Correio braziliense, n. 20192, 02/09/2018. Mundo, p. 12

 

Diversidade nas urnas

Jorge Vasconcellos

02/09/2018

 

 

ESTADOS UNIDOS » Mulheres, negros, minorias étnicas e transgêneros se afirmam na oposição democrata para enfrentar a direita republicana nas eleições legislativas de 6 de novembro, o primeiro grande teste político para Donald Trump

Mulheres, negros, homossexuais, transgêneros e muçulmanos despontam como a grande aposta do Partido Democrata nas eleições de 6 de novembro, as mais polarizadas das últimas décadas nos Estados Unidos, com a sociedade dividida ao meio em torno de questões como religião, igualdade de gênero e racismo — temas impulsionados, em grande parte, pela retórica agressiva do presidente Donald Trump, que enfrenta o primeiro grande teste na metade de seu mandato. Com Trump puxando o Partido Republicano para um discurso ponteado pela defesa da supremacia branca, da intolerância étnico-religiosa e das portas fechadas aos estrangeiros e às minorias, um número recorde de representantes dos setores mais agredidos pelo mandatário se apresentará nas urnas para disputar vagas no Congresso e nos governos de estado.

Setembro tem no calendário mais uma rodada de primárias em que os democratas poderão aprofundar essa tendência. As atenções se voltarão especialmente para Nova York, onde os partidários da oposição escolherão o candidato ao governo do estado entre o atual titular, Andrew Cuomo, representante do establishment, e a adversária, a atriz Cynthia Nixon, a Miranda da série de tevê Sex and the city. Homossexual assumida, ela protagonizou com Cuomo um debate em que não faltaram queixas contra interrupções e acusações recíprocas.

As expectativas se alimentam por resultados como o das primárias da Flórida, estado que tem sido fiel da balança nas últimas eleições presidenciais. Lá, o prefeito da capital, Tallahassee, um político negro alinhado com a ala mais à esquerda democrata, surpreendeu e tornou-se o primeiro afro-americano a disputar o governo do estado. Andrew Gillum enfrentará o republicano Ron DeSantis, que fez campanha colando a própria imagem à de Donald Trump.

“Esses segmentos da população estão motivados a concorrer pela retórica de Trump”, disse ao Correio o cientista político Nathan Zook, do Montgomery College. “O discurso do presidente motivou muitos que pertencem a grupos atacados por ele”, reforça Brigid Harrison, professora de ciência política e direito da Montclair State University. “A divisão gerada por esse discurso levou muitas pessoas a se perguntarem o que poderiam fazer para melhorar a representação desses grupos no Congresso.”

Estarão em jogo nas urnas, em novembro, todas as 435 vagas da Câmara dos Deputados, 35 das 100 cadeiras do Senado e 36 dos 50 governos estaduais. Os prognósticos indicam que os republicanos manterão a maioria no Senado, mas os democratas aparecem com chances de conquistar os 23 assentos necessários para assumir a maioria da Câmara.

Além disso, um estudo recente do Instituto Gallup mostrou uma correlação extremamente elevada (70%) entre os índices de popularidade de um presidente americano e o desempenho de seus correligionários nas eleições intermediárias para a Câmara. Esse levantamento foi feito com base nos resultados de 13 pleitos anteriores. No caso de Trump, hoje com aprovação de 41%, esse percentual sugere uma possível perda de mais de 60 assentos pelo seu partido. O número é quase três vezes superior ao que é buscado pelos democratas para reconquistar a maioria na Casa.

As eleições deste ano têm acumulado uma série de recordes, com um número sem precedentes de candidatos radicais, defensores de bandeiras como o nazismo, o antissemitismo e a supremacia branca. Em entrevista à agência de notícias France-Presse, Heidi Beirich, especialista do Southern Poverty Law Center (SPLC), que rastreou grupos de ódio desde 1999, também apontou o discurso polarizado de Trump como fator de motivação. “O uso pouco ortodoxo de linguagem racista e antimuçulmana, toda essa linguagem própria do fanatismo, abriu uma porta na política que antes não estava aberta”, disse o especialista.

Por outro lado, em um ano marcado pelo movimento #MeToo contra a violência de gênero e pela revelação de que Trump tentou comprar o silêncio de mulheres com as quais manteve relações extraconjugais, as candidaturas femininas registram recorde. Mais de 180 mulheres para disputar uma cadeira na Câmara dos Deputados. Ao menos 11 estavam confirmadas, até a semana passada, para lutar por governos estaduais. “Batemos o recorde de mulheres nomeadas pelos principais partidos para a Câmara em relação a qualquer outro ano”, afirmou o Centro para Mulheres Americanas e Política (CAWP, em inglês).

Muitas postulantes com chances de vitória fazem parte de minorias com baixa ou nenhuma representação no Congresso, a exemplo da americana-palestina Rashida Tlaib. Vencedora de uma primária democrata no estado de Michigan, ela poderá se transformar na primeira mulher muçulmana eleita para o Legislativo.

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Guerra comercial ameaça o presidente

02/09/2018

 

 

Mulheres, negros, homossexuais, transgêneros e muçulmanos despontam como a grande aposta do Partido Democrata nas eleições de 6 de novembro, as mais polarizadas das últimas décadas nos Estados Unidos, com a sociedade dividida ao meio em torno de questões como religião, igualdade de gênero e racismo — temas impulsionados, em grande parte, pela retórica agressiva do presidente Donald Trump, que enfrenta o primeiro grande teste na metade de seu mandato. Com Trump puxando o Partido Republicano para um discurso ponteado pela defesa da supremacia branca, da intolerância étnico-religiosa e das portas fechadas aos estrangeiros e às minorias, um número recorde de representantes dos setores mais agredidos pelo mandatário se apresentará nas urnas para disputar vagas no Congresso e nos governos de estado.

Setembro tem no calendário mais uma rodada de primárias em que os democratas poderão aprofundar essa tendência. As atenções se voltarão especialmente para Nova York, onde os partidários da oposição escolherão o candidato ao governo do estado entre o atual titular, Andrew Cuomo, representante do establishment, e a adversária, a atriz Cynthia Nixon, a Miranda da série de tevê Sex and the city. Homossexual assumida, ela protagonizou com Cuomo um debate em que não faltaram queixas contra interrupções e acusações recíprocas.

As expectativas se alimentam por resultados como o das primárias da Flórida, estado que tem sido fiel da balança nas últimas eleições presidenciais. Lá, o prefeito da capital, Tallahassee, um político negro alinhado com a ala mais à esquerda democrata, surpreendeu e tornou-se o primeiro afro-americano a disputar o governo do estado. Andrew Gillum enfrentará o republicano Ron DeSantis, que fez campanha colando a própria imagem à de Donald Trump.

“Esses segmentos da população estão motivados a concorrer pela retórica de Trump”, disse ao Correio o cientista político Nathan Zook, do Montgomery College. “O discurso do presidente motivou muitos que pertencem a grupos atacados por ele”, reforça Brigid Harrison, professora de ciência política e direito da Montclair State University. “A divisão gerada por esse discurso levou muitas pessoas a se perguntarem o que poderiam fazer para melhorar a representação desses grupos no Congresso.”

Estarão em jogo nas urnas, em novembro, todas as 435 vagas da Câmara dos Deputados, 35 das 100 cadeiras do Senado e 36 dos 50 governos estaduais. Os prognósticos indicam que os republicanos manterão a maioria no Senado, mas os democratas aparecem com chances de conquistar os 23 assentos necessários para assumir a maioria da Câmara.

Além disso, um estudo recente do Instituto Gallup mostrou uma correlação extremamente elevada (70%) entre os índices de popularidade de um presidente americano e o desempenho de seus correligionários nas eleições intermediárias para a Câmara. Esse levantamento foi feito com base nos resultados de 13 pleitos anteriores. No caso de Trump, hoje com aprovação de 41%, esse percentual sugere uma possível perda de mais de 60 assentos pelo seu partido. O número é quase três vezes superior ao que é buscado pelos democratas para reconquistar a maioria na Casa.

As eleições deste ano têm acumulado uma série de recordes, com um número sem precedentes de candidatos radicais, defensores de bandeiras como o nazismo, o antissemitismo e a supremacia branca. Em entrevista à agência de notícias France-Presse, Heidi Beirich, especialista do Southern Poverty Law Center (SPLC), que rastreou grupos de ódio desde 1999, também apontou o discurso polarizado de Trump como fator de motivação. “O uso pouco ortodoxo de linguagem racista e antimuçulmana, toda essa linguagem própria do fanatismo, abriu uma porta na política que antes não estava aberta”, disse o especialista.

Por outro lado, em um ano marcado pelo movimento #MeToo contra a violência de gênero e pela revelação de que Trump tentou comprar o silêncio de mulheres com as quais manteve relações extraconjugais, as candidaturas femininas registram recorde. Mais de 180 mulheres para disputar uma cadeira na Câmara dos Deputados. Ao menos 11 estavam confirmadas, até a semana passada, para lutar por governos estaduais. “Batemos o recorde de mulheres nomeadas pelos principais partidos para a Câmara em relação a qualquer outro ano”, afirmou o Centro para Mulheres Americanas e Política (CAWP, em inglês).

Muitas postulantes com chances de vitória fazem parte de minorias com baixa ou nenhuma representação no Congresso, a exemplo da americana-palestina Rashida Tlaib. Vencedora de uma primária democrata no estado de Michigan, ela poderá se transformar na primeira mulher muçulmana eleita para o Legislativo.