O globo, n. 31098, 28/09/2018. País, p. 8
Um político marcado por obras e escândalos no DF
Catarina Alencastro
28/09/2018
OBITUÁRIO
Uma das figuras de maior peso na política de Brasília, Joaquim Roriz comandou o Distrito Federal por quatro mandatos. Ele teve as gestões marcadas pela distribuição de lotes e pela realização de grandes obras, como a construção do metrô e da ponte JK no Lago Paranoá, e pela participação em grandes esquemas de corrupção.
O político assumiu o primeiro mandato de governador em 1988, nomeado pelo então presidente José Sarney. Em 1990 se elegeu pelo voto direto ainda no primeiro turno. Lançando mão de medidas populistas, tinha como principal agenda a distribuição de lotes para os chamados “descamisados” de Brasília. Criou dezenas de assentamentos para a população de baixa renda, entre os quais a cidade-satélite (hoje região administrativa) de Samambaia, uma das mais populosas do DF.
Um ano após se eleger senador, em 2007, Roriz foi acusado de utilizar o Banco de Brasília (BRB) para desviar recursos de contratos públicos. Ele renunciou ao mandato para evitar a cassação e a perda dos direitos políticos. Mas pouco adiantou a manobra. Em 2009, a Polícia Federal deflagrou a Operação Caixa de Pandora e desmantelou o esquema que ficou conhecido como “Mensalão do DEM”, que consistia na compra de apoio parlamentar na Câmara Legislativa do DF.
Roriz e José Roberto Arruda (DEM), seu aliado e então governador do DF, foram condenados em primeira instância por improbidade administrativa.
Joaquim Roriz fez quase toda sua carreira política no MDB, no qual ingressou ainda em Goiás, antes de se mudar para Brasília. Antes, foi um dos fundadores do PT em sua cidade natal, Luziânia, mas logo deixou a legenda. Em meados dos anos 1990 voltou para o então PMDB, deixando o partido em 2009.
A Operação Caixa de Pandora se baseou em informações e provas fornecidas pelo delator Durval Barbosa, ex-secretário de Relações Institucionais do DF nos governos de Roriz e José Roberto Arruda.
Durval ficou famoso por gravar vídeos ao entregar dinheiro de propina para parlamentares distritais e até para o exgovernador Arruda. Em junho de 2012, o então procuradorgeral da República, Roberto Gurgel, ofereceu denúncia contra 37 investigados no escândalo. Apesar de ser referido na denúncia, Roriz não foi acusado devido à sua idade avançada, uma vez que os crimes teriam prescrito.
O governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg (PSB), decretou ontem luto oficial por três dias.
Roriz morreu na manhã de ontem, aos 82 anos, em Brasília, após sofrer um choque séptico decorrente de uma infecção pulmonar. Ele sofria de várias doenças crônicas, como diabetes, malde Alzheimer, demência e insuficiência renal. R oriz deixa mulher, três filhas e quatro netos.