O Estado de São Paulo, n. 45629, 21/09/2018. Metrópoles, p. A14

 

Suicídio aumenta 16,8% em dez anos; são 31 casos/dia

Lígia Formenti

21/09/2018

 

 

Dados do Ministério da Saúde mostram agravamento do problema, que afeta mais homens. Centros psicossociais são formas de prevenção

O Brasil registrou um aumento de 16,8% na taxa de mortalidade por suicídio, entre 2007 e 2016. Dados divulgados ontem pelo Ministério da Saúde mostram que, no ano mais recente da série, ocorreram 5,8 óbitos a cada 100 mil habitantes. Em 2007, a proporção era de 4,9. O crescimento está relacionado sobretudo ao aumento de casos entre homens. No período analisado, essa alta foi de 28%.

Ao todo, foram registrados 11.433 casos de pessoas que tiraram a própria vida no País em 2016. Isso equivale a 31 óbitos por dia. A estimativa, no entanto, é de que os números sejam ainda maiores. “Consideramos que cerca de 20% das mortes não têm a causa registrada”, afirma a diretora de Vigilância de Doenças e Agravos Não Transmissíveis, Fátima Marinho.

O trabalho conduzido por Fátima mostra que a taxa de mortalidade é expressivamente maior entre homens: 9,2 casos por mil habitantes. No grupo feminino, a taxa é de 2,4. Embora as taxas de morte sejam superiores entre homens, indicadores de tentativa de suicídio são maiores entre as mulheres.

Para Fátima, a diferença pode ser um indicativo de que as mulheres muitas vezes buscam com o ato chamar a atenção para o sofrimento, e não querem necessariamente morrer. “E isso geralmente por questões familiares. Muitas são chefes de família e sabem o impacto que a morte traria para os filhos.”

Fátima afirma que a meta agora é aprofundar os estudos sobre os fatores de risco para o suicídio. Avaliações preliminares já dão pistas importantes. Uma delas é o desemprego. Na análise dos casos de tentativas, cerca de 40% dos casos não trazem a informação sobre a situação profissional da vítima. Nos casos em que o registro é feito, 52% indicavam que a pessoa estava desempregada. “Ele desponta como fator associado. Também vemos que as mulheres vítimas de violência têm risco muito maior”, completa.

Para a diretora, isso explicaria, por exemplo, o fato de grande número de meninas tentarem suicídio. “Temos casos de tentativas em faixas muito novas, de meninas com 12 anos”, completa.

Fátima afirma que o suicídio é um problema de saúde pública, no Brasil e no mundo. “Isso traz a necessidade de discutirmos o tema, os vários determinantes que levam ao sofrimento na população.” Ela observa ainda que os dados devem ser analisados de forma a traçar estratégias de prevenção. “Precisamos ver as ações que podem ser adotadas para prevenir novos casos”, diz.

Estudos mostram, por exemplo, que a existência de Centros de Atenção Psicossocial (Caps) são considerados como fator de proteção. Em locais onde o centro está em funcionamento, o risco de suicídio é 14% menor. “Seria uma forma de prevenção muito efetiva”, observa Fátima.

 

COMO AJUDAR

1. Converse. Ouça a pessoa com mente aberta e sem julgamento. Também se pode indicar a linha de telefone de apoio emocional (188).

2. Acompanhe. Fique em contato para acompanhar como a pessoa está se sentindo e o que está fazendo.

3. Busque ajuda. Incentive a pessoa a procurar ajuda profissional e se ofereça para acompanhá-la a um atendimento em Unidade Básica de Saúde, Caps ou serviço de emergência.

4. Proteja. Se há perigo imediato, não a deixe sozinha e se certifique de que a pessoa não tenha acesso a meios para provocar a própria morte.