Título: Ofensiva para intimar o ex-dono da Delta
Autor: Mascarenhas, Gabriel; Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Correio Braziliense, 04/06/2012, Política, p. 3

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira se reunirá amanhã e voltará as atenções para o empresário Fernando Cavendish, ex-proprietário da Delta Construções, que teria como sócio oculto o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. O colegiado pretende votar a convocação e a quebra dos sigilos de Cavendish, conforme acertado entre o presidente da comissão, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), e integrantes da CPI, na semana passada.

O movimento na direção de Cavendish interessa principalmente a oposição, que enxerga no depoimento do empresário a possibilidade de empurrar o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), para o centro das apurações. Cabral já afirmou publicamente ser amigo de longa data do ex-dono da Delta, que mantém contratos milionários com o governo fluminense.

Além de trazer Cabral para o foco da CPI do Cachoeira, a quebra de sigilos da Delta aparece como uma chance de a oposição escapar da blindagem da maioria governista na comissão.

"Nós vamos destacar nossos melhores assessores para analisar os sigilos da Delta", afirma o deputado Ônyx Lorenzoni (DEM-RS).

Outro assunto que deve ser destacado na reunião de amanhã é referente à atuação de Luiz Antônio Pagot, ex-superintendente do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), órgão do governo federal com quem a Delta assinou contratos.

"A presença do Cavendish na CPI está nas mãos do presidente, que já se comprometeu em colocar o requerimento de convocação para ser votado. E vamos trabalhar para incluir o Pagot entre os convidados a comparecer, como testemunha.

Ele está entre a Delta e Cachoeira e diz ter sido demitido por pressão do bicheiro", argumentou o líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias (PR).

Outras empresas

A oposição também promete abrir ofensiva contra empresas ligadas à Delta. O senador Randolfe Rodrigues (PSol-AP) defende que, antes de Cavendish ser ouvido, sejam quebrados os sigilos de companhias que receberam dinheiro da construtora. "Essas informações serão elementos preciosos, que poderão nos dar condições de fazermos uma oitiva mais contundente com o dono da Delta. Se a base aliada tentar blindar o Cavendish ou quem quer que seja, usaremos a mesma estratégia adotada até aqui: colocar as informações para a opinião pública, que exercerá pressão a favor do depoimentos do suspeito", adiantou Randolfe.

A sessão desta terça-feira será a única da CPI marcada para esta semana, devido ao feriado de Corpus Christi. Os trabalhos serão retomados a partir do próximo dia 12.

Trabalhando no Congresso

Na semana passada, ocorreram três reuniões da CPI. Confira o resumo do que aconteceu em cada sessão.

Quebra dos sigilos

Na terça-feira, não houve depoimentos, apenas reunião administrativa (ffotto). A CPI aprovou requerimento determinando a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico da Delta Construções. A medida ampliou as investigações sobre a companhia. Até então, a CPI só havia pedido a quebra dos sigilos da seccional do Centro-Oeste da companhia.

»O silêncio dos suspeitos

Na quarta, estavam previstos os depoimentos de cinco aliados de Cachoeira: Cláudio Abreu (ffotto), ex-executivo da Delta no Centro-Oeste; Lenine Araújo de Souza, acusado de ser o contador da organização; Gleyb Ferreira da Cruz, suspeito de efetuar pagamentos da quadrilha; José Olímpio de Queiroga Neto, um dos homens mais próximos do bicheiro; e Rodrigo Moral Dall Agnol, contador da Delta. Quatro se apoiaram no direito constitucional de não responder às perguntas e permaneceram poucos minutos na sala. Somente Lenine pediu a palavra e disse que estava sendo injustiçado. Ainda foram aprovados os requerimentos de convocação de dois governadores citados na CPI.

» Baixaria sob os holofotes

Na quinta-feira, a reunião mais esperada desde a abertura dos trabalhos da CPI terminou em baixaria.

Convocado a depor, o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) compareceu à sessão, mas ficou em silêncio. O deputado Silvio Costa (ffotto/DD), do PTB-PE perdeu a compostura ao ser interrompido pelo senador Pedro Taques (ffotto/E), do PDT-MT, que pediu a palavra para lembrar a Costa que ele não poderia ofender ou atacar o interrogado. Fora de si, o deputado petebista aproveitou os holofotes para repreender e xingar Taques, aos berros. O espetáculo protagonizado por Costa obrigou o presidente da CPI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), a encerrar a sessão antes do previsto.