O globo, n. 31096, 26/09/2018. Economia, p. 23
Argentino enfrenta troca no BC em plena renegociação com FMI
Janaína Figueiredo
26/09/2018
Governo Mauricio Macri busca ampliar valor do acordo com o Fundo e antecipar desembolsos. Lagarde afirma que discussões estão ‘perto da linha de chegada’
O inferno astral do presidente Mauricio Macri parece não ter fim. Ontem, no mesmo dia em que os sindicatos mais importantes da Argentina organizaram a quarta greve geral contra o governo em menos de três anos, o presidente do Banco Central, Luis Caputo, ren unci ou.Éa terceiram udançano comando da instituição em menos de quatro meses. A saída de Caputo era esperada, mas não no momento em que Macri está nos Estados Unidos tentando dar sinais de confiança aos mercados e ampliar o acordo de US$ 50 bilhões fechado em junho com o Fundo Monetário Internacional (FMI) —especula-se entre US$ 3 bilhões e US$ 5 bilhões, mas há quem fale em até US$ 20 bilhões — e acelerar o cronograma de desembolsos.
O dólar subiu 2,02%, a 38,91 pesos. No lugar de Caputo ficará Guido Sandleris, e a expectativa em relação às negociações com o Fundo são grandes. O porta-voz do organismo, Gerry Rice, afirmou ontem em nota que a equipe técnica do FMI e as autoridades argentinas “continuam trabalhando intensamente”.
Pelo Twitter, a diretora-gerente do Fundo, Christine Lagarde, disse que o FMI está “perto da linha de chegada” na negociação coma Argentina.
OUTRA VENEZUELA, NÃO
Sandleris é homem de confiança do ministro da Fazenda, Nicolás Dujovne, que, na opinião de analistas argentinos, venceu uma queda de braço com Caputo. Este, segundo fontes, defendia um modelo de controle cambial, proposta rechaçada por Dujovne e pelo FMI. Agora, economistas esperam menos intervenção no câmbio, apesar do risco que isso implica na Argentina, cuja e cono miaé dolarizada eque, só este ano, passou por quatro maxidesvalorizações.
Em Nova York, Dujovne minimizou a renúncia de Caputo, afirmando que “não foi uma surpresa”, e considerou normais as incertezas após a saída. Segundo Dujovne, o acordo com o FMI poderia ser anunciado hoje, senão ocorrer nada “extraordinário”.
Na véspera, Macri, ao receber o prêmio Cidadão Global, entregue pelo grupo americano Atlantic Council, criticou o populismo e defendeu as conquistas de seu governo:
—Recebo este prêmio como um reconhecimento para o povo argentino, pelo valor que temos demonstrado para deter o processo de nos tornarmos outra Venezuela — afirmou Macri. —Mudamos porque entendemos que não poderíamos deixar o populismo afetar nossa sociedade.
Em Buenos Aires, o clima ontem era bem diferente. A cidade estava deserta, como muitas outras do país. A paralisação afetou todos os meios de transporte, hospitais, universidades, bancos, serviço de coleta de lixo e parte do comércio, entre outros setores. Voos domésticos e internacionais foram cancelados. Ao menos 207 voos foram cancelados.
—Vemos uma incapacidade total do governo para enfrentar a crise. Se não existe plano B, tampouco haverá trégua dos sindicatos e movimentos sociais —afirmou Juan Carlos Schmidt, da Central Geral de Trabalhadores (CGT). — Queremos uma mudança de plano econômico antes que seja tarde demais.
OPINIÃO DO GLOBO - VIDEOTEIPE
CANDIDATOS e, principalmente, eleitores precisam prestar atenção ao que acontece na Argentina. O inventário é de assustar: inflação nos oito primeiros meses, 24,3%; projeção para o PIB deste ano, recessão de 2%; desvalorização do peso desde janeiro, 50%.
INTERESSA AOS brasileiros saber que este é o resultado do erro do governo Macri de não fazer o ajuste fiscal que deveria ter executado. Contemporizou ao assumir, e agora a população paga elevado preço. Além disso, politicamente Macri dá espaço aos populistas de sempre, principais responsáveis por essa situação, mas que podem se aproveitar da crise para voltarem como salvadores da pátria.
É UMA história que se repete na América Latina.