O globo, n.31087 , 17/09/2018. Rio, p.11

Depois de processo, oposição se articula contra Crivella

Luisa Valle

 

 

Adversários na Câmara vão se reunir hoje para decidir sobre novo pedido de impeachment contra prefeito, que virou réu por oferecer benefícios a pastores

Um grupo de vereadores de oposição vai apresentar esta semana um novo pedido de impeachment contra o prefeito Marcelo Crivella, que virou réu num processo por improbidade administrativa, após a Justiça aceitar denúncia do Ministério Público do estado. No caso que ficou conhecido como “fala com a Márcia” — revelado por reportagem do GLOBO —, ele é acusado de oferecer benefícios a pastores evangélicos.

Segundo o vereador Paulo Pinheiro (PSOL), que está à frente do movimento, pelo menos 15 políticos estariam dispostos a votar a favor do impeachment. Para ele, facilita a discussão do afastamento o fato de o prefeito ter virado réu no processo que apura reunião de Crivella com líderes de igrejas evangélicas no Palácio da Cidade. No encontro, ele prometeu ajuda para fiéis marcarem cirurgias de catarata e varizes em hospitais públicos e para problemas com o IPTU.

—Não podemos esperar a Justiça. Teremos uma reunião esta segunda-feira (hoje) para decidir quem vai assinar o documento, que é muito parecido com aquele que apresentamos quando fizemos o pedido anterior. Mas temos que ter, juridicamente, as informações necessárias para apresentar já na terça-feira, com o plenário da Casa funcionando —explicou o vereador, acrescentando que não pretende pedir a abertura de uma nova CPI:

—CPI não adianta, porque eles (a base do governo) não deixam instalar. Já passou mais de um mês que demos entrada e ainda não instalaram a CPI do Sisreg, sendo que a própria base do governo fez uma manobra para apresentar o pedido de abertura antes do nosso.

Em sessão no dia 12 de julho, a Câmara rejeitou pedido de abertura de processo de impeachment contra o prefeito por 29 votos contra 16.

Desta vez, segundo a vereadora Rosa Fernandes (MDB-RJ), apenas uma pessoa vai assinar o pedido que será entregue à Comissão de Justiça do Legislativo municipal para ser votado. Para a abertura do processo, são necessários dois terços dos votos dos 51 vereadores da Casa.

— Os vereadores que votaram com o prefeito (no primeiro pedido de impeachment) sofreram um desgaste junto à população, que cobrou um posicionamento. Não sei se estão dispostos a passar por isso novamente — afirmou Rosa Fernandes.

O secretário da Casa Civil, Paulo Messina, lamentou a estratégia da oposição, e disse que estão “banalizando” uma ferramenta importante da democracia:

— A Câmara também é a minha Casa. Fico muito triste de ver como que, cada vez mais, alguns vereadores estão banalizando instrumentos importantes e sérios da cidade. Pedir o mandato de alguém tem que ser por motivo muito sério. Senão, você banaliza as leis puramente por política. A CPI, um instrumento que a população diz que acaba sempre em pizza, já está banalizada. E, agora, estão banalizando também as investigações de impeachment.

Messina citou o episódio da ex-deputada Janira Rocha, que era do PSOL e foi expulsa após ser acusada de contratar funcionários fantasmas para seu gabinete e obrigar servidores a devolver salários: — Deixaram a Janira terminar o mandato e se reeleger. Se o vereador quiser fazer uma investigação ou denúncias ao MP e ao Tribunal de Contas, há vários mecanismos sem ser nesse desespero do processo eleitoral. Está todo mundo desesperado para tentar se eleger.