A PRESSÃO DO TEMPO PARA A APOSENTADORIA
27/09/2018
A EXPECTATIVA COM uma reforma da Previdência reforça a necessidade de começar a planejar o futuro o mais cedo possível
A reforma da Previdência continua no radar, inclusive nas propostas dos candidatos à Presidência. Com a perspectiva de vivermos cada vez mais tempo, é urgente pensar em como manter uma renda que conserve nosso padrão de vida depois da aposentadoria. E nunca é cedo demais para começar: é possível, por exemplo, contratar um plano de previdência privada para seu filho assim que ele nasce — e que pode garantir objetivos como uma faculdade ou um curso no exterior.
Quem busca contratar um plano, no entanto, pode desanimar ao esbarrar em uma sopa de letrinhas como PGBL e VGBL, e ainda precisará ter em mente questões como prazo de aplicação e formas de tributação, para não ter uma surpresa desagradável no momento do resgate. E, em tempos de juros baixos — a taxa básica da economia, a Selic, está em seu mínimo histórico, 6,5% ao ano —, é necessário ainda saber se o plano desejado investe apenas em renda fixa ou em fundos de maior risco (e maior probabilidade de ganho), como multimercados e renda variável.
Por outro lado, com a expectativa da reforma da Previdência, cada vez mais instituições oferecem esses produtos. E, ao tentar conquistar clientes, elas reduzem as taxas cobradas e prometem rendimento maior. Ferramentas de tecnologia, como big data, também contribuem para otimizar o desempenho dos fundos.
Os funcionários públicos também estão de olho nas mudanças na Previdência. Aumenta o número de entidades de previdência complementar, tanto para servidores estaduais como federais. E alguns fundos fechados já aceitam a inclusão de cônjuges e filhos, a fim de ampliar o universo dos contribuintes.
______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
O DESAFIO DE SE APOSENTAR EM UM BRASIL MAIS VELHO
27/09/2018
Mudança no perfil da população eleva pressão pela reforma da Previdência e reforça necessidade de complementar renda; Cresce a consciência de que o Estado não poderá manter nível atual dos benefícios
O envelhecimento da população brasileira que ameaça a sustentabilidade do atual sistema previdenciário está fazendo cada vez mais gente repensar estratégias para se preparar para o futuro. Segundo estimativa do economista Rogério Nagamine, pesquisador do Ipea, hoje, o país já tem dois contribuintes para cada beneficiário do sistema de aposentadorias e pensões. Em 2040, se nenhuma reforma for feita, essa proporção chegará a um para um. Em 2050, o Brasil terá mais beneficiários que contribuintes. Esse quadro tende a intensificar um movimento observado nos últimos anos: a busca por planos de previdência complementar. Em cinco anos, as reservas nesse tipo de investimento mais que dobraram, de acordo com dados da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (FenaPrevi).
A dificuldade de manter a Previdência Social equilibrada tem a ver com a forma como funciona o sistema no Brasil e com a mudança do perfil demográfico. O modelo brasileiro é o regime de repartição: na prática, quem está na ativa contribui para quem está aposentado. O problema é que o país está envelhecendo. Segundo dados do IBGE, a proporção de idosos com mais de 65 anos em relação a quem tem entre 15 e 64 cresce rapidamente. Será de 14,18% no início da próxima década e dobrará em menos de 30 anos.
— O envelhecimento vai gerar uma piora muito grande na relação entre contribuintes e beneficiários. Claramente, há todos os indícios de que estamos em uma trajetória insustentável do ponto de vista do regime de Previdência pública. Será necessário algum tipo de ajuste em termos de idade, mas é possível que também haja reflexos no valor do benefício — analisa Nagamine.
CONQUISTA RECENTE
Na avaliação de especialistas, o quadro ajuda a explicar a corrida para algum tipo de poupança complementar. Segundo dados da FenaPrevi, as reservas em previdência privada saíram de R$ 319 bilhões, em 2012, para R$ 756,1 bilhões, em 2017, uma alta de 137%. No mesmo período, o número de participantes em planos cresceu quase 30%, para pouco mais de 13 milhões, quase 15% da população ocupada.
Para Edson Franco, presidente da FenaPrevi, o cenário aponta uma consolidação do hábito de poupar do brasileiro, que só foi possível após a estabilização da moeda e o controle da inflação, há cerca de 20 anos.
—A geração da hiperinflação teve de formar, aos poucos, uma cultura de poupar a longo prazo. É uma conquista relativamente recente. Não atribuo essa evolução à discussão da reforma da Previdência. À medida que as pessoas tomem consciência do sistema de Previdência pública, e diante do fato de que o Estado não será capaz de continuar provendo o mesmo nível de benefícios, é natural que haja uma maior busca por instrumentos de poupança de longo prazo —afirma.
Jorge Pohlmann Nasser, diretor-presidente da Bradesco Vida e Previdência, traça um paralelo com o modelo adotado nos Estados Unidos:
—A médio elongo prazos, é certo que o mercado tem espaço para crescer de forma importante. O Brasil tem reservas previdenciárias que representam 12% do seu PIB. Nos EUA, são quase 80%, de um PIB muito maior. Isso, sem dúvida, tema ver como modelo previdenciário, com acultura previdenciária. O americano nasce pensando em aposentadoria.
O professor universitário Gustavo Mello, de 53 anos, é um dos que começou ase preocupar mais coma poupança, não apenas por uma mudança nos hábitos, mas nas expectativas. Sua maior preocupação é não ter direito a receber o salário integral, como é previsto pelas regras atuais. A reforma apresenta dano ano passado pelo governo Michel Temer previa a manutenção do benefício integral para servidores públicos antigos, mas Mello teme revisões mais duras. Por isso, começou apoupar:
— Quando tiver 65, eu me vejo em uma situação em que a Previdência terá sido reformada e terei, no máximo, acesso ao teto (do INSS, de R$ 5.645,80). Não acredito que, daqui a 12 anos, vou ter o salário da ativa. Por isso, comecei a poupar, para ter uma renda complementar no futuro.
Mello dispensou o fundo de previdência privada tradicional: resolveu formar ele mesmo sua poupança. Todo mês, busca reservar cerca de 10% de sua renda para investimentos. A maior parte deposita na caderneta de poupança. Uma parcela menor vai para uma carteira de ações que ele criou, com base em pesquisas e conversas com amigos.
— Em períodos de bonança, as ações pagam 30%. Montei minha carteira, ação por ação, conversei com um monte de gente, levei alguns meses estudando, gastando algumas horas por semana. O objetivo é de longo prazo, ter algo daqui a dez anos —explica Mello.
NA AGENDA ELEITORAL
Em ano eleitoral e diante do déficit bilionário do sistema, a Previdência ganhou força nas propostas dos presidenciáveis. Pelo menos quatro dos principais postulantes planejam uma reforma estrutural, que prevê a transição, total ou parcial, para o chamado regime de capitalização —semelhante à previdência privada, mas gerido pelo Estado.
Nesse modelo, cada contribuinte faz aportes para sua própria conta, em vez de pagar na ativa pelos benefícios dos idosos. A maior crítica à implantação desse sistema é o elevado custo de transição entre os dois modelos. Além disso, há o risco de que imprevistos ao longo da trajetória de trabalho de cada um façam com que o benefício fique abaixo do esperado —fenômeno que ocorreu no Chile, país usado como referência desse sistema.
______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
'O brasileiro começa a acordar'
Felipe Bruno, LÍDER DA PREVIDÊNCIA DA MERCER BRASIL
27/09/2018
De acordo com o executivo da Mercer Brasil, consultoria especializada em Previdência, o debate sobre a reforma e a mudança demográfica promovem, gradualmente, uma nova cultura de poupança entre os brasileiros.
Por que o tema da Previdência entrou na agenda?
O grande estopim é o rombo fiscal no sistema, que acende a luz vermelha e nos obriga a tomar uma atitude. O sistema de repartição simples, como é o nosso, começa a ficar insustentável conforme a expectativa de vida aumenta e as taxas de fertilidade caem. Hoje, 44 pessoas, entre aposentados e crianças, dependem de 100 trabalhadores na ativa. Em 2060, a relação será de 67 para 100. A conclusão a que se chega é que a promessa de benefício será inviável daqui a 20, 30 anos.
Além do INSS, como o Brasil se compara a outros países na questão previdenciária?
Fizemos um painel global sobre essas práticas. Em 2017, entre 30 países, o Brasil estava na 20ª posição. E são dois os principais fatores que jogam o país para baixo no ranking. Na Previdência pública, pesa a sustentabilidade do sistema; na previdência privada, o ponto fraco é a ausência de uma cultura de poupança. Por isso, apenas cerca de 10% da população brasileira têm planos de previdência complementar, sejam abertos ou fechados (fundos de pensão). Isso é muito pouco.
Quais são as razões para esse baixo número?
É uma questão cultural, educacional. O brasileiro não tem por hábito a poupança, talvez pelo passado de hiperinflação, embora essa razão já tenha ficado para trás. Somos uma sociedade voltada para o consumo. Mas a captação para fundos de previdência tem crescido, embora o alcance do sistema esteja longe do que o país precisa.
Por que essa captação vem crescendo?
Percebemos o aquecimento muito grande do debate sobre a Previdência, em função da tentativa de reforma que tivemos. A população está entendendo que, qualquer que seja a reforma, ela vai acontecer, e os benefícios fatalmente serão reduzidos. A outra questão é a dos custos médicos. Vemos uma população que, majoritariamente, não terá acesso à saúde privada na velhice. Por causa desses fatores, os brasileiros passam por uma mudança de cultura. As pessoas começam a acordar para isso, mas governo e empresas deveriam investir intensamente em programas de educação financeira.
Como a queda dos juros, com a taxa básica (Selic) em seu mínimo histórico, tem movimentado o setor?
Tem havido um apetite maior para investimentos menos conservadores, como os fundos multimercados ou aqueles focados no exterior. Há ainda acirramento na competição do setor e o lançamento de produtos com taxas mais atraentes.
______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
PARA FAZER FACE À NOVA REALIDADE
27/09/2018
Aumento da informalidade no mercado de trabalho demanda estratégia cuidadosa para aposentadoria
O mercado de trabalho está mudando. Segundo dados do IBGE, o percentual de brasileiros com algum tipo de ocupação que atua por conta própria ou é empreendedor subiu de 27% para 30% em seis anos — um fenômeno impulsionado pela recessão, que elevou a informalidade. Além disso, a reforma trabalhista criou novos modelos de contrato de trabalho, mais flexíveis. Para especialistas em finanças pessoais, esses novos profissionais precisam adotar outras estratégias para garantir uma velhice tranquila: da contribuição ao INSS a uma cobertura de seguros, passando por aplicações financeiras complementares.
Olhar o futuro. Eduardo Silva: “Quando você passa a ser profissional independente, não tem todo mês uma renda”
Na avaliação do consultor financeiro Mauro Calil, a principal especificidade de profissionais liberais é a instabilidade da renda:
— Tem o agravante de que esses profissionais não têm uma renda certa. O que eu falo para pessoas autônomas é que têm de separar pelo menos 10% do seu rendimento para poupar. Há várias formas. Para quem é médico, por exemplo, vale separar, a cada dez consultas, uma para investimentos.
Separar um valor para investir mensalmente é apontado como a principal dificuldade, principalmente para quem ganha menos. Entre motoristas de aplicativo, é comum a queixa de que a renda gerada não é suficiente para garantir a manutenção do carro e fazer uma reserva financeira.
Ainda nesses casos, a recomendação de especialistas é separar o mínimo, ainda que seja para o INSS. Hoje, é possível contribuir como autônomo a partir de 11% do salário mínimo, cerca de R$ 105. Quem ganha até o teto pode fazer contribuição de 20% sobre o rendimento. Outra opção é aderir ao Simples Nacional como Microempreendedor Individual (MEI), pagando pouco mais de R$ 50 por mês. Isso dará direito a benefícios mínimos, como aposentadoria por idade, licença-maternidade, auxílio-doença e pensão por morte para a família.
— A pessoa pode contribuir também para a Previdência pública. Precisamos deixar claro que a Previdência pública ainda é um bom investimento, embora esteja com problemas. Tem alguns seguros embutidos, em termos de invalidez, que são importantes. Ninguém consegue ficar dirigindo por aplicativo para sempre. Mesmo que seja o percentual mínimo para o INSS, vale separar — avalia Felipe Bottino, diretor de Previdência Privada da da Icatu Seguros.
Além do auxílio-doença, o pagamento da contribuição ao INSS garante também o benefício da licença-maternidade e pensão para dependentes em caso de morte.
A previdência complementar também é uma opção. Segundo estimativas do simulador da Icatu, quem começar a aportar R$ 500 aos 35 anos e quiser se aposentar aos 65 anos poderá ter uma renda complementar de R$ 2.189,68 por 15 anos, considerando uma rentabilidade de 4% ao ano. Com aplicações de R$ 1 mil, é possível ter rendimentos de R$ 4.379,35.
SEGUROS NO RADAR
O empresário Eduardo Silva, de 52 anos, sócio da clínica de odontologia Dentcare, antecipou-se a esse movimento: começou a poupar há mais de dez anos. Ele aplica ao menos 10% de seus rendimentos em uma previdência privada fora do Brasil. O hábito de poupar já era presente, até pela formação de economista, mas ele conta que passar a ser profissional liberal após 20 anos trabalhando com carteira assinada e se tornar pai de gêmeos, hoje com 15 anos, aumentaram essa preocupação:
— Quando você passa a ser profissional independente, não tem todo mês uma renda e se preocupa mais em ter uma reserva financeira.
Para um público que deixa de ganhar dinheiro no instante em que para de trabalhar, pensar em seguros também é importante. Segundo Luciana Bastos, diretora de Desenvolvimento de Produtos de Vida da Icatu Seguros, 70% deles são para serem usados em vida.
O crescimento desse público já entrou no radar do mercado. Na Capemisa, parte das opções de seguros é focada em profissionais liberais, seja para o próprio empreendedor, seja para a equipe. Uma das ofertas é um plano coletivo para acidentes pessoais, que custa a partir de R$ 0,10 por funcionário.
— O mercado de seguros se modernizou com isso. Estamos desde 2015 investindo muito no mercado de pequenas e médias empresas. Lançamos nove coberturas com esse olhar. Conseguimos crescer 15% de 2017 para 2018. Numa pequena empresa, a equipe se torna uma família —diz Fábio Lessa, diretor comercial da Capemisa Seguradora.
______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
UM FUTURO ALÉM DA RENDA BÁSICA
27/09/2018
Quem busca tranquilidade na aposentadoria não precisa se limitar aos planos tradicionais. Fundos que mesclam renda fixa e multimercados dão mais retorno, porém com risco. Seguros completam proteção
É possível garantir um complemento de renda e um futuro tranquilo na aposentadoria com um portfólio de investimentos que vai além dos tradicionais fundos de previdência e inclui,ainda,seguros para imprevistos. Além disso, segundo especialistas, diversificar as aplicações para além da renda fixa pode significar mais dinheiro no bolso, embora traga uma dose de risco de perdas. Segundo simulação feita a pedido do GLOBO pela consultora financeira Thabata Abreu, é possível economizar até R$ 20 mil por ano em aportes, caso se decida ir além do básico.
A estimativa tomou por base um plano para quem quer manter um padrão de vida de R$ 10 mil depois que parar de trabalhar. Considerando um rendimento básico de R$ 954 do INSS, para quem também contribui para a Previdência Social pelo piso, seria preciso garantir uma renda adicional de R$ 9.046.
A consultora traçou dois cenários. O primeiro considera uma aplicação em fundo de previdência privada, com rendimento de IPCA+4% ao ano. Nesse cenário, seria necessário aplicar R$ 4.526 por mês.
Já ao diversificar os investimentos sem ficar restrito aos planos de previdência, com um fundo formado por 40% de renda fixa e 60% aplicados em fundos multimercados e ações, o poupador chegaria ao montante necessário com mais folga no orçamento. Com rendimento de IPCA+6,3% ao ano, os aportes seriam de R$ 2.813 mensais. Uma redução de R$ 1.713 por mês, ou R$ 20.555 anuais.
— As pessoas costumam falar que têm aversão ao risco. É mentira: grande parte das pessoas não é avessa ao risco. A maior parte das pessoas é avessa à perda. Para planejamento de longo prazo, o ideal é diversificar —explica Thabata.
Ela recomenda recorrer a fundos de investimento e não improvisar, caso não se tenha conhecimento. É o que chama de gestão passiva dos investimentos: diversificar, mas com ajuda profissional.
É COMO FAZER PIZZA EM CASA
Mauro Calil, especialista em investimentos do Banco Ourinvest e fundador da Academia do Dinheiro, considera a diversificação uma espécie de “plano C”. Os planos A e B seriam a Previdência Social e os fundos de previdência complementar, respectivamente.
—Com pelo menos 15 anos de prazo, dá para pensar em renda fixa, pré e pós-fixada, LCI, LCA, além de fundos imobiliários—exemplifica.— Ir para o plano C é perder conveniência. Você mesmo precisa gerir a carteira de investimentos. É como comparar pedir uma pizza pelo telefone a comprar os ingredientes e fazer a massa. Fazer a pizza sai mais barato, tem gosto melhor, mas dá mais trabalho.
De olho na busca de clientes por diversificação de investimentos, operadoras de previdência privada já oferecem planos VGBL e PGBL com opções de aplicações com alguma dose de risco. Na Bradesco Seguros, por exemplo, o mais recente lançamento é o Portfólio Multiestratégia, que permite que o cliente rebalanceie as aplicações de seu fundo.
— Terá soluções para diferentes perfis de apetite a risco, sendo moderado, arrojado, dinâmico, e é um passo no que a gente entende que é a orientação de mercado —diz Jorge Pohlmann Nasser, diretor-presidente da Bradesco Vida e Previdência.
Recorrer à cobertura de seguros também pode ser uma opção, lembra Luciana Bastos, diretora de Desenvolvimento de Produtos de Vida da Icatu Seguros. Afinal, planos de previdência garantem uma renda mensal, mas não cobrirão gastos extraordinários, como um problema de saúde.
—Há coberturas, por exemplo, voltadas para quem é diagnosticado com doenças graves. Temos um caso de uma pessoa que ficou doente, tinha plano de saúde e, com o dinheiro do seguro, pôde garantir um suporte maior para o tratamento —conta Luciana.
______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
NECESSIDADE DE GANHO MAIOR ESTIMULA RISCO
27/09/2018
Aumento da concorrência faz bancos eliminarem taxa de carregamento
Coma taxa básica de juros (Selic) em seu mínimo histórico ,6,5%, os investidores têm buscado maior exposição arisco,m esmoem aplicações tradicionalmente conservadoras, como a previdência complementar. Segundo especialistas, os poupadores vêm abrindo os olhos para a dificuldade crescente da renda fixa em entregar os retornos desejados. Com isso, os fundos de previdência do tipo multimercado, com maior liberdade para investir em ativos arriscados, protagonizam a captação do setor no ano.
De acordo com dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), eles levantaram R $11,2 bilhões até a semana passada, contra R$ 3,5 bilhões dos fundos de previdência com foco em renda fixa—que de têm 93% de todos os recursos aplicados na previdência aberta. Com patrimônio total de R$ 47,4 bilhões, os multimercados representam apenas 6% do setor.
—É uma tendência sem volta. Ganhar dinheiro se tornou mais trabalhoso. A renda fixa
não é mais a receita do sucesso. Mas o investidor terá de entender que, com aplicações mais arriscadas, em algum momento, pode haver rentabilidade negativa a curto prazo —alerta Jorge Pohlmann Nasser, diretor-presidente da Bradesco Vida e Previdência, que deve lançar em breve “soluções mais agressivas”.
A tendência não tem se abatido diante das perdas que muitos fundos mais arriscados têm sofrido com a turbulência eleitoral. Os fundos de previdência do tipo multimercado renderam, em média, 3,49% no ano, ou apenas 76% da taxa de referência CDI, segundo a Anbima. Já os fundos de previdência com foco em ações entregaram só 29% do CDI.
— Nesse mercado, porém, também tem muito fundo ruim, que não entrega a rentabilidade desejada — critica Geraldo Magela, da consultoria on-line GuruPrev.
NOVAS REGRAS
Mas, embora dê trabalho, escolher bem faz toda a diferença. Entre os 10% dos fundos mais rentáveis do setor, a média de retorno dos multimercados foi equivalente a 125,3% do CDI, segundo levantamento da GuruPrev.
— Escolher um fundo que renda um ponto percentual a mais ao ano faz com que o investidor possa se aposentar cinco anos mais cedo coma mesma renda — diz Gustavo Pires, sócio da XP, cujos fundos multimercados concentram 44% dos recursos aplicados em previdência pelos clientes de sua seguradora.
As regras do setor acompanham esse movimento. No fim de 2017, o Conselho Monetário Nacional( CM N) elevoude 49% para 70% afatiado patrimônio dos fundos de previdência de varejo que pode ser aplicada em renda variável. Noca sodas cartei raspara investidores qualificados, ou seja, aqueles que aplicam ao menos R $1 milhão, aparcelas ubi upara 100% dos recursos.
—Coma volatilidade das eleições afetando a Bolsa, a procura por fundos com foco em ações ainda é baixa. Mas deves era próxima pernada— diz Felipe Bottino, diretor de Previdência Privada da Icatu.
A maior concorrência beneficia os clientes. Há dois anos, a XP já não cobrava taxa de carregamento em nenhum fundo, diz Pires. Justificada como forma de ressarcir as seguradoras pela oferta dos planos, essa taxa incide sobre cada depósito. Nas últimas semanas, instituições como Santander, Itaú e Banco do Brasil anunciaram que também zerariam a taxa de carregamento.
______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
EMPRESAS INVESTEM EM TECNOLOGIA
27/09/2018
Ferramentas como ‘big data’ e ‘machine learning’ permitem aprimoramento dos processos
Já disseminada no setor bancário, a aplicação de tecnologias como inteligência artificial e big data (análise de vastos volumes de informação) nos ramos de seguro e previdência tem crescido.
A Mongeral Aegon tem usado técnicas de machine learning —em que softwares são capazes de aprimorar sozinhos seu desempenho, conforme são alimentados com dados—para avaliara necessidade de cobertura de sinistros em seus seguros.
—Um analista júnior leva de três aseis meses para ser treina dopara os processos mais simples. Já o modelo d em achinele arni ngé capaz de faze risso em cinco minutos. Em um teste com mil processos, ele errou apenas quatro — explica Luís Fontes, superintendente de tecnologia da Mongeral.
Além de empresas tradicionais, start-ups também têm sofisticado a oferta de produtos no setor. Segundo mapeamento da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico (camara-e.net), o Brasil já tinha, no começo do ano, pelo menos 40 insurtechs —como são conhecidas asst ar t-ups de seguro. Um adela sé aThinkseg,qu eu sama chinele arni ng para analisar desde a probabilidade de contratação de apólices por um visitante do site até a oferta personalizada de produtos, conta seu fundador, André Gregori.
—Comba seno comportamento do internauta, nossa inteligência artificial rastreia a composição de vários seguros diferentes e consegue oferecer uma apólice individual com muita agilidade—diz Gregori.
Na área previdenciária, a Brasilprev, ligada ao Banco do Brasil, prepara o lançamento de um aplicativo para contratação e resgate de fundos que terá como destaque um bot automatizado para esclarecer dúvidas dos clientes em tempo real no chat. Na fase de testes,o chatbot —batizado de Sil — já conversou com quase mil internautas. O lançamento oficial será em outubro.
—Hoje, ele fala sobre 52 temas relacionados à previdência, mas ampliará seu repertório com o tempo —diz Ângela Beatriz de Assis, diretora comercial da Brasilprev.
______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
PARA SERVIDORES, É RECOMENDÁVEL COMPLEMENTAÇÃO
27/09/2018
Mudanças nas regras e expectativa de reforma da Previdência alimentam busca por meios de engordar a aposentadoria
Se as discussões sobre uma reforma da Previdência forem retomadas, os servidores públicos devem ser os mais afetados. Por isso, segundo especialistas, uma boa estratégia é procurar uma complementação para a aposentadoria. E os planos de previdência fechados, quando disponíveis, costumam ser mais vantajosos do que os fundos abertos oferecidos por bancos e outras instituições financeiras.
No Estado do Rio, há duas fundações de previdência complementar: a RJPrev, dos servidores estaduais, e a Funpresp, dos federais. Elas foram regulamentadas em 2012 e 2013, respectivamente, e têm regras próprias. Mas os funcionários da Prefeitura do Rio não têm fundação de previdência complementar. E, em outros estados e municípios do país, o mesmo ocorre. Neste caso, a alternativa é mesmo recorrer aos fundos de previdência disponíveis no mercado.
Desde 2013, todas as pessoas que entram no serviço público federal são incluídas na Funpresp. As contribuições podem ser de 7,5% a 8,5% sobre o valor que superar o teto do INSS (hoje de R$ 5.645,80), com contrapartida da União no mesmo montante. Os servidores mais antigos, que entraram antes de 2013, podem aderir de forma opcional. Como a regra hoje prevê paridade da aposentadoria no futuro (ou seja, pagamento integral mesmo quando acima do teto do INSS), muitos preferem ficar no regime próprio de previdência dos servidores.
No entanto, a expectativa de uma reforma na Previdência que mude as regras para o funcionalismo tem levado alguns servidores antigos a migrarem para o regime complementar. O prazo para essa migração foi estendido, esta semana, para até março de 2019.
— O plano complementar não tem taxa de administração. Oferece também empréstimos e a portabilidade em caso de saída do serviço público —ressalta Jorge Magdaleno, especialista em administração pública e Previdência, lembrando que os servidores federais ainda descontam 11% do salário bruto para o Regime Próprio da União.
A RJPrev, do Estado do Rio, tem hoje 2.050 participantes, com patrimônio em torno de R$ 60 milhões. As aplicações vão de 5,5% a 8,5% do valor que supera o teto do INSS. Além disso, os servidores recolhem 14% do salário bruto para o Regime Próprio do estado.
— Para quem ingressou após 2013, eu não tenho a menor dúvida de que deveria aderir o quanto antes à previdência
complementar. Já indiquei a vários colegas, e alguns ainda não aderiram por pura falta de conhecimento sobre o sistema. Quem é servidor há mais tempo e está no sistema de paridade precisa, em primeiro lugar, fazer as contas para saber se vale a pena —afirma Nelson Antunes, de 45 anos, que entrou na secretaria estadual de Fazenda em 2013 e aderiu ao plano.
______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
FUNDOS FECHADOS SE EXPANDEM PARA TODA A FAMÍLIA
27/09/2018
Antes de deixar a maternidade de Araucária, no interior do Paraná, o pequeno Luiz Henrique ganhou do pai, Cristiano Gober, um presente para o futuro. Funcionário da Copel, a companhia de energia daquele estado, Gober incluiu o filho numa novidade da empresa: o Plano Família de previdência privada. O modelo, que tem ganhado espaço em fundos fechados, consiste na abertura dos benefícios a cônjuges e dependentes.
— Logo que Luiz Henrique nasceu, fui à Copel ver o plano de saúde. Ouvi uma atendente oferecer o Plano Família a um colega. Assim, 36 horas depois de nascer, meu filho já tinha previdência —conta Gober.
A Copelé hoje referência para fundos fechados que buscam expansão. A empresa esperava reunir, no primeiro ano, 1.200 associados. Bateu a meta em quatro meses:
— Não temos visto concursos públicos, o que reduz o quadro da empresa. Abrimos, então, o Plano Família. Queremos continuar no mercado — diz Claudia Lima, diretora de Administração de Seguridade.
O Metrus, fundo do metrô paulista, prevê lançar um plano família em outubro. A Funcesp, das empresas de energia do estado de São Paulo, também vai adotar um.
A Abrapp, que reúne as entidades fechadas de previdência complementar, espera, com os familiares, dobrar o universo de associados.
______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
PLANO VGBL É PORTA DE ENTRADA NA PREVIDÊNCIA
27/09/2018
Fundos dominam a indústria. No entanto, especialistas ressaltam que é preciso cuidado na hora de escolher tributação; Prazo estimado de permanência é crucial para decidir sobre forma de tributação
Concentrando mais de 90% de uma indústria cujo patrimônio já chega a R $775,6 bilhões, o plano Vida Gerador de Benefício Livre(VGBL)é aporta de entra dados brasileiros que decidem poupar por conta própria para a aposentadoria. Apesar de não contar com o benefício das deduções tributárias como oPGBL,oVGBL atende acertos perfis de investidores e também ajuda no planejamento tributário.
E mg eral,oVGB Lé indica dopara que mé isento de Impostode Renda( IR) o ufaz sua declaração anual pelo modelo simplificado. Dessa forma, costuma sera escolha de jovens profissionais ou pessoas sem dependentes. Isso porque, diferentemente do PGBL, os aportes realizados no VGBL não podem ser descontados da renda sobre a qual incidirá o IR. Por outro lado, no momento de resgatar os recursos acumulados, o IR incide apenas sobre o dinheiro que rendeu, não sobre a contribuições dos participantes.
— No fundo, o VGBL acaba sendo muito parecido com um fundo de investimento tradicional, no qual também não se pode deduzir do IR, que incide sobre os rendimentos — aponta Luis Felipe Maciel, diretor regional da Mongeral Aegon.
Mas o VGBL também tem benefícios tributários que não são encontrados nos fundos de investimento. Assim como o PGBL, ele não sofre a mordida do IR semestral, o chamado “come-cotas”, que captura 15% do rendimento de fundos de investimento tradicionais em maio e novembro. Alongo prazo, segundo especialistas, a diferença de rentabilidade acumulada pode ser significativa.
Além disso, o VGBL é uma ferramenta para aqueles que já esgotaram o diferimento tributário proporcionado pelo PGBL. Afinal, só é possível usar na declaração do IR investimentos em PGBL que somem no máximo 12% da renda bruta anual do contribuinte.
— Depois de atingir esse limite, o cliente que quiser poupar mais para a velhice pode abrir um fundo VGBL, para continuar contribuindo —observa Flávio Lemos, sócio da Trader Brasil Investimentos.
Depois de optar entre VGBL ou PGBL, exige-se do participante uma outra escolha, de consequência tributária: a qual tabela de cobrança de impostos sua previdência privada será submetida? Elas são duas, a regressiva e a progressiva.
INDÚSTRIA EM EXPANSÃO
De acordo com especialistas, a tabela regressiva é ideal para quem está disposto a investir por muito tempo. Isso porque a alíquota cai gradualmente ao longo do tempo em que o dinheiro está aplicado. Por essa tabela, quem resgata em menos de dois anos, por exemplo, paga 35%, alíquota que chega a ser superior aos 27,5% sobre a renda cobrados no topo da tabela de IR. Quem fica mais de dez anos, no entanto, paga imposto de apenas 10%. Já a tabela progressiva segue as alíquotas de IR que valem para os salários e é indicada àqueles que podem ter de sacar os recursos a curto prazo ou que sabem que terão no futuro um benefício mensal de valor baixo.
— A questão da tabela de tributação, progressiva ou regressiva, tem de ser decidida visando ao prazo. Como regra geral, se você vai deixar o dinheiro aplicado por mais de sete anos e meio, oito anos, a regressiva é muito vantajosa — explica Marcelo Wagner, superintendente de Investimentos da Brasilprev. — Já a tabela progressiva é indicada para quem tiver dúvidas sobre a necessidade de resgatar o investimento a curto prazo ou se, lá na frente, a pessoa for resgatar valores sobre os quais incidam alíquotas baixas de Imposto de Renda.
Na previdência privada, o cliente tem total liberdade para transferir seus recursos para outro plano sem pagar taxas ou impostos, sendo também possível migrar da tabela progressiva para a regressiva. O contrário, no entanto, é vedado. Por isso, a escolha da tabela deve ser feita de forma consciente, alertam os especialistas. Mas a escolha do tipo de plano tem consequências ainda mais perenes: não é permitido mudar de VGBL para PGBL, nem vice-versa.
Desproporcionalmente maiores que os PGBL, são os planos VGBL que têm puxado o crescimento da indústria de previdência privada. Segundo números da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), só este ano os fundos de previdência captaram R$ 13,5 bilhões junto a seus participantes. A previdência privada já corresponde a 17,3% de todo o patrimônio aplicado em fundos de investimentos no país. O crescimento tem sido puxado pelas discussões sobre a reforma da Previdência e pelo fato de o segmento ainda ser considerado jovem, havendo ocorrência limitada de saques aos fundos hoje.
MUDANÇA DE MENTALIDADE
E os planos VGBL têm aumentado sua fatia na indústria. Entre janeiro e maio, de acordo com a Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (FenaPrevi), os VGBL atraíram 91,3% dos prêmios e contribuições da indústria, contra 87,6% em 2013.
Uma mudança geracional no que diz respeito à educação financeira também estimula o apetite pela previdência.
—Meu pai se arrepende de não ter feito um plano de previdência. Se ele tivesse feito lá atrás, hoje teria acesso a uma segunda renda. Por isso, não quis perder tempo e fiz meu plano logo após sair da faculdade — conta a dentista Ana Luiza Rega, de 26 anos. — Sou autônoma, então essa é uma forma de investimento que encontrei para ter uma garantia no futuro.
Ela destina, hoje, 10% de sua renda mensal a um fundo VGBL. Quando abriu o fundo, sequer declarava IR, o que justificou sua escolha pelo VGBL.
E quem foi previdente lá atrás transmite com maior facilidade o planejamento às próximas gerações.
— As minhas duas grandes seguranças são os investimentos em imóveis e em VGBL, mas só neste último eu tenho liquidez, podendo resgatar o dinheiro a qualquer momento. Tenho três filhos, todos com VGBL. E meus seis netos logo terão seus planos também — garante Sérgio Dortas, de 67 anos, que tem um VGBL há 15.
______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
PGBL: OPÇÃO PARA QUEM QUER PAGAR MENOS IMPOSTO
27/09/2018
Modalidade traz benefícios tributários, mas é preciso estar atento aos detalhes para realmente aproveitar as vantagens; Quem busca um PGBL deve verificar antes se é elegível para a dedução tributária
Decidir poupar para a velhice não é das escolhas mais fáceis para o brasileiro, mas o passo seguinte também traz dificuldades: qual plano escolher diante de siglas tão obscuras como PGBL e VGBL? Na essência, a única grande diferença entre os dois é a forma como são tributados, lembra Flávio Lemos, da Trader Brasil Investimentos. E um dos tipos, o PGBL, é especialmente favorável para quem está disposto a fazer as contas e aproveitar ao máximo o benefício oferecido pela legislação.
Para a família. O empresário Clide Zelazo não abre mão de seus fundos PGBL, que considera “um excelente veículo para efeito de sucessão”
O Plano Gerador de Benefício Livre (PGBL) é indicado para os contribuintes que declaram o Imposto de Renda pelo formulário completo. Isso porque ele permite deduzir as contribuições da base de cálculo do IR em até 12% da renda bruta anual. Quem ganha R$ 100 mil por ano, por exemplo, poderá deduzir até R$ 12 mil investidos no PGBL e pagar IR apenas sobre R$ 88 mil, resultando em uma mordida do Leão menor e em uma economia de mais de R$ 3 mil.
— É crucial entender que não se trata de um benefício fiscal, mas de um diferimento tributário. Ou seja, no futuro, haverá cobrança de imposto. Só que, a longo prazo, isso permite que o dinheiro que não foitributadohojerendaaolongo do tempo. No futuro, o impacto é muito relevante e sintetiza o aspecto fiscal do produto — diz Jorge Pohlmann Nasser, diretor-presidente da Bradesco Vida e Previdência.
VOLUME DE APORTES
Nasser diz isso porque, no momento de resgatar os recursos, anos depois, o IR incidirá sobre o valor total do fundo PGBL, incluindo os aportes do participante. Além disso, aplicações em PGBL que excedam os 12% da renda não podem ser abatidas, tampouco a contraparte da empresa, nocasodequemcontribuipara um plano de previdência no trabalho.
— Pelo PGBL, na prática, você paga menos imposto hoje, só que, lá na frente, na hora de transformar esses recursos em renda ou sacá-los, você deverá oferecer esse dinheiro à tributação —ressalta Luis Felipe Maciel, diretor regional da Mongeral Aegon. —É por causa de detalhes assim que a consultoria é necessária na hora de contratar um plano. Para evitar que o cliente que tenha vendido um apartamento, por exemplo, aplicasse o dinheiro em PGBL. Isso seria loucura, pois o valor do imóvel não havia gozado do diferimento tributário.
Segundo dados da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (FenaPrevi), os fundos PGBL responderam por apenas 7,92% dos R$ 44 bilhões em prêmios e contribuições acumulados pela indústria entre janeiro e maio. De acordo com Felipe Bottino, diretor de Previdência Privada da Icatu Seguros, isso acontece porque o PGBL funciona como “um segundo passo no processo de conscientização financeira” de quem decidiu poupar para o futuro.
— Tradicionalmente, os bancos costumam oferecer planos VGBL com regime progressivo de tributação e perfil de renda fixa. Esse é o combo tradicional. Mas, embora qualquer previdência seja melhor que nenhuma, esse modelo não é necessariamente o melhor —diz o executivo da Icatu, na qual metade da carteira de clientes aplica em PGBL, percentual bem acima da média da indústria.
Mas, ressalta Bottino, a migração para o PGBL costuma ser resultado de um processo consultivo:
— Afinal, se essa opção não for feita da maneira correta, o cliente pode acabar sendo muito mais tributado do que deveria.
Segundo o especialista, há três pontos essenciais. O primeiro é buscar como meta um volume de aportes no plano que seja equivalente a 12% da renda anual tributável, para aproveitar plenamente o diferimento tributário proporcionado pelo PGBL. Mas, o que é o segundo ponto, isso exige atenção: nem todos estão elegíveis para esse benefício tributário, diz Bottino. Entre os casos de clientes não elegíveis estão aqueles que não contribuem para o INSS ou para regimes próprios de previdência de servidores públicos, ou que recebem somente rendimentos com tributação exclusiva.
A terceira obrigação é revisar periodicamente os aportes feitos no plano, para que estes evoluam junto com os ganhos salariais.
— Muitas vezes o participante opta por fazer aportes mensais automáticos no plano de previdência, mas esquece que sua renda cresceu. Aí, quando vai declarar o IR, percebe que não alcançou os 12% da renda —diz Bottino.
PODE FICAR DE HERANÇA
O empresário carioca Clide Zelazo, de 64 anos, está habituado a investir e tem uma carteira diversificada, mas não abre mão de seus três fundos PGBL. As aplicações foram feitas há mais de dez anos pela tabela regressiva e, portanto, já poderiam ser resgatadas pela menor alíquota do IR. Mas Zelazo não pensa em fazer isso tão cedo.
—Para mim, a previdência privada, além de reserva técnica e de uma forma de abater o IR, é um excelente veículo para efeito de sucessão. Meu principal objetivo com o investimento é deixar esse patrimônio para minha mulher e meus dois enteados — conta Zelazo, que, diante da turbulência com as eleições, adotou postura mais conservadora este ano. — Vale a pena deixar os fundos como herança.
Essa é mais uma das vantagens oferecidas pelos planos PGBL e VGBL. Por serem considerados produtos securitários, planos de previdência privada não precisam entrar no demorado processo de inventário em caso de morte do titular, segundo o Código Civil. Para isso, ao contratar o plano, o cliente determina quem serão os beneficiários. Mas nem sempre os planos de previdência estão livres do Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doações (ITCMD), tributo estadual que incide sobre heranças. Alguns estados, como o Rio e Minas Gerais, já cobraram ITCMD desses planos, embora isso ainda seja tema de disputa na Justiça.
______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
APOSENTADORIA QUE VEM DO BERÇO
27/09/2018
Há pais que fazem planos de previdência para os filhos assim que eles nascem. Recursos podem ser resgatados na vida adulta para pagar faculdade, montar um negócio ou até mesmo para complementar renda na velhice
Há 21 anos, no nascimento do filho Lucas, o advogado Mauro Maia decidiu avaliar um produto recém-chegado ao mercado de previdência e seguros, destinado a crianças e jovens. A novidade se mostrou uma escolha altamente vantajosa. Ao lado da mulher, Rogéria Vivacqua, Maia decidiu contratar um plano de previdência para Lucas — que, com apenas 3 meses de idade, começou a investir para o futuro. O advogado conta que o plano foi uma forma de garantir um rendimento para o filho.
Investimento. Mauro Maia com seu filho, Lucas, que ganhou um plano de previdência ao nascer: “Oportunidade de construir uma economia mensal de longo prazo”
—Avaliamos, à época, uma oportunidade de construir, em um único produto, uma economia mensal de longo prazo, de valores que se reverteriam em uma renda complementar para o Lucas. Fazemos essa complementação até hoje, para que ele tenha essa renda complementar de previdência — conta Maia, hoje com 56 anos.
CULTURA DE POUPANÇA
Essa opção tem sido adotada por milhares de brasileiros nos últimos anos, por mais que a parcela de interessados ainda seja pequena frente ao potencial do setor. O plano de previdência, por suas características de aplicação de longo prazo, quando contratado na infância, pode ser usado não só para complementar a renda na aposentadoria mas também antes disso, na vida adulta, para pagar uma faculdade ou montar um negócio, por exemplo.
— Notamos uma consciência maior de pais, avós, padrinhos ou responsáveis diretos na tentativa de ajudar no futuro. Essa questão não está vinculada à renda da pessoa, mas a sua disciplina e organização. Sabemos que existem padrões de renda mais comuns para um investimento como esse, mas é importante dizer que é possível contratar contribuições a partir de R$ 25 — ressalta João Batista Mendes, presidente da Comissão de Produtos por Sobrevivência da FenaPrevi.
Além disso, quanto mais cedo se começa a poupar para a aposentadoria, menor terá de ser o aporte mensal. Martin Iglesias, especialista em investimentos do Itaú Unibanco, calcula que, quando se começa aos 35 anos, o comprometimento da renda mensal chega a 10%.
— Temos uma tabela que faz a seguinte indicação: se começar a contribuir aos 35 anos, será necessário aplicar 10% da sua renda para chegar aos 45 anos com um ano de vencimento acumulado. Dos 45 para os 55 anos, você já terá três anos de rendimento. Quando você começa antes, o percentual de comprometimento da renda cai consideravelmente —explica Iglesias.
O interesse dos pais em garantir o futuro dos filhos tem sido sentido pela Brasilprev, ligada ao Banco do Brasil. Desde 1997, com o lançamento do Plano Júnior, 620 mil contratos foram firmados — o equivalente a 30% da base de clientes do fundo. Desse total, 92% foram adquiridos pelos pais. Ao completar a maioridade, o beneficiário poderá assumir o fundo e decidir o que fazer com ele.
— Observamos que, cada vez mais, o jovem, quando tem a oportunidade de resgatar o plano, continua fazendo a previdência. A mensagem é muito importante, pois, quando há essa cultura de poupar dentro de casa, você leva a educação financeira para a vida adulta. O jovem vê valor em economizar —salienta Ângela Beatriz de Assis, diretora comercial da Brasilprev.
Para Maristela Gorayb, planejadora financeira vinculada à Associação Brasileira de Planejadores Financeiros, a nova geração tem levado em consideração a importância de se contabilizar um lastro para os anos futuros:
—Hoje em dia, o jovem não está mais preocupado em comprar carro. Não existe pressa para casar, mas há consciência de que é preciso se planejar para conseguir seus objetivos. Apressão aumentou, pois as pessoas vão viver mais.
ESTABELECER PRIORIDADES
Há casos, também, em que os familiares pensam em projetos específicos, como uma faculdade ou um curso no exterior. No caso do engenheiro civil Andre Luiz Duizit Colin, o filho recebeu de presente uma previdência complementar com uma ideia inicial que pode ser modificada.
— Meu pai contratou o plano para o meu filho logo que ele nasceu. Fizemos os aportes ao longo dos anos para que, na maioridade, ele decidisse sobre o que fazer com o que foi guardado. Hoje ele tem 23 anos, e estamos definindo o que vamos fazer, se vamos sacar ou não. Ele pode continuar e manter o plano. Investir até os 50 anos poderá resultar em uma receita importante para o futuro —afirma Colin.
Os especialistas reforçam a necessidade de o investidor determinar suas prioridades ao decidir contratar uma previdência privada para o filho. Um ponto importante a ser considerado é a possível economia, no caso do PGBL, que permite abater do Imposto de Renda as contribuições em até 12% da renda tributável.
— No caso dos pais, que são titulares dos seguros, o desconto pode ser feito normalmente até o limite de 12% da renda (caso o filho seja seu dependente na declaração do IR). No caso de outros titulares, que não sejam os pais, esse desconto depende. Ele só será feito caso o seguro esteja no nome do responsável — explica Mendes, da FenaPrevi.
O setor de seguros também vem registrando uma procura maior por produtos para os mais jovens. Segundo Fernanda Pasquarelli, diretora de Vida, Previdência e Investimentos da Porto Seguro, 32% da carteira de clientes do seguro de vida têm entre 22 e 37 anos. A maior parte possui, também, o seguro de acidentes pessoais. Já na SulAmérica Seguros, a oferta principal é o Educaprevi, um plano de previdência feito especialmente para crianças e jovens.
— O benefício oferece o Assistência Escola Online, que traz uma série de serviços para auxiliar em atividades escolares, como o tira dúvidas e aulas on-line em todas as disciplinas, até o vestibular — disse Fabiano Lima, diretor de Vida e Previdência da SulAmérica.
Outra área que tem crescido nos últimos anos é a de seguros para mulheres.
— O seguro de vida para mulheres cresceu 14% em valores e 9% em número de clientes entre janeiro e agosto deste ano. Nos últimos três anos, o crescimento médio é de 25% em valores e 27% em número de clientes — diz Fernanda, da Porto Seguro.