Título: Tenho que tomar cuidado
Autor: Braga, Juliana
Fonte: Correio Braziliense, 31/05/2012, Política, p. 12
O ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva evitou falar diretamente, ontem, durante palestra na Fiocruz, no câmpus da Universidade de Brasília (UnB), sobre as declarações do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes. De acordo com o ministro, Lula seria “uma central de informações falsas” que circulam contra ele na tentativa de “melar” o julgamento do mensalão. Em um discurso de pouco mais de uma hora sobre os avanços de seu governo, Lula proferiu apenas uma frase que pode ser interpretada como uma indireta ao ministro: “Vocês sabem que tem muita gente que gosta de mim, mas tem algumas (pessoas) que não gostam. Eu tenho que tomar cuidado com essas. São minoria, mas estão aí no pedaço”.
Antes de iniciar o discurso para autoridades da América Latina, do Caribe e da África, o ex-presidente disse que só falaria por 15 minutos por recomendação médica — ele combateu um câncer na laringe entre o fim de outubro passado e março deste ano. No entanto, mostrou vigor e saúde. Falou 50 minutos a mais que a previsão. “Vou falar de pé, porque senão podem dizer que estou doente. Para evitar esses pequenos dissabores...”
Lula chegou a Brasília na noite de terça-feira. Foi direto ao hotel Blue Tree Towers. Ontem pela manhã, recebeu apenas a visita do ex-chefe da Secretaria-Geral da Presidência Luiz Dulci. Às 13h20, o ex-presidente chegou ao Palácio da Alvorada para almoçar com a presidente Dilma Rousseff. Entrou por um portão lateral para fugir do assédio da imprensa.
Pouco mais de duas horas depois do almoço, Lula deixou o local e retornou ao hotel. Na chegada à Fiocruz, por volta das 18h, o ex-presidente também não falou com jornalistas, apesar da insistência. Os repórteres não puderam entrar no auditório. Tiveram que acompanhar a palestra por meio de uma televisão instalada numa sala ao lado.
Lula dedicou boa parte do discurso para enaltecer os oito anos em que esteve à frente da Presidência da República. Falou também da crise europeia e da necessidade de inclusão social dos mais pobres. Também aproveitou a ocasião para criticar a imprensa. À noite, voltou a São Paulo.