Correio braziliense, n. 20191, 01/09/2018. Economia, p. 8

 

PIB perde ritmo e avança 0,2%

Simone Kafruni

01/09/2018

 

 

Fortemente afetado pela greve dos caminhoneiros, no fim de maio, e pelas incertezas eleitorais, desempenho da economia no segundo trimestre leva analistas a baixar projeções para 2018. Investimento recua e consumo das famílias fica estagnado

Rio de Janeiro – A economia do Brasil anda de lado, quase parada. Impactado pela greve dos caminhoneiros, pela incerteza eleitoral e por um repique da inflação, o Produto Interno Bruto (PIB) teve uma leve alta de 0,2% no segundo trimestre em comparação com o primeiro trimestre do ano, divulgou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O órgão também revisou para baixo o dado dos três primeiros meses de 2018, de 0,4% para 0,1%, com ajuste sazonal. Com a atividade econômica praticamente estagnada, especialistas começam a revisar para baixo as projeções de crescimento do país neste ano.

Segundo Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, a economia perdeu ritmo. “Houve um choque de oferta por conta da greve dos caminhoneiros, com repique da inflação. Isso prejudicou o consumo das famílias, que ficou no mesmo patamar do trimestre anterior, com variação positiva de apenas 0,1%”, explicou. Rebeca ressaltou que o consumo também foi afetado pelo aumento da informalidade no mercado de trabalho e pelas sucessivas quedas da massa salarial, que caiu 0,5% no primeiro trimestre e 0,6% no segundo em relação a iguais períodos de 2017.

A incerteza eleitoral e os baixos índices de confiança também derrubaram os investimentos, pontuou a coordenadora do IBGE. O dado que mais decepcionou o economista da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Fábio Bentes, foi justamente o recuo da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), de 1,8%. “Foi o pior resultado em seis trimestres. A confiança está muito baixa, afetada por dois fatores: a surpresa da greve dos caminhoneiros e a incerteza a um mês das eleições”, assinalou.

Para Bentes, o resultado do PIB no segundo semestre foi muito fraco, mas dentro do esperado. “A expectativa era de 0,1% ou de estabilidade. A economia se arrasta. Revisamos a nossa expectativa para o ano, de 1,6% de crescimento, para 1,3%”, disse. O diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), José Ronaldo Souza Júnior, também deve baixar a projeção do órgão, que é de 1,7% para o ano. “Ainda não calculamos, mas o viés é negativo”, disse. Os economistas do Itaú projetam PIB de 1,3% em 2018 e de 2% em 2019. “O cenário considera nossa avaliação de que o crescimento da atividade econômica segue perdendo força”, explica a instituição.

Produtividade

Apesar de quase estável, o índice do segundo trimestre é o sexto resultado positivo seguido após oito variações negativas consecutivas na comparação trimestral. Os serviços tiveram desempenho positivo de 0,3%, enquanto houve estabilidade da agropecuária e queda de 0,6% na indústria. Conforme Cláudia Dionísio, gerente de Contas Nacionais Trimestrais do IBGE, o movimento na agropecuária é explicado por perda de produtividade em culturas com safras no período. “No caso do milho, que tem um peso de 11%, houve queda de 16,7%, com atraso no plantio por conta da estiagem. Isso foi compensado pelo café, cuja safra deve ser recorde este ano, com alta de 23,6%, mas o peso do café é de apenas 5%”, disse.

A taxa de investimentos chegou a 16% do PIB, acima do observado no mesmo período de 2017, quando foi de 15,3%, mas, ainda assim, a segunda pior da história. A taxa de poupança foi de 16,4% no segundo trimestre de 2018, ante 15,7%. Em valores correntes, o PIB totalizou R$ 1,693 trilhão.

Em relação ao segundo trimestre de 2017, o crescimento do PIB foi de 1%, o quinto resultado positivo consecutivo nessa comparação de base anual. A indústria e os serviços cresceram 1,2%, enquanto a agropecuária teve queda de 0,4%.

De acordo com Cláudia Dionísio, no setor industrial, o crescimento de 1,2% mostra uma desaceleração em relação ao início do ano, por conta da indústria da transformação, cujo peso é de 55%. “O setor sofreu de forma generalizada, sobretudo bens de capital e bens de consumo duráveis, também como efeito da greve dos caminhoneiros, por causa dos insumos e da acumulação de estoques”, explicou. “Como foi um fato pontual, a indústria pode voltar a se recuperar nos próximos trimestres”, estimou Souza, diretor do Ipea.

Cobranças

No entanto, a indústria, assim como os investimentos, também sofre com os dados muito negativos da construção civil, que registrou o 17º trimestre seguido de queda. No segundo trimestre de 2018, em comparação com igual período de 2017, o setor, que responde por 50% do investimento no país, recuou 1,1%. “O resultado do PIB corrobora posicionamento do setor, que tem cobrado do governo a adoção de medidas para melhorar o ambiente de negócios, especialmente no campo da segurança jurídica, e ampliar o acesso ao crédito para que as empresas possam voltar a empreender. Sem investimento, nosso setor paralisa a economia e o Brasil não avança”, disse José Carlos Martins, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC).

Na comparação com o segundo trimestre de 2017, a FBCF teve alta de 3,7%, o terceiro resultado positivo após 14 trimestres de recuo. Esse aumento se deve à alta na importação e na produção de bens de capital, já que a construção manteve desempenho negativo. O consumo do governo ficou estável (0,1%). No setor externo, as exportações e bens de serviços caíram 2,9%, enquanto as importações se expandiram 6,8%.

No primeiro semestre de 2018, o PIB acumula alta de 1,1% em relação a igual período de 2017. Nessa comparação, os serviços e a indústria tiveram alta de 1,4%, mas houve queda de 1,6% na agropecuária. A indústria da transformação cresceu 2,8%, enquanto a construção civil caiu 1,7% e a indústria extrativa recuou 0,6%. Nos serviços, apenas o grupo de informação e comunicação teve queda, de 1,4%. Os demais segmentos mostraram resultados positivos, com destaque para o avanço do comércio de 3,2%. “Apesar desse dado, na margem, a desaceleração é evidente: o setor cresceu 4,5% no último trimestre de 2017, 4,4% no primeiro deste ano e 1,9% no segundo”, pontuou Bentes, da CNC.

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Investimento encolhe

Rosana Hessel

01/09/2018

 

 

Os investimentos na economia encolheram 1,8% entre abril e junho últimos, em relação aos três primeiros meses do ano, informou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foi o primeiro resultado negativo desde o primeiro trimestre de 2017. Na comparação com o segundo trimestre do ano anterior, os investimentos cresceram 3,7%, a terceira alta consecutiva nessa base de comparação, após a recessão de 2015 e 2016.

Segundo analistas, os dados podem gerar interpretação equivocada. Para eles, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), o indicador do nível de investimento na economia, continua encolhendo, devido às incertezas no cenário político. Para os especialistas, o crescimento em relação ao ano passado   ocorreu, principalmente, porque a base de 2017 era muito baixa, assim como o PIB, pois a expansão ocorre em ritmo bastante lento. Além disso, o investimento vem caindo há quatro trimestres, na sequência de comparação com o período imediatamente anterior.

A expansão interanual de 3,7% ajudou a taxa de FBCF em relação ao PIB passar de 15,3% para 16%. A taxa de poupança também subiu, de 15,7% para 16,4% do PIB. E, se a poupança cresce, o potencial de investimento aumenta, lembram analistas.

Luana Miranda, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), avaliou que a comparação com o trimestre anterior dá uma percepção melhor do que está acontecendo e não gera ruído. “Os investimentos estão em uma trajetória de queda devido às incertezas em relação às eleições. Após a greve dos caminhoneiros em maio, a confiança do consumidor e do empresário voltou a cair, e está com dificuldade para voltar a crescer, porque os dados de emprego não mostram melhora significativa”, explicou. Segundo ela, se as eleições forem vencidas por um candidato pró-reformas, as expectativas voltariam a melhorar e, provavelmente, o investimento também voltaria a crescer.

Confiança

Para o país ter um crescimento maior, e por um período mais longo, a taxa de investimento precisa ser superior a 20% do PIB, de acordo com analistas. O economista Otto Nogami, professor do Insper, reconheceu que o cenário atual não é favorável. “O empresariado não tem confiança no ambiente econômico e no político. Ele vai postergar investimentos custe o que custar. A preocupação é saber quem vai ser o próximo presidente e que política será adotada”, resumiu.

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País fica na lanterna global

Rosana Hessel

01/09/2018

 

 

A expansão de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre, em comparação com o mesmo período do ano anterior, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),  foi a mais baixa de uma lista de 47 países feita pela Austin Rating, com base em resultados já publicados. Com isso, o Brasil continua na lanterna global em termos de desempenho econômico.

O ranking tem a liderança da Índia, que cresceu 8,2%. Em segundo lugar ficou a China, com alta de 6,7%, seguida pelas Filipinas, com 6% de expansão.  “O Brasil tem crescido pouco porque a incerteza em relação às eleições e à continuidade das reformas tem piorado as expectativas e a confiança dos investidores e dos empresários”, destacou Alex Agostini, economista-chefe da Austin.

Devido ao panorama incerto,  os investimentos e a produção industrial registraram queda no segundo trimestre, de 1,8% e de 0,6%, respectivamente, observou Agostini. “Nas últimas medições, o Brasil tem ficado na lanterna e costuma ficar à frente apenas da Venezuela, que ainda não divulgou os dados do período. Até a Grécia tem crescido mais”, comparou.

Os países latino-americanos com melhor classificação são Peru, em quinto lugar, com taxa de 5,4% no segundo trimestre, e Chile, em sétimo, com avanço de 5,3%. Peru e Chile têm crescido bem mais do que o Brasil, uma vez que são economias mais abertas e estão continuamente participando de acordos internacionais, destacou o economista Otto Nogami, professor do Insper.

“O governo insiste em uma política protecionista para a indústria de bens de capital e, exatamente pela falta de investimento, que é baixo devido às incertezas, o país não consegue ter uma tecnologia mais desenvolvida para ganhar competitividade no mercado internacional”, afirmou Nogami “A indústria nacional só consegue exportar manufaturado para vizinhos, como Argentina, Paraguai e Bolívia, mas não conquista mercados desenvolvidos, como Estados Unidos, Europa e Japão”, resumiu.

Na avaliação de Agostini, a economia brasileira ainda vai demorar para se recuperar do baque da recessão de 2015 e 2016. “Havia otimismo no início do ano, e as apostas eram de que o país poderia crescer em torno de 3% em 2018, mas, pela nossa previsão, a expansão será de 1,1%. Tudo indica que este não será o ano da virada”, lamentou.