O Estado de São Paulo, n. 45628, 20/09/2018. Política, p. A4

 

Após desgaste, Bolsonaro enquadra vice e guedes

Tânia Monteiro e Leonencio Nossa 

20/09/2018  

 

 

Eleições 2018 Partido / Campanha. Candidato do PSL determina que general Mourão, seu companheiro de chapa, e Paulo Guedes, conselheiro na área econômica, reduzam suas atividades eleitorais

TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO

Vice. Mourão (ao centro) durante evento em instituição de ensino em Bauru (SP), acompanhado de Levy Fidelix (à esq.)

 

O candidato do PSL ao Planalto, Jair Bolsonaro, determinou que o vice na chapa, general Hamilton Mourão (PRTB), e o conselheiro na área econômica, Paulo Guedes, reduzam suas atividades eleitorais. A campanha quer estancar o desgaste provocado por declarações polêmicas dos dois aliados. Ontem, o perfil de Bolsonaro no Twitter teve de reiterar o compromisso com a redução da carga tributária após notícia de que Guedes estuda como proposta para eventual governo a criação de um imposto nos moldes da antiga CPMF, o que põe em xeque o discurso da campanha.

Declarações e a movimentação eleitoral do candidato a vice também constrangeram Bolsonaro e a cúpula da campanha nos últimos dias. Do quarto do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, onde se recupera do atentado a faca que sofreu, Bolsonaro acompanhou pelo noticiário Mourão defender uma Constituição elaborada por não eleitos e a ideia de que filhos criados por mães e avós, sem a presença do pai, correm mais risco de entrar para o tráfico.

Ao visitar Bolsonaro no hospital, anteontem, o general da reserva ouviu uma determinação. O presidenciável pediu que o vice suspendesse a agenda de viagens. O candidato ao Planalto avaliou que a campanha entrou num momento decisivo e que não podia correr mais riscos, segundo relataram à reportagem integrantes da equipe.

O general da reserva encurtou uma viagem ao interior de São Paulo, que iria até amanhã, e cancelou um evento, no domingo, em Porto Alegre. Ele ficará em sua casa no Rio para uma “reavaliação de discurso”, informou um assessor. Mourão pretende, ainda segundo a assessoria, descansar depois de 15 dias de viagens e eventos.

Somente no fim da manhã de ontem o vice deu uma palestra na Faculdade de Direito de Bauru (SP), concedeu entrevista em uma estação local de TV e almoçou com um grupo de cerca de 40 empresários da região, líderes políticos e assessores.

Na campanha do PSL, a crítica recorrente é que, após a internação de Bolsonaro, Mourão foi para a “linha de frente” sem experiência política. O general da reserva, segundo um interlocutor da equipe, assumiu uma agenda de cabeça de chapa sendo candidato a vice. A avaliação interna é de que Mourão pôs em risco o favoritismo de Bolsonaro.

‘Lema’. Já a movimentação de Guedes obrigou a uma reação de Bolsonaro. “Nossa equipe econômica trabalha para redução de carga tributária, desburocratização e desregulamentações. Chega de impostos é o nosso lema! Somos e faremos diferente”, escreveu ele no Twitter.

As declarações de Bolsonaro foram feitas depois de o jornal Folha de S.Paulo afirmar que o economista citou a uma plateia restrita pontos do que seria sua política tributária, com a criação de um imposto nos moldes da CPMF e a unificação da alíquota do Imposto de Renda.

Guedes disse ontem ao site BR18 que estuda duas propostas que passam pela unificação de tributos nos âmbitos federal e da Previdência que incidiriam sobre todas as transações financeiras, de forma semelhante à CPMF. “O sistema atual é muito complexo, destrói milhões de empregos e impede a criação de postos de trabalho”, afirmou o economista.

À noite, Bolsonaro voltou ao tema na rede social. “Ignorem essas notícias mal-intencionadas dizendo que pretendermos recriar a CPMF. Não procede. Querem criar pânico. Ninguém aguenta mais impostos, temos consciência disso”, escreveu.

A proposta deu munição para os adversários do candidato.

Na propaganda de TV que irá ao ar a partir de hoje, Alckmin vai explorar o tema e o que chama de “contradições” do rival.

Conselheiro de Bolsonaro, o presidente da União Democrática Ruralista (UDR), Luiz Antonio Nabhan Garcia, disse ontem que participou de reunião fechada da campanha anteontem na qual não se falou em CPMF. “Estão criando coisa.”

Guedes já foi anunciado por Bolsonaro como ministro da Fazenda em eventual governo. Segundo um integrante da campanha, o economista surpreendeu por não combinar com o presidenciável uma manifestação de impacto imediato no mercado.

Bolsonaro já declarou que Guedes é seu “Posto Ipiranga”, mas que nunca deu a ele “carta branca”. O candidato disse também que falta ao economista traquejo político. “Aprendo com ele e ele aprende comigo”, afirmou ao Estado em maio.

Questionado ontem, Mourão disse que “criar um imposto seria dar um tiro no pé”, mas que isso deve ser decidido por Guedes e Bolsonaro. O general da reserva negou crise na campanha. “Isso é uma tentativa de criar uma divisão que não existe. Estamos coesos.” À noite, em São José do Rio Preto (SP), Mourão, cercado de seguranças, afirmou que a polêmica da CPMF “não afeta a campanha".

 

Reação

“Nossa equipe econômica trabalha para redução de carga tributária, desburocratização e desregulamentações. Chega de impostos é o nosso lema!”

Jair Bolsonaro​, CANDIDATO À PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA PELO PSL, EM SUA CONTA NO TWITTER