O globo, n. 31095, 25/09/2018. País, p. 4
Haddad sobe; Bolsonaro fica em 28%
Miguel Caballero
Marco Grillo
25/09/2018
Ciro e Alckmin empatam em terceiro lugar; Marina mantém trajetória de queda; Marina já perdeu metade do apoio e empata com Amoêdo, Alvaro e Meirelles
O candidato do PT à Presidência, Fernando Haddad, segue crescendo, em média, um ponto percentual por dia desde que foi oficializado na disputa em substituição ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, há duas semanas. De acordo com a pesquisa Ibope divulgada ontem, o ex-prefeito de São Paulo está na segunda colocação, com 22% das intenções de voto — tinha 8% em 11 de setembro, quando ocorreu a troca, o que significa um aumento de 14 pontos no período. Em comparação com o levantamento divulgado na semana passada, Haddad subiu três pontos, enquanto o líder da disputa, Jair Bolsonaro (PSL), se manteve com 28%.
Em terceiro lugar, há um empate técnico entre Ciro Gomes (PDT), que manteve os 11% do levantamento anterior, e Geraldo Alckmin (PSDB), que oscilou positivamente um ponto e agora tem 8%. A margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.
Desde o início da série do Ibope, em 20 de agosto, apenas Bolsonaro e Haddad cresceram. O candidato do PSL permaneceu na liderança o tempo todo e cresceu oito pontos, passando de 20% para 28%. Já o petista deu um salto maior: tinha 4% no início da campanha e agora tem 22%, uma elevação de 18 pontos percentuais.
Haddad se beneficiou da popularidade de Lula e da rápida transferência dos votos que seriam destinados ao ex-presidente. A estratégia do PT, que retardou ao máximo a retirada de Lula e a consequente oficialização de Haddad, tem sido até agora efetiva do ponto de vista eleitoral. Já Bolsonaro, a despeito do pouco tempo que tem disponível na televisão, conseguiu se manter como destinatário dos votos dos eleitores antipetistas, que em outras eleições apoiaram majoritariamente candidatos do PSDB.
Empate técnico
Na sequência, Ciro e Alckmin estão há um mês no mesmo patamar. O pedetista tinha 9% e chegou a 11%, o que representa uma oscilação positiva dentro da margem de erro. Já o tucano iniciou a campanha com 7% e hoje tem 8%. A aposta no horário eleitoral e nas inserções ao longo da programação no rádio e na televisão não impulsionaram o ex-governador de São Paulo, contrariando a aposta feita pela campanha tucana.
Logo abaixo, a candidata da Rede, Marina Silva, segue em trajetória de queda. Segundo o Ibope, ela tem hoje menos da metade do apoio que tinha quando a campanha começou: passou de 12% para 5%. Há um mês, Marina era a candidata numericamente mais próxima de Bolsonaro — estava a oito pontos do capitão da reserva. Hoje, ela está distante 23 pontos do candidato do PSL e em empate técnico com três candidatos do pelotão que sempre esteve na parte mais abaixo das pesquisas: João Amoêdo (Novo), que oscilou um ponto para cima e chegou a 3%; Alvaro Dias (Podemos) e Henrique Meirelles (MDB), que permaneceram com 2%.
Com a queda acentuada, Marina dispensou dois cinegrafistas que faziam parte de sua equipe. Segundo a campanha, o trabalho era voltado para as redes sociais, e o resultado foi abaixo do esperado.
O candidato do PSOL, Guilherme Boulos , não havia pontuado no levantamento anterior e agora tem 1%. Cabo Daciolo (Patriota), Vera Lúcia (PSTU), João Goulart Filho (PPL) e Eymael (DC) não pontuaram nesta pesquisa. Brancos e nulos somaram 12%, enquanto 6% dos eleitores não souberam responder ou não opinaram. A soma de brancos e nulos com os indecisos era de 38% na primeira pesquisa da série e agora é de 18%, uma queda de 20 pontos em um mês.
O Ibope ouviu 2.506 eleitores em 178 municípios, entre sábado e domingo. A pesquisa foi contratada pela TV Globo e pelo jornal “O Estado de S. Paulo”.
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Pancadaria na TV volta a funcionar
Paulo Celso Pereira
25/09/2018
Se é impressionante a incapacidade do tucano Geraldo Alckmin de crescer nas pesquisas de intenção de voto, mesmo tendo quase metade do tempo de TV, o Ibope divulgado ontem sinaliza ao menos que sua contracampanha sobre Jair Bolsonaro (PSL) funciona. Na última semana, a principal novidade da corrida eleitoral foi a retomada das propagandas ácidas do tucano em relação ao capitão reformado, após cerca de dez dias de trégua em razão do atentado de Juiz de Fora.
O tucano usou engenhosamente a proposta de Paulo Guedes de recriar um imposto semelhante à CPMF e alterar o imposto de renda para ter apenas uma alíquota e espalhou na propaganda que Guedes “quer menos imposto para os ricos e mais imposto para os pobres”, completando com o bordão: “Se Bolsonaro for eleito, prepare seu bolso”.
Embora Bolsonaro tenha conseguido manter os 28% de intenção de votos da pesquisa anterior, feita dia 18, sua rejeição subiu quatro pontos, chegando a 46%. Simultaneamente, seus índices nas sondagens de segundo turno caíram em todos os cenários. A pior notícia para o deputado é certamente a perspectiva de derrota para Fernando Haddad (PT). Há duas semanas, Bolsonaro vencia o petista por 40% a 36%. Agora, perde por 43% a 37%.
Haddad, por sua vez, é quem mais tem a comemorar a pesquisa. Embora tenha reduzido seu ritmo de crescimento, segue avançando e já tem 22% de intenções de voto, o dobro de Ciro Gomes (PDT), com 11%. O movimento no primeiro turno associado à perspectiva de vitória sobre Bolsonaro no segundo turno são ótimas notícias para o petista e péssimas para o pedetista.
Ciro Gomes apostava todas suas fichas no discurso de que só ele seria capaz de derrotar Bolsonaro e evitar a ascensão da direita radical. Agora, Haddad e Alckmin também aparecem nas pesquisas à frente do capitão reformado no segundo turno, fora da margem de erro. Apenas Marina Silva está empatada com Bolsonaro numa eventual etapa final, ambos com 39% —semana passada ele derrotava a ex-senadora por 41% a 36%.
A pesquisa é muito ruim também para Marina, que manteve sua trajetória de queda e chegou a 5%, empatando tecnicamente com o pelotão de nanicos: João Amoêdo, com 3%; Álvaro Dias e Henrique Meirelles, com 2%; e Guilherme Boulos, com 1%.
A 13 dias das eleições, é difícil acreditar que um terceiro nome consiga furar a polarização. Mas a esperança de Ciro e Alckmin residirá até o fim no discurso de que eles são, respectivamente, os melhores nomes para impedir a chegada de Bolsonaro ou do PT ao Planalto.