Título: Fraude em banco não é pequena, diz Tombini
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 06/06/2012, Economia, p. 10

Um dia depois de intervir no Cruzeiro do Sul, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, foi à Câmara dos Deputados prestar contas dos trabalhos do BC. Em meio à sabatina, admitiu que a suposta fraude na instituição controlada pela família Índio da Costa "não é pequena, tanto que foi" decretado o Regime de Administração Temporário Especial (Raet). Segundo ele, o fim do processo de reorganização da entidade financeira pode terminar ainda com uma solução de mercado, ou seja, a compra do banco por outro mais capitalizado.

Tombini discorreu sobre a solidez dos pequenos e médios bancos e descartou uma crise no segmento. Garantiu que a situação do Cruzeiro do Sul é pontual e que não há risco de ela se propagar pelo sistema. No meio do discurso, foi interpelado pelo deputado federal Rodrigo Maia (DEM/RJ). "Vossa Senhoria acha uma fraude de R$ 1,3 bilhão pequena em país com tantas desigualdades como o nosso?" — questionou o parlamentar. O presidente do BC respondeu de imediato: "Tanto não é que decretamos, desde ontem (segunda-feira), o Regime de Administração Especial Temporário na instituição que Vossa Excelência menciona".

Após constatar um rombo de R$ 1,3 bilhão, encoberto por 300 mil empréstimos que seriam fictícios, o Banco Central decidiu, na última segunda-feira, tirar o controle do banco da família Índio da Costa e afastou 13 administradores. Além disso, bloqueou os bens dos executivos da instituição. No entanto, o verdadeiro tamanho dos prejuízos ainda será calculado por um auditoria. Tombini frisou que, apesar de episódios recentes em que bancos pequenos e médios foram fechados, ou passaram por algum tipo de intervenção, o segmento registrou no primeiro trimestre lucro de R$ 1,6 bilhão — cerca de 11% dos resultados de todo o sistema.

Atividade O presidente do Banco Central defendeu o trabalho da equipe econômica na missão de fazer o país retomar o crescimento, mas admitiu que a expansão de apenas 0,2% da economia no primeiro trimestre ficou aquém do esperado. Ele deu a entender que a instituição deve revisar no próximo Relatório Trimestral de Inflação, no fim de junho, a expectativa de 3,5% de aumento para o Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas produzidas) em 2012, mas não antecipou um valor. Argumentou também que, no segundo semestre, o país deve avançar a taxas mais robustas. "Estamos no caminho certo da estabilidade monetária. Não é por outra razão que o BC vem reduzindo juros desde agosto, pois a economia brasileira vem crescendo abaixo do seu potencial", afirmou.

Entre os motivos para se prever um reaquecimento da atividade nos próximos meses, Tombini citou medidas pontuais adotadas pelo governo este ano, como as desonerações tributárias para o segmento automotivo. "Tivemos iniciativas importantes, como a redução tributária de alguns setores, de investimentos, e ainda estão em estudo duas medidas, a desoneração da energia elétrica e a transformação do PIS e do Cofins", disse. "A desoneração da energia, se possível, terá impacto amplo na economia nacional, ajudando no processo de aumento da competitividade brasileira", defendeu.

O chefe da autoridade monetária lembrou ainda que houve um processo de revisão do crescimento global e que o BC já havia percebido essa tendência em 2011, quando deu início ao processo de afrouxamento monetário. Criticado pelos parlamentares oposicionistas quanto à liberação de crédito e ao avanço da inadimplência, Tombini afirmou que o consumo é a parte mais importante da economia. "O que move a economia, dois terços dela, é o consumo", afirmou. "Então o consumo tem de ser cuidado. Com a incorporação de 35 a 40 milhões de pessoas na classe média, criamos um mercado respeitado. Para incentivar o investimento privado, é preciso que ele continue a crescer", argumentou.