Título: Mais suspeitas sobre Brunelli
Autor: Tahan, Lilian; Paganini, Arthur
Fonte: Correio Braziliense, 01/06/2012, Cidades, p. 21

Além da Associação de Assistência Social Monte das Oliveiras, outras duas entidades ligadas ao ex-distrital são alvos de investigação do Tribunal de Contas e da Secretaria de Transparência. Elas receberam pelo menos R$ 1 milhão de verba pública

Na Operação Hofini, que acusa o ex-distrital Júnior Brunelli (sem partido) de cometer crimes de formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, uso de documento falso e peculato, a Polícia Civil puxou um fio que pode desnovelar um guarda-chuva de desvios em várias frentes. Os investigadores da Divisão de Combate ao Crime Organizado (Deco) sustentam que o ex-político desviou, no mínimo, R$ 1,7 milhão da Associação de Assistência Social Monte das Oliveiras (AMO), que movimentou em quatro anos R$ 3,6 milhões. Mas auditorias paralelas do Tribunal de Contas e da Secretaria de Transparência do Governo do DF levantam suspeição sobre outras duas entidades ligadas ao ex-parlamentar, o que pode elevar os supostos danos aos cofres públicos.

Apontada como meio por onde uma suposta quadrilha chefiada por Brunelli desviava recursos de emendas parlamentares, a AMO é apenas uma das associações que guarda vínculo com o ex-deputado. Outras duas organizações — a Associação Gideão de Assistência (AGA) e a Igreja Tabernáculo Evangélico de Jesus (Itej) — também têm relação com a história política dele. Com nomes esmerados, mas resultados pobres relacionados ao interesse público, essas duas entidades foram agraciadas com dinheiro de impostos e estão enroladas do ponto de vista dos resultados sociais.

A Itej é a razão social da Casa da Bênção — hoje Catedral da Bênção —, igreja fundada pelo pai do ex-distrital, Doriel de Oliveira. Duas ordens bancárias demonstram que, pelo menos, R$ 550 mil foram pagos a essa entidade. Um dos repasses, de R$ 200 mil, foi feito em 2004 e o outro, de R$ 350 mil, em 2009. Há ainda uma nota de empenho (quando o governo se compromete a pagar) com a quantia de R$ 247.812,02 de 2003, ano de estreia de Júnior Brunelli na Câmara Legislativa.

Parte dos recursos da Itej era captada na extinta Empresa Brasiliense de Turismo (Brasiliatur). Com o suposto objetivo de incrementar a movimentação turística na capital, a Brasilitur destinou R$ 350 mil em verbas públicas para a realização da Convenção Mundial da Itej, em 2008. O evento reuniu fiéis e pastores do país ligados à igreja, mas, de acordo com o TCDF, a despesa foi "anti-econômica". Segundo relatório do tribunal, "não houve qualquer comprovação de que o congresso tenha se revertido em prol do turismo no DF ou na ampliação da rede de prestação de serviços". Além disso, "o interesse coletivo na realização do evento não foi alcançado, vez que todas as ações decorrentes do repasse se configuraram em benefício individual e exclusivo da ITEJ".

Auditoria A AGA é outra entidade intrinsecamente ligada à família de Brunelli. O endereço da entidade é o mesmo da Catedral da Bênção, em Taguatinga Sul. Além disso, dois pastores da igreja do pai de Brunelli dirigiam a associação. Auditoria da Secretaria de Transparência, feita em 2011, apontou que R$ 240 mil empregados nessa organização teriam sido desviados de seu propósito original, que era o de promover o turismo cívico em Ceilândia. A apuração oficial, no entanto, demonstrou que o dinheiro foi empregado em uma festa com caráter religioso. Além dos R$ 240 mil, outros R$ 300 mil, referentes a dois pagamentos distintos, foram feitos à entidade. As liberações de dinheiro para a AGA ocorreram em 2008 e também foram feitas via Brasiliatur.

As polpudas transferências para entidades vinculadas a Brunelli sugerem que ele tinha prestígio político. Em 2003, nenhuma das associações citadas havia sido contemplada com dinheiro público. Mas, a partir do momento em que ele virou deputado, as verbas começaram a aparecer. Entre 2005 e 2009, a AMO, alvo da Operação Hofini, foi contemplada com R$ 3,6 milhões. A fonte de recursos para as três entidades só secou no fim de 2009, quando houve a Operação Caixa de Pandora e ele apareceu recebendo dinheiro de Durval Barbosa e puxando a oração da propina. Mas aí já tinham sido gastos milhões sobre os quais pairam suspeitas.

Prisão Ação deflagrada pela Polícia Civil do DF, na sexta-feira passada, apreendeu joias e relógios caros na casa de Brunelli, na Superquadra Brasília, às margens da EPTG. O ex-deputado se apresentou na 5ª DP, (área central) no último domingo e, agora, está preso no DPE.

Repasse R$ 550 mil Total de duas ordens bancárias pagas à Itej, em 2004 e em 2009.

Acusação R$ 1,7 milhão Montante que teria sido desviado da AMO, ligada à família do ex-distrital.

Turbinada R$ 3,6 milhões Total que a AMO recebeu em quatro anos de recursos públicos.