O Estado de São Paulo, n. 45626, 18/09/2018. Política, p. A8

 

‘Urnas são totalmente confiáveis’, diz Toffoli

Rafael Moraes Moura e Amanda Pupo
18/09/2018

 

 

Eleições 2018 Justiça /  Presidente do Supremo rebate Bolsonaro, que levantou suspeitas sobre equipamento

DIDA SAMPAIO/ESTADÃO

Café da manhã. O presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, concede entrevista a jornalistas na sede da Corte

O presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Dias Toffoli, rebateu ontem as declarações do candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro, que apontou nas redes sociais a “possibilidade de fraude” nas eleições. Para Toffoli, que presidiu o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) durante a campanha de 2014, as urnas eletrônicas são “totalmente confiáveis”.

“Os sistemas são abertos a auditagem para todos os partidos políticos seis meses antes da eleição, também para o Ministério Público e para a OAB”, afirmou Toffoli durante café da manhã no edifício-sede do Supremo com repórteres que cobrem o Poder Judiciário.

“Me orgulho disso, porque quando estive à frente do TSE estabeleci uma série de intercâmbios. Isso é importante para acabar com determinadas lendas que possam surgir. Tem gente que acredita em saci-pererê”, disse Toffoli, citando personagem do folclore nacional.

Ontem, o general Hamilton Mourão (PRTB), candidato a vice na chapa de Bolsonaro, amenizou a fala do presidenciável. Mourão afirmou que é preciso “relevar” as recentes declarações do capitão reformado. Segundo Mourão, os comentários de Bolsonaro foram feitos por um homem que “praticamente morreu”. “Vocês têm que relevar um homem que quase morreu há uma semana, fez duas cirurgias”, disse o general a jornalistas, após participar de um evento em São Paulo.

Mourão afirmou ainda que é preciso respeitar o resultado das urnas. “Minha posição é essa, vamos jogar e vencer no primeiro turno. Quem vencer, venceu. Só tenho pena do Brasil se o PT vencer”, declarou.

Em transmissão ao vivo do hospital, no domingo, Bolsonaro disse que as eleições de outubro podem resultar em uma “fraude” por causa da ausência do voto impresso. “A grande preocupação realmente não é perder no voto, é perder na fraude. Então, essa possibilidade de fraude no segundo turno, talvez até no primeiro, é concreta”, declarou Bolsonaro, que lidera as pesquisas de intenção de voto para o primeiro turno e vê risco de derrota em cenários de segundo turno.

2014. Ao falar da eleição presidencial de 2014, Toffoli lembrou que o então candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, pediu uma auditoria nas urnas após ser derrotado por uma pequena margem de votos para Dilma Rousseff (PT). “Geralmente os que perdem a eleição reclamam. O então senador Aécio Neves perdeu a eleição porque não teve votos em Minas Gerais. Por que as urnas estariam dando votos para ele em São Paulo, e não em Minas Gerais, se o sistema era o mesmo? Não tem absolutamente sentido”, disse o presidente do STF.

Toffoli ainda destacou que Bolsonaro “sempre foi eleito através da urna eletrônica”. O candidato cumpre atualmente seu sétimo mandato como deputado federal. As urnas eletrônicas foram implementadas no País nas eleições municipais em 1996 – Bolsonaro assumiu seu primeiro mandato de deputado federal em 1991.

A fala de Bolsonaro também foi contestada por ministros do TSE ouvidos reservadamente. Um integrante da Corte afirmou que, “evidentemente”, a urna é segura, e disse que Bolsonaro já se elegeu várias vezes com base em votos computados no sistema.

‘Infeliz’. Um segundo ministro da Corte Eleitoral acredita que a lisura do pleito já é reconhecida e considerou a declaração de Bolsonaro “infeliz, mas nada além disso”. Para um terceiro integrante, não há razões objetivas para as alegações do candidato. Procurada pela reportagem, a assessoria do TSE não havia se manifestado oficialmente até conclusão desta edição. Em junho, por 8 a 2, o Supremo derrubou a adoção do voto impresso nas próximas eleições.

Auditagem

“Os sistemas (das urnas eletrônicas) são abertos a auditagem para todos os partidos políticos seis meses antes da eleição, também para o Ministério Público e para a OAB.”

Dias Toffoli

PRESIDENTE DO STF

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Para rebater críticas, campanha usa Bolsonaro com filha

18/09/2018

 

 

 

 

 

 

Em vídeo nas redes, presidenciável aparece com filha de 8 anos e assina mensagens contra a violência sexual

Em reação ao movimento na internet “Mulheres Unidas contra Bolsonaro”, a campanha do candidato do PSL ao Palácio do Planalto começou ontem a divulgar imagens de família e mensagens de repúdio à violência sexual.

O presidenciável Jair Bolsonaro apareceu em um vídeo ao lado da filha, Laura, de 8 anos, e relatou, em tom de emoção, que desfez uma vasectomia para que a mulher, Michelle de Paula, pudesse engravidar. Casada há cinco anos com Bolsonaro, Michelle – que acompanha o marido no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, onde ele se recupera do atentado que sofreu em Juiz de Fora (MG), no dia 6 deste mês, – evita a exposição e resiste a apelos de aliados para aparecer nas peças de propaganda política.

A equipe de Bolsonaro está focada em mobilizar os simpatizantes para neutralizar nas redes sociais manifestações contrárias ao candidato previstas para ocorrer nas capitais no dia 29. No tarde de ontem, a conta dele no Twitter saiu em defesa de sua atuação na Câmara dos Deputados, que não é marcada pela aprovação de um grande número de projetos. Foi a deixa para entrar na questão da violência sexual, um tema da agenda dos grupos em defesas das mulheres.

“Se aprovar leis fosse o mais importante, o Brasil seria um paraíso”, destacou a mensagem na conta do candidato na rede social. “Fazemos a nossa parte propondo penas mais duras para estupradores, redução da maioridade penal, etc.”

Aliados do presidenciável relataram à reportagem que Bolsonaro está atento à ofensiva para buscar o voto feminino, mas pediu prudência.

‘Sentimento’. Ao divulgar vídeo do pai com Laura, o deputado estadual e candidato ao Senado pelo Rio Flávio Bolsonaro (PSL) escreveu em sua conta no Twitter que “ele sempre resistiu em externar isso, mas é o mais puro e verdadeiro sentimento” em relação às mulheres. Já o filho Carlos, vereador licenciado do Rio, optou por atacar os adversários petistas. Ele usou a hashtag #ForçaManu para dizer que a candidata Manuela d’Ávila, do PCdoB, vice do candidato do PT à Presidência, Fernando Haddad, é ignorada nas peças de propaganda da chapa petista.

As mais recentes pesquisas apresentadas por Ibope e Datafolha mostram que Bolsonaro enfrenta maior rejeição entre as mulheres, com índices que chegam a 50% e 49%, respectivamente. Imagens do embate de Bolsonaro com a deputada Maria do Rosário (PT-RS) na Câmara, em que ele chegou a dizer que não a estupraria porque ela não merecia, foram usadas pela propaganda política do candidato à Presidência Geraldo Alckmin (PSDB). Por causa do episódio, Bolsonaro virou réu no Supremo Tribunal Federal por injúria e incitação ao crime de estupro.

O atentado contra Bolsonaro em Juiz de Fora conteve o bombardeio tucano durante o horário eleitoral e atenuou a preocupação do PSL com a marca de “machista”.

Nova preocupação. O aumento de seguidores do grupo de Facebook “Mulheres Unidas contra Bolsonaro”, que chegou a 2 milhões de participantes e pedidos de entrada, entretanto, voltou a preocupar a campanha de Bolsonaro. Na madrugada de domingo, o grupo foi hackeado e, daí em diante, centenas de outros foram criados contra o candidato. As hashtags #Elenão e #Elenunca, usadas nas redes sociais em referência negativa ao presidenciável, também têm causado preocupação na equipe do candidato.

Desde o início do ano, aliados de Bolsonaro tentam convencer a mulher do candidato a participar da campanha. Michelle de Paula sempre resistiu à ideia e procurou, ao longo dos últimos meses, evitar encontros políticos na casa em que mora com Bolsonaro, num condomínio na Barra da Tijuca, no Rio. “Se dependesse de mim, ele nem seria candidato”, disse, em tom de brincadeira, numa conversa recente com aliados.