Título: Festival de baixaria na CPI
Autor: Valadares, João
Fonte: Correio Braziliense, 01/06/2012, Política, p. 3

O senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) não abriu a boca, o deputado federal Sílvio Costa (PTB-PE) gritou e o Brasil, envergonhado, assistiu a um festival de populismo e baixaria, ontem, na sessão da CPI do Cachoeira. O silêncio esperado e constrangedor do parlamentar goiano ocasionou o mais vergonhoso grito da comissão até o momento. A sessão, que durou apenas 20 minutos, terminou após Sílvio Costa, líder do partido na Câmara, bater boca com o senador Pedro Taques (PDT-MT). "Você é um merda", disse, aos berros, após Taques pedir questão de ordem para afirmar que o depoente, assim como todos os outros que ficaram em silêncio, deveria ser tratado com dignidade e respeito.

Logo no início da sessão, o presidente da CPI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), concedeu a palavra a Demóstenes. Em vão. O "doutor" seguiu exatamente o mesmo caminho do "professor", como o senador se referia a Cachoeira nos telefonemas interceptados pela Polícia Federal, e ficou calado. Demóstenes alegou que já havia prestado depoimento, na terça-feira, por mais de cinco horas no Conselho de Ética do Senado e que as informações poderiam ser compartilhadas. "O meu advogado está providenciando a degravação do depoimento que fiz ao Conselho de Ética, bem como as notas taquigráficas da sessão. Usarei da faculdade de ficar calado."

O relator, senador Odair Cunha (PT-MG), proferiu apenas uma frase. "O seu silêncio não é o silêncio dos inocentes." Logo em seguida, Costa pediu a palavra e, falando pausadamente, foi bastante duro. "O seu silêncio é a mais perfeita tradução de sua culpa. O seu silêncio escreve em letras garrafais: eu, Demóstenes Torres, sou sim membro da quadrilha de Cachoeira. Eu, Demóstenes Torres, sou sim o braço legislativo da quadrilha do senhor Cachoeira." Calado, Demóstenes escutava tudo atentamente. O constrangimento era visível.

Sílvio Costa continuou na ofensiva. "O senhor disse que foi traído. Foi o senhor que traiu os amigos, traiu Goiás, o Brasil. O senhor disse que era carola. Mas se o céu existir, e eu sei que ele existe, o senhor não vai para o céu. O céu não é lugar de mentirosos, de gente hipócrita." Nesse momento, o senador Pedro Taques afirmou que a Constituição teria que ser respeitada. "Não cabe a qualquer parlamentar expor o outro, mesmo se tratando de uma CPI."

Desagravo O deputado pernambucano elevou o tom, apontou o dedo para Demóstenes e gritou: "Ex-futuro senador. O senhor é um hipócrita, um demagogo. O senhor deve ser processado pelo Conar, por propaganda enganosa". Taques interrompeu mais uma vez e Sílvio disse que ele estava na contabilidade dos 32 votos que Demóstenes espalha ter, até o momento, na cruzada para se livrar da cassação. "Não me meça pela sua régua", rebateu Taques. Logo em seguida, Costa se levantou e partiu em direção ao parlamentar. Alguns senadores, assustados, apartaram. Vital do Rêgo encerrou a sessão.

Fora do microfone, Sílvio Costa proferiu palavrões. Na saída, Taques informou que lugar de desabafo é no boteco e disse que não pretendia processar Sílvio Costa por falta de decoro porque ele já não o tinha. À tarde, no plenário, senadores oposicionistas e governistas, dos mais diversos partidos, fizeram uma espécie de desagravo.

Sílvio Costa afirmou que não pediria desculpas porque Taques também teria sido deselegante. "Ele defende um bandido e eu não posso me indignar? É isso? Sou um cidadão no poder. Aqui não é lugar de fazer amigos. Não estou preocupado com isso. Ele precisa provar, agora, que vai votar pela cassação do senador."

Bate-boca Após o senador Demóstenes Torres afirmar que ficaria em silêncio, teve início uma forte discussão entre o deputado Sílvio Costa (PTB-PE) e o senador Pedro Taques (PDT-MT). Confira:

Sílvio Costa: O seu silêncio é a mais perfeita tradução de sua culpa. O seu silêncio escreve em letras garrafais: "Eu, Demóstenes Torres, sou sim membro da quadrilha do Cachoeira. Eu, Demóstenes Torres, sou sim o braço legislativo da quadrilha do senhor Cachoeira".

Pedro Taques: Não cabe a qualquer parlamentar expor o outro, mesmo se tratando de uma CPI.

Sílvio Costa: O senhor disse que foi traído. Foi o senhor que traiu os amigos, traiu Goiás, os amigos, o Brasil. O senhor disse que era carola. Mas se o céu existir, e eu sei que ele existe, o senhor não vai para o céu. O céu não é lugar de mentirosos, de gente hipócrita.

Pedro Taques: A Constituição precisa ser respeitada. Muita gente morreu no mundo pelo direito da ampla defesa.

Sílvio Costa: Ex-futuro senador! O senhor é um hipócrita, um demagogo. O senhor deve ser processado pelo Conar, por propaganda enganosa. Agora, ficou claro que o senador Pedro Taques é um dos 32 votos que Demóstenes afirma ter para tentar se livrar da cassação.

Pedro Taques: Não me meça pela sua régua.

Sílvio Costa: Você é um merda. Filho da puta. Você é um merda.

Vital do Rêgo: Vocês passaram dos limites.