O globo, n. 31098, 28/09/2018. Economia, p. 20

 

Petrobras tem valorização de R$ 15,6 bi em um dia

Glauce Cavalcanti

Bruno Rosa

Rennan Setti

Gabriel Martins

28/09/2018

 

 

Estatal supera Ambev e passa a ser a segunda empresa mais valiosa na Bolsa brasileira. Desfecho de investigação nos EUA abre caminho para crédito mais barato e reforça tese de defesa em outros processos

A divulgação do acordo histórico da Petrobras nos Estados Unidos agradou ao mercado e levou a estatal a ganhar R$ 15,6 bilhões em valor de mercado num só dia, bem mais que os cerca de R$ 3,6 bilhões que vai pagar para encerrar investigações sobre corrupção naquele país.

As ações da empresa tiveram forte valorização no pregão de ontem da Bolsa de São Paulo, a B3. As ações ordinárias (ON, com direito a voto) subiram 4,88%, fechando em R$ 24,50. Já as preferenciais (PN, sem direito a voto) tiveram alta de 6,29%, cotadas a R$ 21,46. Além do desfecho, a valorização do petróleo no mercado internacional favoreceu a Petrobras, cujo valor de mercado no fim do dia era de R$ 302,5 bilhões. Assim, a estatal voltou a ser a segunda empresa mais valiosa da Bolsa brasileira, superando a Ambev. Perde apenas para a Vale.

Para analistas, o acordo resultará em menores custos de financiamento para a estatal e acessoo ao mercado americano. A empresa reforçou a tese de que foi vítima do esquema de corrupção, que poderá ser usada em outras ações.

—Com esse acordo, a Petrobras vira a página da Lava-Jato. O investidor estrangeiro leva muito a sério o passivo com a Justiça. Isso vai melhorar as condições da petroleira para captar recursos lá fora e atrair investimento internacional — avalia Raphael Figueredo, da Elevan Financial Research.

O acordo se somou à melhora dos resultados financeiros da Petrobras este ano. No segundo trimestre, a estatal teve lucro líquido de pouco mais de R$ 10 bilhões, bem acima do ganho de R$ 316 milhões registrado em igual período de 2017. Foi o melhor resultado para o período desde 2011.

—O acordo só tem aspectos positivos. Ele é fundamental para eliminar incertezas para a Petrobras e para o mercado de petróleo em geral — diz Roberto Castelo Branco, diretor do Centro de Estudos em Crescimento e Desenvolvimento Econômico da Fundação Getulio Vargas (FGV).

VALOR ALTO COMPENSA

Para Michel Sancovski, sócio do Tauil & Chequer, o acordo aumenta chances de sucesso em outras ações judiciais, como as que tramitam no Brasil e na Holanda. A Justiça de Roterdã avalia pedido de indenização de acionistas por perdas em função da corrupção na Petrobras, que tem sede internacional naquele país.

—A tese de que a empresa foi vítima de uma diretoria corrupta já dispensada pode ser usada em outros processos —diz Sancovski.

O advogado José Guilherme Berman, sócio do escritório Barbosa, Müssnich, Aragão, avalia que o valor a ser pago no acordo é alto, mas compensa por permitir emissões de títulos no mercado financeiro americano e captações a juros menores, viabilizando investimentos. Ele destaca que, como a companhia teve papel colaborativo, não precisará de um monitor de conformidade.