O Estado de São Paulo, n. 45635, 27/09/2018. Política, p. A8

 

Centrão procura ‘culpados’ por crise em campanha tucana

Vera Rosa

27/09/2018

 

 

Para dirigentes do bloco partidário, próprio PSDB é o responsável pela estagnação de Geraldo Alckmin nas pesquisas

MARRA/FUTURA PRESS-11/6/2018

Minas. Marcos Montes (à esq.) e Anastasia compõem chapa

Dirigentes do Centrão procuram culpados para a estagnação do candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, nas pesquisas de intenção de voto. Líderes do bloco elegeram o próprio PSDB como o maior responsável pelo mau desempenho da campanha do tucano.

Contrariados com o “fogo amigo” de políticos do PSDB, o comando da campanha de Alckmin está pedindo a correligionários, a dez dias do primeiro turno, que parem de fazer críticas públicas ao candidato e de apontar problemas na equipe. Em conversas reservadas, dirigentes do Centrão dizem ser difícil segurar traições na aliança quando os próprios tucanos criticam a campanha.

O deputado e candidato ao Senado Bruno Araújo (PSDBPE), por exemplo, ao participar de uma sabatina em Pernambuco, disse que o ex-prefeito João Doria, hoje candidato do PSDB ao governo paulista, tem um perfil mais “assertivo” para disputar o Palácio do Planalto.

“Quem tem essa característica no PSDB é o Doria, mas o governador Alckmin poderia ter avançado nesse tipo assertivo”, afirmou Araújo, que foi ministro das Cidades no governo Michel Temer. Questionado se a campanha havia sido mal administrada, o deputado respondeu: “Acho que sim. Acho que faltou vigor nas ideias. O eleitor brasileiro, hoje, exige firmeza nos pensamentos”.

PSD. As declarações de Araújo foram feitas logo depois que o deputado Marcos Montes (PSD), candidato a vice na chapa de Antonio Anastasia (PSDB) ao governo de Minas, admitiu a possibilidade de “dar as mãos” ao presidenciável Jair Bolsonaro (PSL). “A partir do momento que eu achar, e o professor Anastasia também achar, que o candidato Alckmin não vai ao segundo turno, nós precisamos dar as mãos ao candidato Bolsonaro”, disse Montes em ato em Patrocínio (MG).

Ao Estado, o presidente do PSD, Gilberto Kassab, amenizou as afirmações do deputado. “Ele tem sido correto com o Geraldo. Nós não trabalhamos com a hipótese de não irmos para o segundo turno”, disse Kassab, que é ministro de Ciência, Tecnologia e Comunicações. O PSD integra a coligação de apoio a Alckmin.

No PSDB, o senador Tasso Jereissati, ex-presidente do partido, e o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio, também fizeram críticas à campanha tucana. Tasso disse que o PSDB cometeu “erros memoráveis”. O principal deles, na sua avaliação, foi o fato de o partido ter entrado no governo Temer. “Fomos engolidos pela tentação do poder”, afirmou Tasso ao Estado. Virgílio disse que ninguém no PSDB estava satisfeito com a campanha do ex-governador.

Dirigentes do Centrão observam que outro erro da campanha foi o fato de Alckmin ter “subestimado” São Paulo. Líderes do bloco comentam que, como o tucano governou o Estado por quase 14 anos, achou que poderia concentrar a caça aos votos em outras regiões. Com isso, acabou permitindo que Bolsonaro o ultrapassasse no maior colégio eleitoral do País.