Título: J&F desiste de comprar a Delta
Autor: Leite, Larissa
Fonte: Correio Braziliense, 02/06/2012, Política, p. 5

O prolongamento da crise de confiança sobre a Delta Construções foi a justificativa oferecida pela J&F Holding, que estava há menos de um mês no controle da empreiteira, para desistir de consumar a compra da empresa. Questionada por irregularidades em contratos com o governo federal e citada no inquérito que investiga o contraventor Carlinhos Cachoeira, a construtora estava sob a administração da holding desde o início de maio. No entanto, a decisão de adquirir a Delta só seria tomada após uma auditoria nos ativos e contratos. A aprovação da quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico, em âmbito nacional, foi determinante para o recuo.

Em nota oficial, divulgada ontem, a J&F Participações S.A., controladora do frigorífico JBS-Friboi, informou que “rescinde hoje o memorando de entendimentos que prevê a gestão do Fundo de Investimento em Participações Sofi, controlador da Delta Construções S.A., e a opção de compra do controle acionário do Grupo Delta”. Ainda segundo o documento, o prolongamento da crise sobre a empresa “tem deteriorado o cenário econômico-financeiro da construtora, gerando um fluxo negativo e alterando substancialmente as condições inicialmente verificadas”. Segundo a holding, ela tinha garantido em contrato o direito de rescindir o memorando sem aplicações de multas.

Quando anunciou a gestão da Delta, em 9 de maio, o acionista da J&F Joesley Batista afirmou: “Nosso objetivo é honrar os contratos que serão auditados e preservar os mais de 30 mil empregos da Delta”. O contrato preliminar dava direito à empresa de substituir a estrutura administrativa da Delta, incluindo presidente, diretores e membros do Conselho de Administração. Agora, uma das possibilidades é integrar a estrutura da Delta a uma nova empresa do grupo, que atua em diferentes ramos de negócios.

Mandado

A Delta Construções ingressou ontem com um mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar impedir a quebra do sigilo, autorizada no último dia 29, pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira. O documento pede a concessão de uma liminar para sustar imediatamente os efeitos da decisão da CPI até que o mérito do mandado de segurança seja analisado pela Corte. O pedido será apreciado pela ministra Rosa Maria Weber, que ainda não se manifestou sobre o assunto.

Segundo a Delta, a quebra dos sigilos não teve “fundamentação”. O mandado ressalta o fato de a CPI apurar as supostas atividades ilícitas de Cachoeira apenas em cinco estados. “Contrariando as próprias informações constantes da instauração, dos requerimentos e plano de trabalho da CPMI, que apontavam que o objeto da investigação era apenas e tão somente fatos relativos à Região Centro-Oeste, foi determinada a quebra de sigilo (…) em todo o território nacional”, critica. O mandado de segurança frisa que a empresa está presente em mais de 20 estados brasileiros e tem 51 anos de existência. Outro ponto criticado é o fato de os sigilos terem sido quebrados a partir de 1º de janeiro de 2003, sem “motivos e necessidade concreta”.

O senador Pedro Simon (PMDB-RS) defendeu ontem a criação de uma força-tarefa para investigar a Delta, com a participação da Polícia Federal, do Ministério Público, da Receita Federal, da Controladoria-Geral da União e da Interpol. “A desistência do negócio, depois de anunciada a quebra de sigilo, lança mais sombras de dúvida sobre a empresa.”