O Estado de São Paulo, n.45619 , 11/09/2018. Política, p.A8

AGRESSOR MOSTRA LUCIDEZ E COESÃO, DIZ MP

 

Eleições 2018 Investigação / Avaliação da Procuradoria contrasta com alegação de insanidade mental proposta pela defesa do autor da facada no candidato Jair Bolsonaro

 

Breno Pires / BRASÍLIA

 

A procuradora da República Zani Cajueiro, do Ministério Público Federal em Juiz de Fora (MG), afirmou ao Estado que Adelio Bispo de Oliveira, preso em flagrante na quintafeira passada pelo ataque ao candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL), mostrou “lucidez e coesão” em seu raciocínio na audiência de custódia realizada na sexta-feira, um dia após o atentado. A avaliação da procuradora diverge da alegação de insanidade mental que a defesa do pedreiro, de 40 anos, tem feito.

“No que tange à lucidez, no curso da oitiva na audiência de custódia, o raciocínio do preso era absolutamente coeso, sem lacunas. Externalizou que discordava do candidato Bolsonaro em vários pontos. Não demonstrou, a princípio, nenhum sinal de insanidade mental”, disse a procuradora ao Estado.

A defesa de Oliveira apresentou ontem à tarde um requerimento à Justiça para que seja feito um exame psiquiátrico no agressor, sob a justificativa de que ele tem insanidade mental .

Os advogados disseram que Oliveira relatou ter feito “uso permanente de medicamentos controlados, de tarja preta, e possui um histórico de consultas com médicos psiquiatras e neurologistas”. O objetivo dos advogados é que o pedreiro seja considerado “inimputável” (impossibilitado de ser punido).

Ao divergir da defesa, a procuradora afirmou que Oliveira tem segundo grau completo e se mostrou bem articulado ao depor sobre o crime pelo qual foi preso em flagrante. Segundo Zani, o agressor disse que não gostaria que Bolsonaro fosse presidente da República, porque acha que haveria algum tipo de perseguição a certos grupos da sociedade.

Em trechos do depoimento na audiência de custódia, Oliveira se identificou como um representante da “esquerda moderada” e declarou que Bolsonaro “defende ideologia diametralmente oposta, ou seja, de extrema direita”. O servente de pedreiro afirmou ainda que o candidato do PSL “defende o extermínio de homossexuais, negros, pobres e índios, situação que discorda radicalmente”.

De acordo com a procuradora, também chamou a atenção dos investigadores o fato de Oliveira ter à disposição quatro celulares e um notebook, segundo ela, “de última geração”.Segundo o Ministério Público, a investigação está focada na análise de todos os possíveis contatos de Oliveira que possibilitaram ao investigado chegar a Juiz de Fora, permanecer na cidade e ser defendido por escritório particular de advogados.

Quando depôs, o agressor disse que não foi contratado por ninguém nem recebeu nenhum tipo de auxílio para atacar Bolsonaro à facada durante o ato de campanha na cidade.

 

Apuração. O inquérito policial foi enviado ontem para a 3.ª Vara Federal de Juiz de Fora e ficará sob a responsabilidade do juiz federal Bruno Souza Savino. A procuradora esteve à frente do caso nos primeiros dias, em regime de plantão, mas agora passará para o procurador da República Marcelo Medina.

A Polícia Federal afirmou que está realizando “análise de dados financeiros” do agressor, o que é um indicativo de que pode ter havido a autorização da quebra de sigilo financeiro. Esta informação, no entanto, não foi confirmada pela Justiça (mais informações nesta página).

O juiz Bruno Savino ainda não decidiu se a tramitação do caso será sigilosa ou pública. De perfil técnico, o juiz tornou réus 12 pessoas denunciadas pelo procurador Marcelo Medina após uma investigação sobre fraudes em licitação do Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), incluindo um ex-reitor da instituição.

 

‘Sem lacunas’

“O raciocínio do preso era absolutamente coeso, sem lacunas. Externalizou que discordava do candidato Bolsonaro em vários pontos. Não demonstrou a princípio nenhum sinal de insanidade mental.”

Zani Cajueiro

PROCURADORA DA REPÚBLICA