O Estado de São Paulo, n. 45628, 20/09/2018. Política, p. A6

 

Medo e indignação

William Waack
20/09/2018

 

 

Está bem claro que nesta eleição vai se decidir contra alguma coisa, e não por alguma coisa. A maioria do eleitorado é a cara do fenômeno dos dispostos a romper “com o que está aí”. Provavelmente, encerra-se o período histórico iniciado com a saída do regime autoritário e a promulgação da Constituição de 1988. As grandes forças e o sentido político que se sobressaem nesta reta final da eleição claramente consideram obsoletos os sistemas político e boa parte das instituições que ali se consolidaram.

Alguns elementos que indicam o futuro próximo são bastante óbvios. A tendência do eleitorado em direção a figuras autoritárias é o mais notável desses elementos. O líder das pesquisas, Jair Bolsonaro, diz que resolve tudo praticamente no tapa, enquanto a agremiação política que parece, no momento, a que vai disputar o segundo turno com ele, o PT da corrupção, é o símbolo perfeito para a constatação de que enorme número de brasileiros não entende quais ideias erradas, entre elas a de que vontade política tudo resolve, levaram o País ao desastre. Estamos presenciando o enterro do “sonho” social-democrata tipo punho de renda do tucanato. O que havia de social-democracia no PT já havia sido sepultado pela avalanche de corrupção, cinismo e mentira.

Não existe neste momento um “centro”. O eleitorado raivoso clama por uma solução rápida – que a magnitude dos problemas enfrentados sugere ser impossível, mas não importa. Esse mesmo espírito do “vamos chutar o pau da barraca” prefere sonhar com passos para conter a crise que venham de fora da política, ou que sejam anunciados como soluções vindas de “fora do sistema”. Em outras palavras, e isso é bastante preocupante, há uma enorme aceitação da promessa de se resolver questões (como o déficit fiscal, que criaria perdedores por toda parte) sem considerar a necessidade de compromissos e de articulação política muito mais abrangentes do que conseguir 308 votos para maiorias na Camara dos Deputados.

Há uma imensa desconfiança em relação às instituições e uma das mais recentes a serem devastadoramente atingidas é a da imprensa em geral, e dos grandes grupos de comunicação televisiva em especial. É assombroso como o jogo se inverteu, e em que velocidade: atacar esses colossos que antes eram capazes de determinar o futuro de políticos é o que hoje confere estatura a políticos, e vários se dedicam com êxito a lucrar em prestígio e simpatia no eleitorado fazendo uso em causa própria dessa espantosa perda de credibilidade (em boa medida, por cegueira política e covardia de dirigentes).

Numa sociedade com índices espantosos de violência, e alguns sinais graves de anomia (como na greve dos caminhoneiros), não deveria causar espanto algum a força com que medo e indignação empurram a candidatura de Jair Bolsonaro – e um atentado ter influenciado tanto a disputa.

Não me parece que o ex-capitão seja o criador da onda que está surfando – até agora com boa vantagem sobre os rivais. Talvez ele seja a expressão acabada de que o bom mocismo, o politicamente correto tivessem sido apenas delírios de elites dedicadas a si mesmas e vivendo em bolhas confortáveis em meio a um país pobre, desigual, ignorante e atrasado (basicamente as mesmas mazelas enfrentadas pela geração que escreveu a Constituição de 88).

O atraso, o retrocesso, o desastre e os malefícios trazidos durante os 13 anos de populismo irresponsável do lulopetismo já conhecemos bastante bem. Para onde vamos agora é uma completa incógnita. O que sairá do que acredito ser a destruição da política brasileira tal como a conhecemos por mais de 30 anos ninguém sabe.

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Justiça autoriza psiquiatra para avaliar Adelio

Constança Rezende

20/09/2018

 

 

Eleições 2018 Investigação / Defesa quer usar laudo para pedir teste de sanidade mensal de agressor de Bolsonaro

A Justiça Fede ralem Juiz de Fora( MG) autorizou que um psiquiatra indicado pela defesa de Adelio Bispo de Oliveira faça uma avaliação da saúde mental do agressor confesso do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL).

De acordo coma decisão do juiz Bruno Savino, da 3.ª Vara Federal, publicada ontem, o laudo do médico particular poderá servir para a defesa do pedreiro entrar comum novo pedido de“instauraçãode incidente de insanidade ”. Trata-sede um exame médico-legal do investigado, previsto no Código de Processo Penal.

O primeiro pedido de instauração de incidente de insanidade foi negado por Savino, que avaliou que não existiam nos autos indícios da alegada insanidade do investigado. Por isso, foi facultada à defesa a apresentação de laudo médico particular a fim de embasar novo requerimento de instauração de incidente de insanidade.

O ofício foi encaminhado pela Justiça à direção da Penitenciária Federal em Campo Grande, onde Adelio está preso. O objetivo é que seja agendado dia e horário para a realização da consulta psiquiátrica pelo médico indicado pela defesa.

Quando houve o primeiro pedido, o Ministério Público Federal (MPF) se manifestou pelo indeferimento. “Como ressaltado pelo MPF, não há laudos, declarações, recibos de honorários ou qualquer outro documento idôneo”, afirmou o juiz, na ocasião.

Câmara. O erro de recepcionista terceirizado da Câmara levou a Polícia Legislativa a abrir investigação para apurar se uma fraude havia sido cometida nos registros de entrada e saída da Casa envolvendo Adelio. O sistema havia registrado duas entradas do agressor no mesmo dia do ataque, em 6 de setembro. Porém, os dados mostravam que ele teria entrado cerca de 4 horas depois do ocorrido, quando já estava preso.

Segundo o diretor da Polícia Legislativa da Câmara, Paul Pierre Deeter, o caso foi esclarecido ontem: ao checar se havia alguma informação de que o autor da facada já teria estado no Congresso anteriormente, o recepcionista teria inserido por engano o nome de Adelio no sistema. Deeter disse que não houve má-fé por parte do funcionário.