Título: Lula nega pressão a ministro do STF
Autor: Valadares, João
Fonte: Correio Braziliense, 29/05/2012, Política, p. 4

O ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva negou, na tarde de ontem, por meio de nota oficial divulgada pela assessoria de imprensa do Instituto Lula, que tenha feito qualquer tipo de pressão, no encontro com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes, para que o julgamento do mensalão fosse adiado. Reportagem da revista Veja, publicada no fim de semana, relata que o ex-presidente, para conseguir seu objetivo, teria sugerido blindar o ministro na CPI. "Meu sentimento é de indignação", relatou Lula. A nota confirma o encontro com Mendes no escritório do ex-ministro do STF Nelson Jobim, mas nega o teor da conversa publicada pela revista.

"Luiz Inácio Lula da Silva jamais interferiu ou tentou interferir nas decisões do Supremo ou da Procuradoria-Geral da República em relação à ação penal do chamado mensalão, ou a qualquer outro assunto da alçada do Judiciário ou do Ministério Público, nos oito anos em que foi presidente da República", diz a nota oficial.

O ex-presidente afirma que nunca interferiu nas decisões do STF. "O procurador Antonio Fernando de Souza apresentou a denúncia do chamado mensalão ao STF e depois disso foi reconduzido ao cargo. Eu indiquei oito ministros do Supremo e nenhum deles pode registrar qualquer pressão ou injunção minha em favor de quem quer que seja", disse. Nelson Jobim negou, no fim de semana, que o ex-presidente tivesse feito qualquer tipo de pressão. Ontem, no Senado, preferiu não falar sobre o assunto.

O presidente do Supremo, Carlos Ayres Britto, informou que o ex-presidente precisa ser ouvido. O ministro Marco Aurélio Mello também comentou: "Está tudo errado. É o tipo de acontecimento que não se coaduna com a liturgia do Supremo Tribunal Federal, nem de um ex-presidente da República ou de um ex-presidente do tribunal, caso o Nelson Jobim tenha de fato participado disso", afirmou à Folha de S. Paulo.

Tráfico de influência Diante da denúncia, partidos de oposição protocolaram na Procuradoria-Geral da República representação criminal contra o ex-presidente Lula com o objetivo de se instalarem inquérito policial e a consequente denúncia criminal para que tenha início o processo. Os oposicionistas alegam que, se as denúncias forem confirmadas, Lula pode ser enquadrado por coação no curso do processo, tráfico de influência e corrupção ativa.

Ontem, em Manaus, Gilmar Mendes confirmou o teor da conversa. "O presidente disse da importância de que, se possível, não se julgasse esse ano porque não haveria objetividade. Eu falei então que não haveria como adiar esse julgamento dada a repercussão." Mendes afirmou ter ouvido de Lula que o governo tinha o controle da comissão. "Eu entendi que ele estava inferindo que eu tinha algo a dever nesta matéria de CPMI. Eu disse: "O senhor está com alguma informação confusa ou desinformado.""

O ministro informou que o ex-presidente perguntou de uma viagem que ele tinha feito com o senador Demóstenes a Berlim. "Foi uma viagem que eu fizera a partir de uma atividade acadêmica e me encontrara com o senador em Praga. Isso foi agendado previamente e nos deslocamos até Berlim, onde mora minha filha." O ministro, que disse ter pago a viagem a Berlim com recursos próprios, mostrou-se perplexo com a insinuação do ex-presidente. Para a viagem de caráter particular, o gabinete do senador Demóstenes pediu apoio oficial ao Itamaraty. O Correio teve acesso a documento encaminhado às embaixadas do Brasil em Berlim e Praga com o detalhamento da viagem.

O senador Demóstenes e a esposa viajaram, entre 15 e 24 de abril do ano passado, para Praga, capital da República Tcheca, e Berlim, capital da Alemanha, acompanhados de Gilmar Mendes e a mulher. Tiveram direito a carro oficial, com apoio das embaixadas. Demóstenes chegou a Praga, procedente de Lisboa, em 15 de abril. Gilmar Mendes vinha de Barcelona, na Espanha, e chegou um dia depois. Em Praga, de acordo com as informações repassadas à embaixada, os dois casais se hospedaram no Hotel Four Seasons e seguiram, em 19 de abril, numa viagem de trem para Berlim.