Título: Reforço na fronteira do narcotráfico
Autor: Tranches, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 01/06/2012, Mundo, p. 16

Em Washington, Câmara dos Deputados aprova projeto de lei que prevê coordenação entre policiais norte-americanos e mexicanos. A proposta visa o controle operacional da divisa em cinco anos e ainda deve ser apreciada pelo Senado

Um dos poucos temas convergentes no bipartidarismo norte-americano, a segurança nas fronteiras recebeu um impulso esta semana, com a aprovação deum projeto de lei para reforçar a vigilância nas linhas divisórias. O tema ganha cada vez mais popularidade entre os políticos e cresce, à medida que a guerra contra as drogas, no lado mexicano, parece não arrefecer. Com as duas nações imersas em campanhas presidenciais, os vizinhos do sul se mostramcada vezmenosconfiantes de que a troca no seu governo trará mudanças na política de combate à violência. Segundo pesquisas, os mexicanos apoiam cada vez mais a ideia de uma participação efetiva dos Estados Unidos na solução do grave problema.

Na quarta-feira, a Câmara dos Deputados dos Estados Unidos aprovou, por unanimidade, o projeto de lei batizado de Jaime Zapata para o reforço nas fronteiras.

A proposta foi elaborada por um representante de cada partido e passou com facilidade na Casa de maioria republicana, em votação oral, com 391 votos a favor e somente 2 contra. A expectativa é de que o resultado se repita no Senado, de maioria democrata.

O projeto, que recebe o nomedeumagente norte-americano assassinado no México em fevereiro de 2011, oficializa a criação de equipes conjuntas na fronteira com"agentes estrangeiros, na medida em que for apropriado".

Na luta contra o crime organizado ao sul dos EUA, policiais do México já colaboram com autoridades norte-americanas.

No entanto, essa seria a primeira lei a reger sobre a cooperação, que prevê investimentos na ordem de US$ 10 milhões anuais.

Oesboço pede que oDepartamento de Segurança Interna entregue, em até 180 dias, um"plano integral para obter o controle operacional das fronteiras internacionais dos EUA em cinco anos". Durante os debates que antecederam a votação, os legisladores apresentaram relatórios segundoosquaisaPatrulhaFronteiriça dos EUA controla apenas 44% da divisa com o México e 2% da com o Canadá, apesar de contar com 20 mil agentes, um número recorde.

Em17 de maio, a Casa Branca lançou a Estratégia Nacional de Patrulha de Fronteira 2012-2016, divulgada a cada quatro anos. Ao apresentar o plano, o chefe do gabinete de Patrulha de Fronteira dentro da Alfândega e Proteção de Fronteiras (CBP, por sua sigla em inglês),Michael Fisher, alegou que, no período anterior, sua agência teria conseguido retardar a imigração ilegalemcinco vezes, assim como o tráfico de drogas e de armas. A atual estratégia, segundo ele, marca uma nova fase, com o incremento das patrulhas va Mérida, destinada à luta contra as organizações de tráfico de drogas no México, na América Central e no Caribe. Implementado no governo Obama, o programa forneceu cerca de US$ 1,8 bilhão em ajuda para a região.

Destes, US$ 1,5 bilhão se destinaramao México.

Se as autoridades norte-americanas comemoram, o sentimento do outro lado da fronteira ébemdiferente.Desde que o presidente mexicano, Felipe Calderón, lançou sua ofensiva militar contra o narcotráfico, seis anos atrás, o número de mortos já se aproxima de 50 mil.Grande parte da população, especialmente ao norte, convive comepisódios de violência e com execuções resultantes das brigas entre os principais cartéis no país. A falta de propostas claras dos três principais candidatos presidenciais, que se enfrentarão em 1º de julho, aumenta a sensação de insegurança.

Uma pesquisa realizada em parceria entre os jornais norteamericanos The DallasMorning News e El Día e o mexicano El Universal mostra que mais da metade dos mexicanos (52%) quer um maior papel dos EUA na guerra contra as drogas, e 28% defendem uma intervenção militar norte-americana no país. Na opinião do analista político Tom Barry, responsável pelo projeto sobre segurança nas fronteiras latino-americanas do Center for International Policy (Washington) e autor de mais de 20 livros sobre o tema, a pesquisa evidencia o desespero e uma mudança de opinião por parte dos mexicanos. "Alguns observadores também defendem uma intervenção militar.

Mas a maioria dos analistas, inclusive eu, acredita que a solução para o problema da violência na México passa, na verdade, pelo fortalecimento das instituições daquele país e não pela ação militar", afirmou, em entrevista ao Correio.

tripuladas, de investimentos em tecnologia e de inteligência para a aplicação da lei.

Continuísmo As 32 páginas do documento deixam claro que os próximos anos serão de continuidade às estratégias de combate nacional às drogas e ao crime organizado transnacional do presidente Barack Obama, independentemente do resultado das eleições de novembro. Mostram também que a cada governo o tema continua como um dos mais importantes na agenda do país. Em 2008, a administração GeorgeW.

Bush lançou a bilionária Iniciati- Agentes da Patrulha Fronteiriça vigiam ponte que ligas cidades de El Paso (Texas) a Ciudad Juárez (México): região sensível à ação dos cartéis Wikipedia/Reprodução Jesus Alcazar/AFP - 10/5/11 Scott Olson/Getty Images/AFP