Título: Perillo e Agnelo vão depor na CPI
Autor: de Tarso Lyra, Paulo
Fonte: Correio Braziliense, 31/05/2012, Política, p. 2

A CPI do Cachoeira convocou ontem os governadores de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), e do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT-DF) para depoimentos ainda sem data marcada. A convocação de Agnelo Queiroz representou uma dura derrota para o PT, que ficou perplexo após a proclamação do resultado: 16 a 12 pela ida do governador brasiliense à comissão. Isolado, o partido foi atropelado pelo PMDB, que conseguiu blindar o governador fluminense, Sérgio Cabral Filho, e vingar-se da quebra do sigilo da construtora Delta Nacional.

Para não gerar queixas explícitas dos petistas, o PMDB “lavou o voto”: aliou-se ao PT, mas incensou os demais partidos da base a ficar a favor da convocação. Parlamentares do PP, PTB, PR, PSB e PDT votaram contra Agnelo Queiroz. Logo em seguida, ao analisar a situação de Sérgio Cabral, três tucanos que se posicionaram a favor da convocação de Agnelo foram contra a CPI ouvir Cabral: os deputados Carlos Sampaio (SP), Domingos Sávio (MG) e o senador Cássio Cunha Lima (PB). “Houve uma clara aliança entre PSDB e PMDB. Mas isso não azeda o relacionamento, já estamos acostumados com o PMDB”, reclamou o líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto (SP).

O Correio apurou que o PMDB não engoliu a disposição do PT em quebrar o sigilo da construtora Delta Nacional. Os peemedebistas reclamaram que em nenhuma das ligações telefônicas interceptadas pela Polícia Federal há qualquer menção a Sérgio Cabral. O próprio governador lembrou isso. “Não é possível alguém querer transformar uma CPI em palanque em pleno ano eleitoral”, reclamou.

Os petistas defendem-se, alegando que não havia mais como segurar a quebra do sigilo da Delta, diante dos fatos que se sucediam e à quebra do sigilo bancário e fiscal de Cláudio Abreu — ex-diretor da Delta no Centro-Oeste — e Heraldo Puccini, representante da empresa em São Paulo. Irritou ainda os petistas o fato de o partido tentar, até o último momento, preservar a Delta e o PMDB fazer-se de rogado publicamente e nos bastidores. “Não podíamos continuar dando nossa cara a tapa sozinhos”, reclamou um interlocutor do PT.

A vingança do PMDB deixou o PT sem ação. “A gente não esperava por essa”, reconheceu o senador Humberto Costa (PT-PE), aturdido, logo após a reunião. Durante a sessão da CPI, antes mesmo de os requerimentos de convocação terem sido colocados para a votação, Humberto Costa havia sido um dos mais enfáticos na defesa de que apenas Perillo deveria ser convocado nesse momento. “Estão querendo dar ao governador Agnelo e ao governador Perillo o mesmo tratamento. A situação dos dois é diferente, não é igual”, protestou Costa. “Tem que haver algo que justifique essa convocação. E, até o momento, só há justificativas contra Perillo”, arrematou.

Humberto Costa criticou a postura da oposição. Durante a sessão de ontem da CPI, o líder do PSDB na Câmara, Bruno Araújo (PE), chegou a afirmar que acabara de receber uma ligação de Perillo reforçando o desejo de comparecer espontaneamente à comissão. Os tucanos queriam, inclusive, suspender a votação e já decidir que dia o governador goiano compareceria perante deputados e senadores. De preferência, na próxima sessão de depoimentos, prevista para semana que vem.

“Guerra política”

Na última terça-feira, Perillo esteve em Brasília para cumprimentar o presidente da CPI, Vital do Rêgo (PMDB-PB), constrangendo os governistas. “Se ele está tão disposto, tão desprendido para vir, por que ele não tem o mesmo desprendimento para aceitar a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico? O que vocês estão querendo fazer aqui é uma guerra política”, disse Costa. “O Perillo está dizendo que deseja vir porque está na corredeira dessa Cachoeira, ele sabe que está perdido”, completou o líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto (SP).

Logo após a sessão, Perillo afirmou que está à disposição da CPI e que está tranquilo para responder aos questionamentos. De acordo com o inquérito da Polícia Federal, o nome do tucano aparece em mais de 200 ligações, e, em muitas delas, é citado nominalmente. No caso de Agnelo, existem menções ao governador, mas em nenhuma das interceptações telefônicas ele é citado nominalmente como participante do esquema de Carlinhos Cachoeira.

Para o deputado Domingos Sávio (PSDB-MG), a derrota imposta ao PT durante a sessão de ontem também serve como uma resposta ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que teria dito ao ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes que tem o controle sobre a CPI. “Mostramos que uma articulação benfeita pode derrubar os conceitos de maioria e minoria”, declarou. “Não dá para o governo ficar alheio ao que acontece aqui. Faltou articulação e a presença das lideranças no plenário”, declarou um deputado do PMDB.

Colaborou Júnia Gama

Estão querendo dar ao governador Agnelo e ao governador Perillo o mesmo tratamento. A situação dos dois é diferente, não é igual” Humberto Costa (PT-PE), senador e integrante da CPI