Título: Corte nos contratos de Goiás
Autor: Jeronimo, Josie
Fonte: Correio Braziliense, 02/06/2012, Política, p. 6

Convocado para prestar esclarecimentos na CPI do Cachoeira no dia 12 por seu suposto envolvimento com o bicheiro, o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), afia as tesouras do orçamento e corta faturamento da Delta Construções na folha do estado. Perillo encomendou à Superintendência Central de Controle Interno auditoria nos contratos da Delta. O trabalho resultou em corte de R$ 57,8 milhões em obras de seis contratos que não passaram pelo crivo do próprio governo de Goiás. Na lista, há uma suspensão de contrato feita há uma semana, revogações de licitações e até mesmo uma “rescisão amigável”, que tirou R$ 22,9 milhões da Delta. Outros nove contratos, que totalizam R$ 143,2 milhões, ainda sofrem auditoria mais detalhada e também podem ser suspensos.

No governo de Perillo, a Delta é a empresa que mais recebe recursos orçamentários na rubrica de custeio, R$ 48,5 milhões por ano, perdendo apenas para o Instituto de Assistência dos Servidores Públicos do Estado de Goiás, que absorve R$ 141,1 milhões ao ano para gerenciar serviços de saúde do funcionalismo estadual.

Em Goiás, a Delta Construções atuava em pelo menos três secretarias de governo, prestando serviço de locação de carros para a Polícia Militar, para suporte de obras rodoviárias, aluguel de veículos pesados, contratos de limpeza e manutenção e recuperação de trechos asfálticos. Um dos contratos cancelados é de uma obra emergencial que a empreiteira ganhou sem licitação, no valor de R$ 10 milhões, para recuperar trechos das rodovias GO-154 e GO-070, nas proximidades de Inhumas.

Indagada pelo Correio sobre o conteúdo do relatório de auditoria que não aprovou 15 de 17 contratos do governo de Goiás com a Delta, a assessoria de Perillo informou que um dos contratos foi rescindido a pedido da empreiteira; em outro acerto firmado não houve pagamento; duas licitações acabaram revogadas sem liberação de valores; duas obras foram paralisadas com pagamento parcial; uma está sob análise no Tribunal de Contas do Estado; e houve uma rescisão “de forma amigável”.

No âmbito das investigações da Polícia Federal e da CPI, o indício de corrupção que mais pesa sobre Perillo é a negociação de uma casa no condomínio de luxo Alphaville, na capital goiana, paga com cheques de empresas de fachada que receberam recursos da Delta.

A situação de Perillo se complicou com a entrevista do radialista Luiz Carlos Bordoni ao jornal O Estado de S.Paulo. Bordoni afirmou que seus serviços como coordenador de propaganda nas eleições de 2010 foram pagos pela Alberto e Pantoja, empresa fantasma ligada a Cachoeira. O radialista decidiu contar a verdade, pois o depósito de R$ 45 mil foi feito em nome de sua filha. A assessoria de Perillo encaminhou nota dizendo que o radialista será processado. “O governador promoverá todas as ações judiciais cabíveis.”

Oposição Os deputados que fazem oposição a Perillo na Assembleia Legislativa estão ansiosos pelo relatório do Tribunal de Contas do Estado (TCE) contendo a avaliação do primeiro ano de gestão do governador. Parlamentares que integram a CPI no âmbito estadual apostam na rejeição das contas ou graves ressalvas aos gastos de Perillo em 201. A sessão que apreciará a análise do relatório está marcada para 11 de junho.

A tesoura de Perillo

Dos 17 contratos da Delta com o governo de Goiás, apenas dois não levantaram suspeita em auditoria estadual. Veja quais já foram cancelados e os que estão em análise.

CANCELADOS OU SUSPENSOS

» Reabilitação no trecho rodoviário São Gabriel/ São João D’Aliança, a R$ 8,3 milhões. O governo recomendou a rescisão contratual.

» Cobertura asfáltica de sete trechos rodoviários, a R$ 6,9 milhões. O governo recomendou a revogação da licitação.

» Recuperação emergencial da GO-154 e da GO-070, no trecho Inhaumas, por R$ 10 milhões. A licitação foi revogada.

» Revitalização de trechos na GO-020, em Cristianópolis, a R$ 22,9 milhões. Apesar de R$ 9,2 milhões já terem sido pagos, a obra foi paralisada após processo de “rescisão amigável”.

» Reabilitação de pavimento asfáltico em diversos municípios por R$ 3,7 milhões. Contrato rescindido.

» Locação de veículos pesados para a Companhia de Saneamento de Goiás a R$ 6 milhões. O governo rescindiu o contrato em 25 de maio.

EM ANÁLISE

» Terraplanagem GO-326 Jaupaci/Montes Claros: R$ 48 milhões.

» Conservação da malha rodoviária e pistas de pouso: R$ 12 milhões.

» Locação de 60 veículos para a PM: R$ 2,3 milhões ao ano.

» Reconstrução da GO-341, na divisa com MS: R$ 14,6 milhões.

» Reconstrução de cinco trechos rodoviários: R$ 19,3 milhões.

» Reabilitação de pavimento asfáltico em municípios: R$ 4,4 milhões.

» Locação de 62 veículos para reconstrução rodoviária: R$ 2,2 milhões anuais.

» Locação de veículos para a Secretaria de Segurança: R$ 39,1 milhões.

» Prestação de serviço de limpeza: R$ 1,3 milhão por ano.

“Essa crise não é do DF”

» EDSON LUIZ » ANA POMPEU

O governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, confirmou ontem que irá à CPI do Cachoeira no próximo dia 13 e, na ocasião, vai esclarecer as suposições sobre o envolvimento do GDF com a construtora Delta. O depoimento de Agnelo foi marcado para o dia seguinte à sessão em que comparecerá o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB).

“Minha origem é o parlamento, onde tive mandato por 16 anos. Eu vou à CPI e será uma grande oportunidade de esclarecer qualquer coisa”, afirmou Agnelo, durante a cerimônia de posse de 200 motoristas que serão lotados na Secretaria de Saúde do DF, realizada na manhã de ontem, no Museu da República. “Essa crise não é do Distrito Federal nem minha. Vou deixar isso claro lá (na CPI)”, acrescentou Agnelo, que não quis falar sobre a não convocação pela comissão do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), que também estava entre os que deveriam ser chamados.

Na quinta-feira à noite, a defesa de Agnelo pediu à CPI acesso aos documentos sigilosos que foram encaminhados pelo Supremo Tribunal Federal (STF), além dos depoimentos já tomados pelos deputados e senadores. Segundo o advogado Luiz Carlos Alcoforado, o governador do DF vai demonstrar que a Delta não teve tratamento especial do governo local.

A empresa Delta é responsável pela coleta de lixo no Distrito Federal. Gravações da Polícia Federal flagraram Cláudio Monteiro, então chefe de gabinete do governador Agnelo, em conversa com pessoas ligadas a Carlinhos Cachoeira.