Título: Ajuda dos colegas
Autor: Tahan, Lilian
Fonte: Correio Braziliense, 31/05/2012, Cidades, p. 29

A investigação da Polícia Civil que mantém o ex-deputado Júnior Brunelli (sem partido) preso desde domingo apresentou uma série de evidências demonstrando o suposto funcionamento fraudulento, em 2009, da Associação de Assistência Social Monte das Oliveiras (AMO), comandada por familiares do ex-parlamentar. Nesse mesmo ano, três colegas de Brunelli na Câmara Legislativa apresentaram emendas generosas à entidade acusada de desviar, pelo menos, R$ 1,7 milhão de dinheiro público. As sugestões ao orçamento que deveriam beneficiar a AMO partiram de Jaqueline Roriz (PMN), de Benedito Domingos (PP) e do ex-distrital Bispo Renato (PR). Juntos, eles pretendiam, a princípio, contemplar a associação com R$ 1,85 milhão.

Embora a AMO viesse de um histórico de repasses polpudos de 2005 a 2009, a torneira fechou em 2010, pouco depois de estourar a Operação Caixa de Pandora, em que Brunelli foi flagrado em vídeo recebendo dinheiro do ex-secretário de Relações Institucionais Durval Barbosa e rezando a "oração da propina". Após o escândalo, os três deputados que haviam apresentado recursos para a associação de Brunelli voltaram atrás. Entre março e julho de 2010, eles alteraram o primeiro destino das emendas. Com isso, a entidade acabou não recebendo nada. Em função da crise da Pandora, Brunelli precisou renunciar ao cargo para escapar de processo de cassação de mandato.

A Operação Hofini da Divisão de Combate ao Crime Organizado da Polícia Civil (Deco), deflagrada na última sexta-feira, concentrou as apurações contra a AMO em 2009, quando a entidade recebeu R$ 1,7 milhão do GDF, por meio de emendas parlamentares. Como os investigadores não encontraram sinais de que a associação prestava assistência social aos idosos, o inquérito sobre o caso sustenta que o desvio foi justamente de R$ 1,7 milhão. Mas os investigadores acreditam que o desfalque tenha sido ainda maior. De 2005 até o início de 2010, a entidade recebeu R$ 3,6 milhões, valor considerado sob suspeita.

E, pelo menos, até o fim de 2009, antes do escândalo de Pandora, os planos eram turbinar ainda mais a AMO. É da deputada Jaqueline Roriz uma emenda no valor de R$ 500 mil para a associação. Assim como Brunelli, a parlamentar foi sorvida pelo escândalo da Pandora ao ser flagrada em imagens recebendo dinheiro das mãos de Durval. Ela sustenta que era recurso de campanha.

Quem também estendeu a mão à entidade de Brunelli foi Benedito Domingos. O distrital foi o que mais reservou dinheiro das emendas a que tinha direito em 2009 — elas seriam aplicadas em 2010 — para a AMO. Apresentou duas delas, cada uma de R$ 450 mil (leia fac-símile). A primeira para "a realização de eventos esportivos" e uma segunda para "eventos com idosos". Ambas sem citar o nome por extenso da instituição. Benedito responde na Justiça por crimes como fraude em licitação, formação de quadrilha e corrupção passiva. Teria usado sua condição de político para facilitar negócios de seus familiares. Ele nega e diz que vai se defender na Justiça.

Suplente

Uma quarta emenda é de autoria do Bispo Renato. Na legislatura passada, ele era suplente de Aguinaldo de Jesus. Como substituto, não tinha as mesmas prerrogativas que os titulares de apontar várias emendas. Em 2009, foi apenas uma, de R$ 450 mil, e justamente para a AMO.

Todas as quatro emendas foram canceladas para a entidade e redirecionadas após o escândalo da Pandora. Por meio de sua assessoria de imprensa, Jaqueline Roriz afirmou que tinha uma relação eleitoral com o público da Casa da Benção, igreja fundada por Doriel de Oliveira, pai de Brunelli. Nos fundos da igreja funcionava a AMO. Na época de campanha, segundo a assessoria, era comum ela fazer contato com a comunidade. Sobre a mudança de destinação das emendas, a deputada afirmou que foi uma opção.

Também por meio de sua assessoria, Benedito Domingos afirmou que "realocar emendas é prerrogativa do parlamentar. Vale lembrar que, na época, não havia suspeita sobre a entidade". A reportagem não conseguiu fazer contato com o ex-distrital Bispo Renato.