n. 20194, 04/09/2018. Brasil, p. 6

 

Nota baixa para o Brasil

Gabriela Vinhal

04/09/2018

 

 

EDUCAÇÃO » Pela terceira vez seguida, país fica aquém das metas de aprendizado estabelecidas pelo governo federal para o 6º a 9º ano e para o ensino médio. No DF, escolas do fundamental se destacam

Pela terceira vez, o Brasil não atingiu as metas de aprendizado estabelecidas pelo governo federal para o ensino médio. Mesmo com notas mais altas no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), divulgadas ontem pelo Ministério da Educação (MEC), nem sequer a rede privada alcançou o objetivo. Só os primeiros anos do ensino fundamental conseguiram atingir a nota prevista — foram registrados 5,8 pontos, enquanto a projeção era de 5,5. Em todos os 26 estados e no Distrito Federal, a média das notas nessa faixa de ensino — que inclui escolas particulares, estaduais e públicas — superou o desempenho de 2015.

Segundo dados do Ideb, a meta do ensino médio para 2017 era de 4,7. O país, no entanto, registrou 3,8 — 0,1 a mais que em 2016. O índice ficou estagnado por três divulgações seguidas. Na etapa final do ensino fundamental, do 6º ao 9º ano, o objetivo também foi descumprido. Em 2017, com índice de 4,7, o Brasil não alcançou os 5 pontos esperados. Para o ministro da Educação, Rossieli Soares, as notas baixas revelam a necessidade de reformular o ensino no país, ou as próximas metas não serão alcançadas.

“Estamos nos afastando cada vez mais. A chance de cumprirmos as metas estabelecidas é nula hoje no ensino médio. Nesse ritmo, não cumpriremos a meta para 2021. Não cumpriremos em década, arrisco a dizer”, afirmou. Além de o país não conseguir atingir o índice esperado, cinco estados tiveram redução no Ideb entre 2015 e 2017: Amazonas, Roraima, Amapá, Bahia e Rio de Janeiro. O estado com melhor Ideb, o Espírito Santo, obteve 4,4 pontos, não atingindo a meta de 5,1 para o local.

De acordo com Soares, os números apresentados são “vergonhosos” e refletem os altos índices de desistência dos estudantes, que não conseguem acompanhar o ritmo pela defasagem na aprendizagem ou são reprovados ainda nos primeiros anos de escola. “Um dos dados mais vergonhosos do MEC são os de reprovação e abandono nos ensinos fundamental e médio. Se a criança não aprende na escola, naquele momento, a chance de não seguir adiante é gigantesca. O fluxo vem da própria aprendizagem. Reprovar o aluno não é a solução.”

Na rede estadual, o ensino médio avançou em apenas dois estados, Pernambuco (4,1) e Goiás (4,3). O Distrito Federal seguiu a média nacional de aumento de 0,1 ponto. Entre as escolas particulares, o ensino médio do DF figura em quarto lugar, com 6 pontos, atrás apenas do Espírito Santo (6,1) e de Minas Gerais (líder, com 6,3 pontos).

Meta

No ano passado, o governo de Michel Temer estabeleceu — por meio de medida provisória, que depois se tornou lei no Congresso — uma reforma para o ensino médio. A intenção é tornar flexível o currículo escolar. Outra solução, para o ministro, é a implementação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que estabelece o que deve ser ensinado em cada série.

O Ideb projetado para 2021 espera que a média nacional alcance, ao menos, 5,2 pontos. No fundamental 1, a meta é cumprida desde a primeira edição do exame. No fundamental 2, foi descumprida pela primeira vez em 2013. O indicador é composto pela taxa de rendimento escolar (aprovação) e as médias de desempenho nos exames aplicados pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira). “Estamos apenas aumentando as desigualdades com esse modelo do ensino médio. Temos de encontrar um modelo que apoie a rede pública, de modo que todos os jovens aprendam”, completou o ministro.

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Número de estados onde o ensino médio avançou na rede pública: Pernambuco e Goiás

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No fundamental, escolas do DF evoluem

04/09/2018

 

 

No DF, três instituições públicas se destacaram nos anos iniciais do ensino fundamental, de acordo com o Ideb: Centro de Ensino Fundamental 6 de Brasília (CEF 6), Escola Classe 11 de Sobradinho (EC 11) e Escola Classe 308 Sul (EC 308). Todas tiveram melhora progressiva na evolução de aprendizagem, entre 2005 e 2017.

Para o índice ser elevado no Ideb, há diversos fatores a serem considerados. Investir em métodos e projetos educacionais dentro do ambiente escolar é um deles. Caso do CEF 6, que conta com 670 alunos e 70 professores. A escola acredita que para capacitar os alunos de uma forma diferente é necessário o auxílio dos pais. Levá-los para dentro do dia a dia da escola.

Na opinião da diretora da instituição, Cátia José Teixeira, essa é uma das formas de avaliar, com os responsáveis, o que pode ser melhorado no aluno, além de detectar falhas e avanços. “Além dos encontros obrigatórios, nós os contatamos semanalmente. Essa é uma forma de deixar a família mais próxima e fazer com que ela participe do desenvolvimento da criança”, diz. A diretora ingressou na escola em 2007, ano em que a nota da instituição no Ideb era 3,8. Hoje, o desempenho pulou para 6,7.

Outro método usado pela equipe coordenadora envolve as aulas de reforço, nas quais os alunos que sentem mais dificuldades em certas matérias recebem aulas dos docentes no contraturno escolar, e o projeto de leitura, pelo qual os estudantes são incentivados a lerem livros brasileiros. Todos as crianças são beneficiadas com a atividade, que ocorre nas terças e quintas-feiras. Elas leem uma obra por bimestre e, em seguida, fazem uma análise.

Matemática pode apavorar muitos alunos, mas, para a equipe coordenadora da Escola Classe 11 de Sobradinho, há uma forma de distrair, incentivar e despertar os alunos para a matéria. Com abordagem lúdica e curiosa, professores da disciplina desenvolveram o projeto “Pequenos economistas”. A atividade busca trabalhar as operações matemáticas. Cada criança leva uma “caixa matemática”, que contém fita métrica, material de contagem e dinheiro de brinquedo.

A responsável pelo apoio de direção, Jeanne Gomes, destaca a importância do projeto na aprendizagem do aluno e explica que esse é um dos motivos que levaram a escola a alcançar um bom desenvolvimento no Ideb, pulando de 4 pontos em 2005 para 7,49. A instituição promove também reuniões coletivas com alunos, professores e equipe pedagógica. No encontro, realizado semanalmente, são tratadas questões como planejamento estratégico para identificar potencialidade e fragilidades dos estudantes.

Outra ação promovida pela escola é o projeto de literatura, coordenado por professores, no qual, eles dão como missão aos alunos estudar três escritores nacionais por ano.