O globo, n. 30991, 13/06/2018. Economia, p. 17
Petros: sobe para 86 número de liminares contra cobrança extra
Rennan Setti
13/06/2018
Fundo de pensão da Petrobras aposta em vitória na Justiça para cobrir déficit
O número de liminares na Justiça que suspendem a cobrança de contribuição extra pela Petros, fundo de pensão da Petrobras, para cobrir seu déficit subiu para 86. Em março, eram 29. O presidente da Petros, Walter Mendes, ponderou ontem, porém, que a fundação tem conseguido cassar algumas delas e disse estar confiante de que as ações serão derrubadas quando a Justiça analisar seu mérito. Das 147 ações impetradas por participantes, 61 não renderam liminares. Hoje, cerca de 11.200 participantes estão dispensados de pagar a contribuição extra por causa de liminares.
— Como o assunto é complexo e existe um apelo emocional que mexe com a vida das pessoas, é relativamente fácil para o juiz conceder a liminar. Mas estamos confiantes de que, quando (a Justiça) chegar ao mérito (dos processos), nossa chance de sucesso é bastante grande, porque o processo de equacionamento foi todo feito dentro da lei e dentro das normas — afirmou Mendes a jornalistas durante o Seminário de Políticas de Investimentos, organizado pelos fundos Previ (BB), Petros, Funcef (Caixa) e Valia (Vale), no Rio.
Como O GLOBO noticiou em maio, a Petros está recebendo uma enxurrada de ações na Justiça contra a cobrança de uma contribuição extra de empregados, aposentados e pensionistas que fazem parte do Plano Petros do Sistema Petrobras (PPSP). O plano teve déficit acumulado de R$ 27,7 bilhões entre 2013 e 2015 e, por isso, seguindo as normas do setor, teve de iniciar o equacionamento do déficit em março.
Segundo Mendes, as liminares concedidas até o momento diminuem a captação de recursos extras, mas não comprometem o equacionamento, que ocorrerá ao longo de 18 anos.
Mendes e o diretor de investimentos, Daniel Lima, contaram que, nos últimos meses, a Petros migrou cerca de 80% de sua carteira de R$ 2,2 bilhões em ações livres — aquelas não estratégicas, fora de acordos de acionistas e blocos de controle, adquiridas diretamente via Bolsa — para fundos exclusivos de oito gestores externos. Estes têm a liberdade para determinar as ações que vão compor as carteiras.
SEM PRESSA PARA VENDER VALE
No mesmo encontro, representantes dos fundos de pensão indicaram não ter qualquer pressa para se desfazer das ações da Vale. Se a venda dos papéis — mais de 11% do capital da mineradora — era noticiada como iminente há três meses, o discurso das fundações agora é que a companhia tem potencial para crescer ainda mais, proporciona dividendos volumosos e oferece liquidez (ou seja, a qualquer momento haverá um comprador para os papéis) ímpar no mercado. A mudança de tom ocorre depois de a mineradora chegar a subir até 43% após entrar no Novo Mercado, segmento de maior governança da B3 (antiga Bovespa).
Gueitiro Genso, presidente da Previ, admitiu que o maior fundo de pensão brasileiro “desacelerou” nos seus planos de abrir mão de papéis da Vale:
— Essa (a Vale) é uma em que desaceleramos... Já temos liquidez. Quando olhamos para a ação da Vale, nessa crise de agora, foi a que menos apanhou.
Mendes, da Petros, disse que a operação “pode ser feita, pode não ser” e que não tem “qualquer urgência” para vender os papéis. Já Paulo Werneck, diretor de investimentos da Funcef, deixou em aberto a possibilidade de até mesmo elevar a exposição à Vale:
— Se vamos vender (as ações da Vale) ou se vamos comprar mais, eu ainda não posso dizer. As fundações têm que se preocupar com bons pagadores de dividendos. A venda forçada de ativos é desnecessária.